Cartas compromisso

Combater o fascismo, construindo um Brasil popular

Ato em Copacabana. 4º Acampamento Nacional do Levante | Foto: Matheus Alves @imatheusalves

Carta-compromisso do IV Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude

Das periferias, escolas e universidades, 4 mil jovens de todos os cantos do Brasil, reunidos no IV Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude, no Rio de Janeiro, entre os dias 14 e 17 de novembro de 2024, assumiram, mais uma vez, o compromisso com a construção de um Projeto Popular para o país. Somos jovens da classe trabalhadora, mulheres, LGBTI+, negras e negros, indígenas, quilombolas, do campo e da cidade, em luta contra o sistema capitalista, racista e patriarcal, que nos explora e oprime.

Foto: Guilherme Gandolfi @guifrodu

Vivemos em um mundo em transição, marcado pelas crises econômica, social, política e ambiental, em que o capitalismo, para se manter de pé, intensifica as guerras contra os povos, a exploração da classe trabalhadora e a destruição do meio ambiente.

Em sua fase neoliberal,  o capital se une ao militarismo e à xenofobia, provocando guerras e conflitos ao redor do mundo, com objetivo de retomar suas altas taxas de lucro. Como consequência, do Brasil à Palestina, são milhares de vítimas de balas, da fome e da ausência de direitos fundamentais. As mesma armas que matam o povo palestino são as que exterminam a juventude negra nas favelas brasileiras.

Foto: Guilherme Gandolfi @guifrodu

Na periferia do capitalismo, nosso país está na mira do imperialismo norte-americano, que, tendo sua hegemonia em declínio, intensifica suas investidas para impedir que o povo brasileiro construa um projeto de soberania e desenvolvimento para nossa nação. Aos Estados Unidos e a seus aliados estratégicos interessa que o Brasil siga em uma posição subordinada, mas a juventude brasileira diz não. Faremos nossa história com as nossas próprias mãos.

É diante desse contexto de crise que se dá o crescimento da extrema direita ao redor do mundo. No Brasil, derrotamos esse segmento nas urnas em 2022, com a eleição Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda assim, o enfrentamento ao neofascismo e ao neoliberalismo segue sendo a principal tarefa de nossa geração.

Os governos de Michel Temer (MDB) e de Jair Bolsonaro (PL) deixaram como legado a volta da fome, o aumento da violência, a redução dos investimentos em educação e saúde, a privatização dos serviços públicos, a precarização do mundo do trabalho e, consequentemente, a perda de perspectiva de futuro para a juventude brasileira. Mas nós nos desafiamos a não deixar de sonhar.

Nossos inimigos tem como uma de suas armas a disputa de valores na sociedade, investindo politicamente e financeiramente na batalha das ideias. Por isso, sabemos que a luta ideológica é uma das principais tarefas para avançarmos no enfrentamento à extrema direita no Brasil. Porém, a defesa da democracia não é abstrata. Disputamos as mentes e corações por meio das ações concretas e da solidariedade. E cobramos do Estado que priorize as necessidades populares.

Com apenas 12 anos de existência, o Levante Popular da Juventude teve um papel destacado nas principais lutas do último período. A mesma organização que escrachou os torturadores da ditadura militar 2012, ano de nossa nacionalização, denunciou os golpistas do 8 de janeiro de 2023. Denunciamos os inimigos do Brasil, de Eduardo Cunha a Jair Bolsonaro. Brotamos em cada periferia do país, organizando a juventude por meio da cultura,  construímos as cozinhas populares contra a fome, impulsionamos a construção da rede Podemos + de cursinhos populares, lutamos em defesa da educação pública e pela democratização do ensino superior.

Diante do atual contexto, não basta administrar a crise. Precisamos ter iniciativa e retomar o debate sobre o projeto de país que queremos e necessitamos. Esse projeto é socialista, feminista, antirracista e popular.

Para conquistarmos vitórias para a juventude brasileira, precisamos apostar na organização, na formação e na luta. Em cada escola, universidade e periferia, queremos um Levante em luta. Por isso, no próximo período, apontamos a centralidade de crescer, enraizar e lutar. A organização coletiva é a saída concreta para a superação do capitalismo.

Para avançarmos na formação de uma nova geração de lutadores do povo, precisamos retomar a pedagogia da educação popular, combinando teoria e prática, e convocando a juventude a elaborar, refletir e ser protagonista na transformação da realidade.

