O Crime Ambiental da Samarco em Mariana (MG) e a urgente necessidade de politizar a Questão Ambiental

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André Gepeto, do Levante em Goiais

No cenário mundial, o Brasil sempre ocupou o papel de fornecedor de matérias-primas para os países desenvolvidos. Nessa injusta Divisão Internacional do Trabalho, a América Latina e a Africa têm suas riquezas expoliadas para beneficiamento nas indústrias dos países ricos. A Ásia, de forma semelhante, é vista como um exército de trabalharores dispostos a receber pouco, com intensas horas de trabalho e raros direitos trabalhistas.
Da abundância que brota das terras brasileiras é que os latifundiários e empresas mineradoras enchem seus bolsos. Desde a “descoberta” com a extração do pau-brasil, passando pelos engenhos de cana que se instalaram no litoral até as bandeiras rumando para o interior em busca de metais preciosos, pouca coisa mudou. Dentre os principais produtos exportados pelo Brasil (dados de janeiro de 2015) estão: Minério de ferro, Óleo bruto de petróleo, Açúcar de cana bruto, Milho em grão, Café cru em grão e Celulose, respectivamente.

Aqueles que hoje possuem dinheiro e poder continuam com a mesma cabeça dos colonizadores de séculos atrás. Nunca se propuseram a abrir mão de ostentar seus privilégios para planejar um futuro melhor para o país. Se antes tinham escravos, hoje têm trabalhadores que podem demitir em momentos de crise e recontratar quando a crise passar. Tudo é justificável em nome do superavit da balança.

Acontece que hoje em dia as proporções e as velocidades aumentaram. O amadurecimento de uma planta pode ser acelerado por um agrotóxico, uma colheitareira pode colher mais de 2.000 sacas de soja em um dia. Da mesma forma com a mineração. Com automóveis de dezenas de metros de altura(!) e crateras com centenas de metros de profundidade, a mineração é considerada a atividade humana mais impactante ao meio ambiente.

Podendo comparar-se talvez à uma guerra com utilização de bombas potentes, a mineração, do ponto de vista ambiental, impacta a terra, o ar, a água e a biosfera enormemente, algumas vezes de forma irreversível, como na tragédia que ocorreu na última quinta, dia 5, em Mariana (MG). Com o rompimento de duas barragens de rejeitos de mineração de ferro, a grandeza da catástrofe pode ser observada com imagens aéreas do trajeto do mar de lama, que destruiu totalmente o distrito de Bento Rodrigues, deixando mortos e desaparecidos, e que segue pelo Rio Doce, matando fauna, flora, erodindo o solo, soterrando nascentes e contaminando tudo por onde passa.

Os municípios banhados pelo Rio Doce a jusante de Mariana terão seu abastecimento de água suspensos a medida que o mar de lama chegar nos pontos de captação. Esse é o caso de Colatina e Baixo Guandú (ES), por exemplo. Como em um cenário apocalíptico, os moradores correm para armazenar água diante do futuro incerto. As duas barragens totalizam 63 bilhões de litros de água com rejeitos, ou seja, 1/3 do volume do reservatório de Guarapiranga, que abastece a cidade de São Paulo.

Estima-se que em Minas Gerais existam 700 barragens de rejeitos de mineração como essas que se romperam. Não é de surpreender, já que o estado é responsável por 67% da produção nacional de minério de ferro, seguido pelo Pará, com 29%. Neste momento em que a verdadeira face do capitalismo brasileiro retira sua máscara de empregos e desenvolvimento é tempo de refletirmos qual é o projeto que queremos para o Brasil.

Queremos continuar entregando nossas riquezas naturais para empresas que estão mais preocupadas com suas imagens “Samarco”, “Vale” e “BHP Billiton” e com a queda de suas ações na bolsa de valores? Queremos continuar com esse capitalismo que privatiza os lucros exorbitantes e socializa os desastres ambientais irreparáveis? Queremos continuar com projetos que calculam tendo a variável econômica como a mais importante, subestimando as variáveis socioambientais?

Enquanto isso, o Brasil segue sendo uma máquina de moer gente…

 

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