O que fazer diante da ofensiva conservadora?

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Mais importante do que as milhares de pessoas que foram às manifestações no dia 15 de março, é o marco que esse dia representa. Desde 1964, com as Marchas da Família com Deus pela Liberdade, que deram legitimidade social ao Golpe Militar, os setores conservadores não dirigiam um movimento de massas no Brasil. Há 50 anos a direita não disputava nas ruas o seu programa reacionário. Sabemos que estas mobilizações incorporam em alguma medida segmentos que estão insatisfeitos com o sistema político brasileiro, e que não necessariamente são ideologicamente de direita.

No entanto, diferentemente das mobilizações de Junho de 2013, em que havia uma diversidade de bandeiras, segmentos e interesses dividindo as mesmas ruas, há neste movimento um núcleo propulsor claramente identificado com ideias de direita. Este núcleo tem como objetivo desconstruir um governo legitimamente eleito a menos de 5 meses. Mais do que isso, esta ofensiva é contra qualquer representação de ideias progressistas, sendo que até mesmo uma camiseta vermelha pode ser alvo de declarações e manifestações odiosas.

Não podemos entender o dia 15 de março com as lentes que a mídia nos impõe, ou seja, esse movimento não pode ser explicado somente pela repulsa a “corrupção promovida pelo PT”. Até mesmo porque todos os grandes partidos estão envolvidos em casos recentes de corrupção. A espetacularização de alguns casos em detrimento de outros obedece a interesses políticos. Devemos entender esse movimento de indignação seletiva dentro de um processo mais amplo de ofensiva conservadora contra os projetos alternativos ao neoliberalismo.

Na América Latina há um movimento combinado, impulsionado pelo Imperialismo norte-americano em aliança com setores das elites locais, de desestabilização dos governos progressistas, em especial na Venezuela, na Argentina, e agora no Brasil. Ainda que haja diferença entre os projetos que governam esses 3 países, há uma assustadora coincidência nas formas de deslegitimar os mesmos.

Esta desestabilização tem sido promovida no plano econômico, empurrando a crise econômica que atingiu os países centrais para os países periféricos. No plano ideológico, há uma campanha sistemática irradiada pelos grandes meios de comunicação disseminando uma visão de mundo conservadora, coerente com os interesses do mercado. No plano político, essa ofensiva atua tanto por dentro das instituições, quanto por fora, estimulando mobilizações massivas de caráter oposicionista.

No Brasil, esse processo de desestabilização operado simultaneamente de fora e de dentro do país, está tendo seu estopim com a operação Lava-Jato, através da qual a mídia busca criminalizar o PT, criando as condições políticas para o Impeachment. Atuando dessa maneira, a mídia burguesa oferece, consequentemente, condições para o retorno da política neoliberal encabeçada pelo PSDB.

Não bastasse o cerco conservador, o governo acuado tem reagido de forma totalmente equivocada, contribuindo para municiar as forças conservadoras no processo de desgaste político. Desde a posse, tenta resolver a instabilidade política, cedendo parcelas cada vez maiores de poder para os “achacadores” do congresso. Do ponto de vista econômico, apresentou como saída para o quadro recessivo uma série de medidas que prejudicam os trabalhadores – em especial a juventude, e as políticas sociais. Do ponto de vista ideológico, não esboça qualquer reação.

Diante desse cenário complexo, como devemos nos posicionar? Sabemos os limites do projeto que está em curso nos últimos anos no Brasil, contudo, impedir o avanço da ameaça golpista é dever de todos que estiverem comprometidos com a democracia e com o povo brasileiro. A resistência a ofensiva conservadora que se impõe não apenas sobre o PT, mas sobre todas as forças progressistas, passa por assegurar a legitimidade desse mandato obtido nas eleições de 2014, além de denunciar todas as iniciativas golpistas.

No entanto, defender a legitimidade de Dilma não significa que devemos aceitar passivamente as concessões políticas desse governo, em especial o “ajuste fiscal” operado desde o início do atual mandato. Devemos lutar contra qualquer redução de direitos. Se há necessidade de “ajustes”, que sejam aplicados sobre os setores mais privilegiados, e não sobre o povo.

            Por fim, devemos apresentar uma saída para esta crise política que seja realmente profunda. O impeachment é a “saída” reacionária e golpista. A Reforma Política de Eduardo Cunha que será votada no congresso, representa a institucionalização da corrupção no nosso sistema político. Portanto, a única forma de reestabelecermos as bases democráticas de nossas instituições políticas é através de uma Constituinte.

            As ruas sempre foram o palco principal da nossa política, não a deixemos para os conservadores. A luta está só começando.

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