Para construir a revolução brasileira, precisamos de milhões de jovens conscientes e organizados, por isso, apostamos na agitação e propaganda e na comunicação popular, aliando a criatividade, a arte e a cultura,  para denunciar as contradições da sociedade capitalista e anunciar o nosso projeto.

Foto: Matheus Alves @imatheusalves

Como nos ensinou Carlos Marighella, a ação faz a organização! Para derrotar o fascismo e a extrema direita no país, nos comprometemos com as seguintes bandeiras:

  1. Que os ricos paguem a conta!

No Brasil, 1% da população concentra 63% da riqueza. Taxar os super-ricos é uma necessidade no enfrentamento ao neoliberalismo e é uma medida fundamental para combater as desigualdades no país. Se são os ricos que financiam a miséria e as catástrofes climáticas, são eles que devem pagar essa conta.

  1. Por uma educação popular e libertadora!

Paulo Freire nos ensinou que a educação sozinha não muda o mundo, mas, sem ela, tampouco o mundo muda. Lutamos contra o Novo Ensino Médio, contra as escolas cívico-militares e a privatização do ensino básico nos estados. Também denunciamos os cortes na educação e o desmonte das universidades públicas. Queremos uma reforma universitária que amplie o acesso e a permanência da juventude no ensino superior e aponte para instituições socialmente referenciadas.

  1. Por um SUS do tamanho do povo brasileiro!

O SUS foi fruto da organização do povo brasileiro e é nossa tarefa dar continuidade a esse legado.  Devemos defender e fortalecer o SUS contra os interesses das grandes empresas, que tratam nossas vidas como mercadoria. A participação popular e o controle social no SUS são fundamentais. Por isso, defendemos a formação de milhares de agentes de educação popular em saúde e a construção de estágios de vivência no SUS.

  1. Por trabalho digno para a juventude!

Com a crise do sistema capitalista, a juventude é cada vez mais superexplorada no mundo do trabalho.  Lutamos pelo fim da escala 6×1, por direitos aos trabalhadores e trabalhadoras e pela regulamentação do mundo do trabalho. Defendemos uma vida digna para a juventude brasileira e que ela trabalhe com direitos.

  1. Combater a crise climática e construir uma transição justa e popular!

O capital em crise segue avançando, predatoriamente, sobre os recursos da natureza, destruindo a terra, as águas e o ar. No Brasil, o enfrentamento à crise climática passa pela luta contra o modelo agroexportador e por uma transição energética justa e popular.

  1. Demarcação já!

A violência e o genocídio contra os povos originários é uma marca estrutural da formação do país. Reafirmamos nosso compromisso com a demarcação de terras indígenas e quilombolas, marchando contra o Marco Temporal e a violência do agronegócio, em especial contra os povos originários.

  1. Contra a fome e em defesa da reforma agrária!

Nas periferias de nosso país, a luta contra a fome é uma prioridade. A produção de alimentos saudáveis é central para a garantia da soberania alimentar. Queremos reforma agrária popular e defendemos a manutenção e a ampliação das cozinhas populares, como forma de combate à fome e de geração de renda.

  1. Contra o machismo, o racismo e lgbtfobia!

O racismo, o machismo e a lgbtfobia são estruturais do capitalismo brasileiro. O combate a todas essas violências é cotidiano, ao passo que construímos uma agenda propositiva de reparação e ações afirmativas que nos aproximem de uma sociedade livre de opressão e exploração.

  1. Contra o extermínio da juventude e por um outro modelo de segurança pública!

Defendemos um modelo de segurança pública que preserve a vida e os direitos. Por isso, somos contra a violência policial nas periferias, que tem como alvo principal a juventude negra.

  1. Por uma comunicação popular de massas!

A disputa das ideias na sociedade exige a luta por uma comunicação popular e de massas para o povo brasileiro. Devemos ocupar as ruas e  as redes, contribuindo para a disputa de hegemonia, a partir do uso de diversas linguagens que estão no cotidiano da juventude.

  1. Sem anistia aos golpistas!

Os que atacam a democracia brasileira e impedem a juventude de sonhar não podem ser perdoados. A impunidade dos arquitetos do golpe militar ajudou a permitir que, ainda nos dias de hoje, setores conservadores defendam de forma aberta o autoritarismo violento. Não podemos repetir esse erro. Por isso, lutamos contra a anistia aos golpistas do 8 de janeiro de 2023.

