O Espectro do Fascismo – “Escola sem Partido” e a Neutralização da Juventude

Você está visualizando atualmente O Espectro do Fascismo – “Escola sem Partido” e a Neutralização da Juventude

28304421125_3c2bc326bb_zUm espectro ronda o Brasil – o espectro do fascismo. Todos os poderes do velho Brasil unem-se em uma santa aliança para conjura-lo: O pastor e o interino, Eduardo Cunha e Cunha Lima, liberais paulistas e polícias cariocas. Não há, porém, um instrumento nitidamente fascista, como um partido ou organização de cunho chauvinista, mas um fascismo pulverizado, característica esta que Florestan Fernandes dizia típica da América Latina. Para encontrá-lo basta olhar atentamente ao conteúdo das bandeiras conservadoras e reacionárias, as quais, sob uma máscara que transparece segurança e tradição, escondem os mais diversos horrores à liberdade humana.

Não é difícil compreender o porquê de a juventude ser um alvo central da escalada fascista. Mesmo na cultura popular burguesa, encontramos uma relação quase que natural entre elementos como transgressão, rebeldia, transformação e paixão e o período da juventude. Enquanto realidade histórica, essa fase da vida tem sido marcada por profundos processos de desconstrução, revisão, e principalmente, de revolução. E se nesse momento é natural que ocorra o desprendimento com as velhas estruturas sociais da infância, como não perceber que uma educação crítica e libertária poderia expandir todo esse sentimento em uma massiva bomba social, capaz de destruir essa sociedade injusta para pôr uma nova em seu lugar?

Os donos do poder sabem bem que dormem junto a inimigos que, embora uns permaneçam em sono profundo e outros ainda consigam ser controlados, só precisam de algumas faíscas para incendiar todo o lugar. Nessa tensão dialética, planejam neutralizar toda a forma de consciência, todo elemento questionador, toda a capacidade de pensar criticamente a realidade. Se para Paulo Freire educar é permitir a construção mútua do saber enquanto espaço de produção de autonomia, a manutenção dos privilégios e regalias da elite minoritária depende do aniquilamento dessa pedagogia libertária.

O projeto “Escola sem Partido”, então, é a arma que as classes dominantes utilizam para exterminar de vez o perigo da liberdade. Sua estrutura consagra bem o que George Orwell denominou de duplipensamento: a crença irrefutável de que duas ideias contraditórias entre si são verdadeiras ao mesmo tempo. Se em “1984” o “Ministério do Amor” era o encarregado pela tortura, e o “Ministério da Paz” responsável pela guerra, o “Escola sem Partido” se trata, unicamente, da escola de um partido só – como bem disse a professora Gabriela Viola. Ao apregoar que há um processo de doutrinação ideológica realizado nas escolas por professores comunistas, fazem, na verdade, uma doutrinação ideológica contrarrevolucionária, antiprogressista. Materializam o que a distopia orwelliana chamou de crime-pensamento. Para a bancada BBB (Bala, Bíblia e Boi), é proibido pensar por si mesmo. E para que tenham êxito em permanecer num mundo dócil e domesticado, é preciso limitar e controlar o pensamento desde cedo, adestrando na juventude para criar adultos engaiolados.

O que sobra, então, a nós que não temos os aparelhos institucionais, mas ousadamente permanecemos na luta contra os jornais dos empresários, os fuzis da polícia, as canetas dos juízes, os palanques dos deputados, os juros dos banqueiros, o capital dos industriais, as terras dos latifundiários e os templos dos sacerdotes? Sobramos nós a nós mesmos. Se não tivermos fogo em nossas mãos, arderemos o corpo em chamas, inflamaremos os corações, as mentes e as almas. E assim incendiaremos a ameaça fascista que quer nos calar: pois todo o poder não é páreo para a força de todas as fraquezas.

Nossa rebeldia é o povo no poder. Juventude que ousa lutar constrói o poder popular!