  1. Solidariedade aos povos do mundo!

O capitalismo é um sistema global e a sua superação só será possível a partir da cooperação entre os povos. Por isso, nos somamos às lutas de nossos irmãos e irmãs que, em cada parte do mundo, travam corajosas batalhas pela transformação radical de nossa sociedade. Reafirmamos nosso compromisso com a soberania e o direito de autodeterminação dos povos e com a luta dos palestinos, cubanos e venezuelanos.

Juventude quer viver, a nossa luta é pelo povo no poder!

4º Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude,
17 de novembro de 2018, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

ENCONTRO NACIONAL DO LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE

 

Foto: Dule Maria / @dulemaria

Em 10 anos de história, nós, do Levante Popular da Juventude, nos comprometemos com a luta do povo brasileiro e com as lutas dos povos de todo o mundo que sofrem as bárbaras investidas da face mais perversa do capital, o imperialismo. Realizamos escrachos e construímos acampamentos, reunimos milhares de jovens de Norte a Sul do Brasil, organizando a juventude nos mais diversos territórios. Adentramos universidades, escolas e periferias, afirmando a diversidade da juventude da classe trabalhadora e a importância da unidade da esquerda.

O legado de uma década de luta e de mobilização não é só nosso. A construção de três acampamentos nacionais e diversos acampamentos estaduais, cursos de formação, escrachos e marchas, é fruto do acúmulo de lutas das organizações e dos movimentos populares que nos antecederam no Brasil, na América Latina e no mundo. Combinamos a ousadia da juventude com a experiência dos imprescindíveis.

Construímos o melhor de nós e o necessário para o Brasil. Em 10 anos de vida, lutamos por um Brasil para os brasileiros. Escrachamos os torturadores da ditadura e os golpistas Eduardo Cunha, Michel Temer e Bolsonaro. Lutamos contra a redução da maioridade penal, os cortes na educação, contra o golpe de 2016 e a reforma trabalhista. Defendemos a democracia e a liberdade de Luiz Inácio Lula da Silva. Denunciamos o projeto de morte de Bolsonaro na pandemia, defendendo o SUS e a ciência como patrimônios do povo brasileiro. Exigimos o direito à vida de milhares de jovens, mulheres, negros e negras, lésbicas, gays, bissexuais, trans e travestis.

Sacudimos a União Nacional dos Estudantes, afirmando que agitação e propaganda é política e que a unidade é a bandeira da esperança. Construímos a rede de cursinhos Podemos Mais, o Festival da Resistência, ações de solidariedade da Nós por Nós e a Escola Nacional Paulo Freire. Praticamos a solidariedade e reafirmamos que o que nos guia é o trabalho de base com o povo brasileiro, caminhando na construção de um projeto popular para o Brasil. Nos solidarizamos com as lutas dos povos do mundo, compomos brigadas internacionalistas, voltando sempre mais convictos de nosso compromisso com a luta revolucionária. 

Foto: Emilly Firmino / @caaajuina

Em mais um passo de nossa construção, reunimos no nosso Encontro Nacional, entre os dias 16 a 19 de junho de 2022, em Niterói, 1200 militantes de 25 estados do Brasil. Nos reencontramos com a coragem de jovens militantes que resistem a um dos períodos mais difíceis e assombrosos de nosso país. Rememoramos nossas lutas, ligamos passado e presente, e, em coletivo, nos fortalecemos para planejar o futuro de uma juventude que insiste em dizer: não baixamos a cabeça para ninguém. Transformamos nossos medos e nossos sonhos no Programa Popular para Juventude, afirmando que a juventude quer viver. E mais uma vez fomos às ruas e gritamos: Racismo mata! Basta de chacina! Basta de extermínio da juventude preta! Se o Brasil não for bom para o jovem negro, não será bom para nenhum de nós. 

A juventude no Brasil e no mundo vivencia o agravamento das condições de vida e a falta de perspectiva de futuro, fruto de uma crise estrutural do capitalismo que se apresenta nas dimensões de crises econômica, política, social, ambiental e de valores. A crise deixa nítido que o capitalismo é um modo de produção que não consegue atender às necessidades fundamentais da população, sendo a juventude a mais afetada. 

Em 2016, com o golpe dado contra a presidenta Dilma e contra todo o povo brasileiro, setores da burguesia conseguiram junto ao Estado implementar uma agenda neoliberal ortodoxa, que diminuiu os direitos do povo e retrocedeu em avanços obtidos nos governos Lula e Dilma no campo da soberania, entregando nossas riquezas para o imperialismo. O golpe veio acompanhado pela fascistização da política, que se tornou mais latente a partir das eleições de 2018, resultando na perseguição da esquerda e colocando no centro da luta política do país a luta ideológica.

No governo de Bolsonaro, tivemos um aprofundamento da política econômica neoliberal e, com a crise sanitária, decorrente da pandemia da COVID-19, as condições de vida do povo brasileiro e da juventude se tornaram ainda mais precárias, com retorno da fome e da miséria, e com o aumento da exploração e da falta de emprego e de moradia. Depois de quatro anos do governo de Bolsonaro, temos um Brasil desolado e completamente empobrecido. Os jovens passaram a ocupar, cada vez mais, postos de trabalho precarizados e informais, tendo como consequência o abandono dos estudos. Como parte do projeto neofascista do bolsonarismo, o extermínio da juventude negra em seus territórios atingiu números alarmantes, decorrente do aumento da violência policial. O governo Bolsonaro tem um projeto que quer aniquilar as possibilidades de existência individual e coletiva da juventude das periferias. 

Contudo, esse cenário apresenta uma série de contradições no seio da classe dominante e abre uma janela histórica para colocarmos em disputa na sociedade um projeto comprometido com os interesses do povo. Com esse mesmo comprometimento, entendemos que, na atual conjuntura, a eleição do presidente Lula é a única saída viável para derrotar o projeto neofascista que é o bolsonarismo, e é a candidatura que tem as reais condições de representar os interesses do povo. Nos comprometemos a construir, em unidade com as demais forças de esquerda, a campanha de Lula, que terá a cara da juventude, a cara da esperança de um futuro para os jovens do Brasil. Construiremos Comitês Populares em todo o Brasil, como instrumento para eleger Lula presidente e para organizar a juventude nas periferias, nas escolas e nas universidades. Além disso, nos comprometemos com a construção do Programa Popular para Juventude como forma de apresentar propostas de políticas públicas para garantia de uma vida digna para a juventude.

A nossa luta não termina nas eleições! Caso Lula seja eleito, o próximo período nos colocará a tarefa de garantir as condições políticas para a sua posse e para a construção de medidas emergenciais que apontem para a saída da crise. Almejamos um projeto de nação que coloque nos centro reformas estruturais e só conseguiremos ocupando as ruas com a juventude e o povo organizado! 

Weslley Souza / @souz4sh

Por isso, nós nos comprometemos:

  • Em seguirmos firmes na construção do Levante Popular da Juventude, movimento que completa 10 anos de história na luta por um Brasil para os brasileiros;
  • Em avançar no trabalho de base e na organização da juventude, com centralidade na política de solidariedade; 
  • Com a construção do 4º Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude, um espaço que convoque a juventude brasileira a lutar pela transformação da realidade; 
  • Com a construção de um Programa Popular para Juventude que parta das demandas concretas da vida dos jovens brasileiros, mas que alcance também os sonhos da juventude; 
  • Em combinar as diferentes formas de luta política, aprofundando nossa atuação na luta institucional, na luta ideológica, na luta social, com especial atenção para a luta de massas; 
  • Com a construção de um projeto de nação comprometido com a soberania, com a autodeterminação dos povos, com a garantia do acesso aos bens comuns da natureza e com a vida dos povos latinoamericanos; 
  • Com a construção de um país que supere o racismo estrutural, o patriarcado, a lgbtfobia e a exploração do povo brasileiro, garantido saúde, educação, cultura, trabalho, moradia e uma vida sem violência; 
  • Com a construção dos Comitês Populares, para derrotar o bolsonarismo nas urnas e nas ruas, elegendo Lula presidente e para avançar na organização popular; 
  • Com a tarefa fundamental de reconstrução de nossa nação, defendendo e fortalecendo a democracia, para avançarmos na construção de um Projeto Popular para o Brasil.

Levante Popular da Juventude: 10 anos na luta por um Brasil para os brasileiros 

I Encontro Nacional do Levante Popular da Juventude

 19 de junho de 2022, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil

Somos sete mil jovens de todos os estados brasileiros reunidos em nosso 3º Acampamento Nacional. Somos juventude da classe trabalhadora. Somos do campo e da cidade. Somos jovens das periferias, somos estudantes das escolas e das universidades, somos trabalhadoras e trabalhadores e nos reconhecemos na pele explorada do nosso povo. Somos mulheres e homens, gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis, indígenas, quilombolas, negras e negros e carregamos na nossa história a marca da exploração e da opressão. Somos a juventude herdeira da luta do povo brasileiro e afirmamos nosso compromisso com a construção do Projeto Popular para o Brasil. Somos a juventude solidária com a luta dos povos por todo o mundo. Somos a juventude que não baixa a cabeça para ninguém e que luta incansavelmente contra mais um golpe na nossa história. Somos a juventude que encontra na sua rebeldia a força do nosso povo.

Em nossos quatro anos de história ousamos lutar de todas as maneiras possíveis e por todos os cantos do país contra aqueles que violentam e exploram o povo. Ousamos lutar escrachando os torturadores da Ditadura. Ousamos lutar devolvendo para a Rede Globo a merda que ela nos joga todos os dias. Ousamos lutar por outra forma de fazer política na construção do plebiscito por uma Constituinte do Sistema Político. Ousamos lutar quando escrachamos os golpistas e levantamos a bandeira do Fora Temer! Ousamos lutar quando pedimos a prisão de Eduardo Cunha. Mas, especialmente, ousamos lutar quando construímos um movimento nacional enraizado nos mais diversos territórios e nos propusemos a defender um projeto de vida para a juventude brasileira. Nosso 3º Acampamento Nacional é fruto de intensa construção coletiva, que acontece cotidianamente em nossos encontros de células, em nossas atividades de formação e nos incansáveis momentos de luta que canaliza a rebeldia da juventude para a conquista do poder pelo povo.

Acreditamos que o povo deve estar no poder, pois é o povo que produz, com seu suor, toda a riqueza de nossa nação e deve decidir com soberania sobre os rumos do país. Isso só será possível quando destruirmos o sistema capitalista e a sua face mais dura, o imperialismo Há pouco mais de uma semana se consumou um golpe parlamentar que retirou do governo federal a presidenta Dilma Rousseff, eleita de forma soberana por mais de 54 milhões de brasileiros. Um golpe contra a democracia e o povo, articulado pelo imperialismo estadunidense, pelas forças neoliberais, por setores do judiciário, pelo grande empresariado nacional e que tem a Rede Globo como principal porta voz.

Aqueles que exploram o povo usam o golpe para tentar restaurar o neoliberalismo no país, num movimento que se repete por toda América Latina. Querem aumentar seus lucros, retirando direitos da classe trabalhadora, privatizando e terceirizando tudo que for possível. Destruindo o meio ambiente e a soberania nacional, criminalizam todos que se levantam contra eles e disseminam morte e violência contra o povo. Para eles a nossa vida não tem valor, como não tem valor a democracia. O golpe rasgou a Constituição de 1988.

A juventude brasileira experimentou, nos últimos 14 anos, diversas conquistas sociais que possibilitaram o sonho, a esperança e o desejo de mais mudança. Somos uma geração de jovens que aprendeu a não baixar a cabeça para as injustiças e a ter orgulho de ser quem é, orgulho de vir de onde veio. Acreditar no potencial transformador da juventude é acreditar na força do povo do qual somos parte. Defender este povo é seguir em luta e não aceitar o golpe e os retrocessos.

A política não pode ser a arte do possível, reproduzindo privilégios e desigualdades, pautada em indivíduos e não em coletivos. Reinventar a política é fazer o extraordinário cotidiano, compartilhando sonhos e coletivamente os tornando possíveis. Temos o desafio de construir um novo ciclo na esquerda brasileira que supere a conciliação de classes e coloque o projeto popular na ordem do dia.

Sabemos que isso só será possível com muita unidade entre todos que lutam e resistem, porque o que nos separa é muito menor do que o que nos une. Assim, somos construtores da Frente Brasil Popular, um espaço de articulação da luta contra o golpe.

Temos consciência da nossa grande responsabilidade. Estamos vivendo momentos decisivos da nossa história e nos colocamos ativamente na construção e disputa dos rumos de nosso país. Queremos construir junto a toda juventude brasileira um novo ciclo de lutas para enfrentar as forças neoliberais. Nossa ousadia e nossa criatividade são motores para nossa ação. Não nos deixaremos esmagar e não baixaremos a cabeça. Seguiremos lutando pela democracia popular: o povo no poder. Coletivamente, nos comprometemos:

  • Com a construção cotidiana do Levante Popular da Juventude como um movimento popular demassas nacional e que contenha toda a diversidade do povo brasileiro. Nos desafiamos a organizar cada vez mais jovens para a construção de um projeto de país, melhorando sempre nossa capacidade de atuar. Cada militante tem a tarefa de organizar uma célula. Intensificando o trabalho de base, a formação política e a divisão de tarefas, voltadas para a luta.
  • Com a construção de um Programa Popular para a Juventude, que organize os dilemas queenfrentamos em nossas vidas, apontando caminhos coletivos para superá-los. Construir esse programa é entender com profundidade os problemas que vivemos e articular as diferentes violências que nos atingem. Esse programa deve ser como uma arma nas mãos da juventude para construção de força social para transformar nosso país.
  • Com a construção da unidade das forças populares e o enraizamento da Frente Brasil Popular emtodos os estados, como um importante espaço de reorganização da esquerda brasileira. Apenas a unidade entre milhões de brasileiros será capaz de construir um projeto popular para o Brasil.
  • Em lutar com todas nossas forças contra a retirada de direitos. Queremos mais educação, maiscultura, mais saúde e mais trabalho digno para nosso povo, e sabemos que isso deverá ser arrancado por nós em luta, estreitando laços com a classe trabalhadora organizada, contribuindo na organização popular, num processo que culmine na construção da Greve Geral no Brasil.
  • Com a luta pela democracia no Brasil, denunciando o golpe e seus artífices, defendendo asoberania popular, reivindicando eleições diretas para reestabelecer a democracia. Sobretudo sabemos que a realização uma Constituinte Ampla, Geral e Soberana é o caminho para avançar na democratização da sociedade e do Estado brasileiro, assegurando as transformações estruturais que nosso povo tanto precisa.

Seguimos o caminho dos povos de todo mundo que lutam por libertação. Não temos tempo para ter medo, e nos fazemos movimento em coletivo. Nossa rebeldia é construída pela indignação frente a tudo que oprime e silencia. Nossa rebeldia é construída com nosso canto, com nossas cores e com nossa alegria.

Nossa rebeldia é o povo no poder!

3º Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude,
8 de setembro de 2016, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

Somos mais de três mil jovens, de vinte e cinco estados, reunidos no II Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude. Somos jovens da periferia, do campo, das universidades públicas e particulares, secundaristas, jovens trabalhadores. Somos mulheres, gays, lésbicas, transexuais, travestis, indígenas, quilombolas, negras e negros. Somos produtores de arte e cultura, em suas mais diversas expressões, ritmos e cores. Nesse momento de encontro nacional, ousamos reafirmar o nosso compromisso com a construção do Projeto Popular para o Brasil.

Com apenas dois anos de construção nacional, realizamos inúmeras lutas, seminários de formação, centenas de acampamentos estaduais e municipais, milhares de reuniões de células. Consolidamos um movimento nacional, de massas, comprometido com a democracia popular, a sustentabilidade, o desenvolvimento, a soberania dos povos, o feminismo, o internacionalismo e a solidariedade.

Sabemos que ainda vivemos em uma sociedade dividida em classes, em permanente luta entre aqueles que exploram e as trabalhadoras e trabalhadores que têm o fruto de seu trabalho roubado. Esse é o sistema capitalista patriarcal e racista, mundialmente organizado na sua forma imperialista, que destrói a natureza, extermina a juventude negra, oprime as mulheres, invisibiliza e violenta as diversas formas de expressão da sexualidade, concentrando a riqueza e o poder nas mãos das elites.

No Brasil a mesma classe dominante há mais de 500 anos explora e oprime nosso povo, e até hoje controla o poder político, a economia e os meios de comunicação. Uma elite violenta, que não tem problema em dizimar aqueles que discordam dela, como aconteceu durante a ditadura. O golpe faz 50 anos, e as marcas do período de chumbo continuam no nosso presente: a violência policial, o monopólio da mídia e o controle das empresas sobre a política de nosso país são suas marcas mais visíveis.

Nos últimos anos, mesmo com as realizações dos governos neodesenvolvimentistas que trouxeram benefícios à população brasileira, não ocorreu nenhuma transformação estrutural na sociedade brasileira. São os limites do atual sistema político: a atual democracia brasileira não quer e não pode transformar estruturalmente o país. A elite escravocrata, ditadora e assassina permanece no poder, controlando o Congresso Nacional e o poder judiciário e não irá ceder a reformas que possam melhorar a vida do povo.

Em 2013 estivemos nas ruas junto de milhões de jovens em todo o país. Com todas as suas contradições, as manifestações de junho tiveram um caráter progressista e exigiram reformas estruturais na saúde, na educação, na mobilidade urbana e pela democratização dos meios de comunicação. Além disso, foram um marco da força e da vontade da juventude de ir às ruas lutar pelos seus sonhos, anunciando um novo ciclo de lutas sociais.

Nós do Levante somos parte deste processo e nos comprometemos com as lutas da juventude brasileira, da classe trabalhadora na mudança do atual sistema político.

Por isso, nos comprometemos:

  • Com a luta por memória, verdade e justiça. Pela revisão da Lei de Anistia e punição aos torturadores;
  • Com a luta pela democratização dos meios de comunicação e contra o monopólio da mídia,
  • Com a construção de um projeto popular pra educação. Com 10% do PIB pra educação pública, por acesso e permanência na educação infantil, fundamental e superior; por cotas raciais e sociais; pelo fim do fechamento das escolas no campo;
  • Com a luta e construção da Reforma Agrária Popular. Somente quando o campo e a cidade se unirem em torno do mesmo projeto avançaremos nas reformas estruturais e superaremos o modelo de agronegócio que assola o campo brasileiro;
  • Com a luta pelo direito à cidade. O espaço público deve ser ocupado pelo povo e para isso precisamos de transporte público de qualidade com tarifa zero.
  • Com a produção e a defesa da cultura popular brasileira, como forma de enfrentar a alienação, o individualismo e a indústria cultural que destrói a nossa diversidade.
  • Com a produção e a defesa da cultura popular brasileira, como forma de enfrentar a alienação, o individualismo e a indústria cultural que destrói a nossa diversidade.
  • Com o combate ao o machismo, pelo fim da violência contra a mulher, pela igualdade de salários e oportunidades; por creches para todas as crianças;
  • Com o combate à homofobia, por politicas publicas e lei anti-homofobia
  • Com o combate ao racismo, pela desmilitarização das PMs que promovem o extermínio da juventude negra;
  • Contra a criminalização dos movimentos sociais, pelo livre direito a organização e manifestação;
  • Com a luta por uma Constituinte exclusiva e soberana do Sistema Politico, através da realização do Plebiscito Popular.

Muito fizemos até aqui, mas temos ainda muitos desafios no caminho. Para avançar na construção do Projeto Popular, é preciso muito suor, trabalho de base, formação política e

agitação e propaganda. Construindo e multiplicando o Levante, nossa ferramenta de luta e organização. Nosso movimento deve estar voltado para a luta de massas, pois só ela pode mudar a vida da juventude e de todo o povo brasileiro. É também fundamental construir a unidade das forças populares, com humildade e generosidade, pois sabemos que a transformação da realidade é tarefa de milhões.

É nosso compromisso central seguir firmes na luta e na construção da revolução brasileira. Sabemos que o mundo novo só será construído enfrentando o desafio cotidiano da igualdade e da democracia, sem nenhuma forma de opressão. Temos certeza que nossa coragem, firmeza e trabalho coletivo nos levará à vitória.

Ousar lutar, organizando a juventude pro Projeto Popular!

II Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude,
21 de abril de 2014, Cotia, São Paulo, Brasil.

Nós, do Levante Popular da Juventude, no momento em que fundamos nossa organização, em nosso I Acampamento Nacional, com a participação de 1200 jovens de 17 estados brasileiros, nos comprometemos com a transformação profunda da realidade em que vivemos.

Enxergamos um mundo dividido entre aqueles que exploram, e as trabalhadoras e os trabalhadores que têm o fruto de seu trabalho roubado. Esse é o sistema capitalista patriarcalracista, que mundialmente estabelece as formas de organização da sociedade na sua forma imperialista. Ele cria uma relação de dominação entre culturas e povos, destrói o meio ambiente, oprime e explora as mulheres, assassina a juventude negra, silencia gays e lésbicas e tolhe, cotidianamente, todos os nossos sonhos.

O Brasil é um país de natureza e cultura fantásticas, mas carregamos as dores da escravidão, o saqueio das grandes potências, e uma história de uma elite dependente, mas que sempre concentrou o poder em suas mãos. Os meios de comunicação, a terra, a água, energia, a educação, o lazer e a oferta de saúde de qualidade ainda estão nas mãos dessa elite. Aos trabalhadores, restaram somente as periferias das grandes cidades, as encostas de morro e as beiradas de rio, extensas jornadas de trabalho e salários miseráveis; no campo, a reforma agrária e a produção de alimentos foram deixadas de lado e substituídas pela utilização de transgênicos e agrotóxicos, tudo orientado para a exportação.

Nós, jovens, estamos no meio desse furacão: no campo, nas periferias e favelas, nas escolas e universidades, no trabalho. Somos constantemente disputados pelo projeto capitalista. É em contraposição a este projeto que nos lançamos ao desafio da construção do Projeto Popular.

Por isso, nos comprometemos:

Co m a luta pela construção de uma democracia popular, que socialize com qualidade as terras, a água, a energia, os meios de comunicação, o acesso à saúde, à educação, à moradia, ao transporte.

Com a luta pela soberania, porque os povos devem tomar seu país e sua história nas mãos, sem serem sujeitados pelo imperialismo ou outros poderosos. O desenvolvimento deve ser ambientalmente sustentável e estar voltado ao interesse do povo.

Com a prática permanente de solidariedade com todos os povos que sofrem e lutam. Com atenção especial para nossos hermanos latino americanos, que carregam a mesma história de opressão e luta que nós.

Com a luta contra o machismo, na sociedade e dentro de nossa organização, pois, se os trabalhadores são explorados pelo sistema capitalista, as mulheres são duplamente oprimidas e exploradas: enquanto trabalhadoras, e enquanto mulheres, pelo sistema patriarcal. Temos que estar lado a lado com as organizações do movimento feminista no combate ao patriarcado, à violência sexista e à mercantilização do corpo e da vida das mulheres, assim como fomentar a autoorganização das mulheres do Levante.

Com a luta contra o racismo, dentro e fora de nossa organização, porque a

população preta é a mais explorada da classe trabalhadora e mesmo depois de 124 anos da falsa abolição continua sendo o alvo preferencial da violência de Estado. É necessário lutarmos junto ao movimento negro e outras organizações antirracistas para que possamos construir uma sociedade livre do racismo.

Com a luta contra a lesbofobia, a transfobia e a homofobia, também dentro e fora de nossa organização, porque não existem relações afetivas mais normais e comuns que outras, e nenhuma orientação sexual deve ser motivo para legitimar desigualdades e opressões.

Com a luta por um projeto de educação que sirva aos interesses do povo. Por isso, defendemos que exista um número suficiente de vagas tanto em creches quanto em escolas secundárias e universidades, bem como cotas sociais e raciais, no campo e na cidade. Por isso, também reivindicamos os 10% do PIB para a educação; a educação só terá qualidade se estiver voltada para os interesses do povo, atendendo todas e todos.

Com a luta por transporte público, gratuito e de qualidade, enfrentando os aumentos nos preços de passagem.

Com a luta por ampliação do acesso à cultura e ao lazer, contra sua mercantilização. Lutaremos para que existam mais possibilidades de produção e troca culturais, como música, teatro, artes visuais, cinema, dança, e tantas outras formas de expressão. Também utilizaremos da cultura e do lazer como formas de resistência, de resgate da nossa história e da nossa identidade de povo brasileiro.

Com a luta contra o trabalho precarizado e informal. A luta pela garantia e expansão dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras (exploradas duplamente, no local de trabalho e em casa) é essencial para a criação de um país menos desigual. Pela jornada de 40 horas semanais, sem a redução de salários.

Sabemos que para isso é extremamente necessária a massificação desta luta, trazendo cada vez mais jovens para o nosso projeto, porque só a juventude tem a força necessária para transformar essa sociedade. É com o trabalho coletivo, combatendo o individualismo e a estagnação, que tomaremos o futuro em nossas mãos. Esse é o caminho para a liberdade com que tanto sonhamos e precisamos para viver.

Construiremos uma organização com coerência: devemos fazer o que dizemos e dizer o que fazemos; com autonomia, construída por aqueles que trabalham no Levante; com estudo e disciplina, para dar cada passo com firmeza, conhecendo com profundidade o caminho que devemos trilhar; com o exercício de crítica e autocrítica, porque não devemos temer ou ocultar os erros, mas enfrentá¬los de frente, para, então, superá¬los.

Entendemos que serão esses compromissos que garantirão a construção do Levante Popular da Juventude, do Projeto Popular e da Revolução Socialista brasileira. A tarefa não é fácil: não esperamos ter todas as respostas nem construir tudo isso sozinhos, mas nos desafiaremos a dar tudo o que pudermos, porque devemos nos construir como a juventude que ousa lutar, que constrói alternativas e que é parte do povo brasileiro. Somente com alegria, amor e muita animação chegaremos lá!

Juventude que ousa lutar constrói o poder popular!

I Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude,
5 de fevereiro de 2012, Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil.