Viemos de 43 nações, de 4 continentes. Temos distintas culturas e experiências de vida, falamos diferentes línguas. Apesar dessa diversidade, há algo que nos unifica para além de fazermos parte de uma mesma geração: a violência sistêmica a que estamos submetidos. Essa condição conforma a nossa identidade que se expressa internacionalmente na luta, como forma de resistência da juventude ao imperialismo.
Reunidos na cidade de Maricá no Rio de Janeiro – Brasil entre os dias 21 e 25 de junho de 2016, nós, jovens lutadores de mais 115 organizações, realizamos o Encontro Internacional da Juventude em Luta – Mulheres de Kobane. Nestes dias reafirmamos os nossos compromisso de construção de uma articulação internacional da Juventude em Luta, de caráter anti-imperialista, anticolonialista, anticapitalista, antineoliberal e antipatriarcal.
Vivemos um período de múltiplas crises, que colocam em cheque o sistema capitalista tal como conhecemos. Presenciamos a agudização da crise econômica mundial, que teve início em 2008, no centro do sistema, e agora se espalha globalmente, provocando aumento brutal do desemprego, da miséria, fluxos massivos de imigração. Apesar das guerras promovidas pelo imperialismo como forma de acelerar a atividade econômica e ampliar o domínio e a exploração de territórios e recursos, ainda não há uma perspectiva de saída para essa crise. Com isso, a violência do capital potencializa a crise social, provocando repressão policial, genocídio das populações mais pobres, em especial da juventude.
Essa crise econômica impacta ainda mais o nosso ecossistema, colocando em risco a sobrevivência do planeta. A exploração desenfreada e incessante por parte das empresas transnacionais em busca da recomposição de suas taxas de lucro acentuam a crise ambiental.
Além disso, estamos vivenciando uma crise de natureza política, na medida em que as instituições do Estado perdem a legitimidade perante a sociedade, pois cada vez menos respondem as demandas da população. Esta crise política também é evidenciada na incapacidade do Estado em regular a economia. Portanto, o que vemos é uma participação mínima ou inexistente dos povos na tomada de decisão sobre os rumos da sociedade e a presença dominante do capital nas esferas de poder. A conjugação dessas dimensões afetam os valores humanos, sendo estes preteridos por valores antissociais tais como o a ganância, o individualismo, o consumismo e o egoísmo.
Assim, como a burguesia encontra dificuldades para construir saídas para esta situação crítica, as forças populares não conseguem apresentar um projeto alternativo de sociedade.
Contudo, esse cenário desafiador, traz consigo a possibilidade de mudanças, tamanho o grau de instabilidade do sistema. Cabe a nós juventude em luta, construir um projeto de enfrentamento ao imperialismo e de superação da violência do capital. Em tempos de mudanças o que decide o rumo das sociedades é a capacidade de fazermos lutas de massas e desenvolvermos processos organizativos dos povos.
Diante da ofensiva do imperialismo mais do que nunca é fundamental a construção da solidariedade entre os povos. Nesse sentido a consolidação da articulação internacional Juventud en Lucha torna-se um imperativo. Se o nosso inimigo atua globalmente, não podemos resistir localmente, é preciso construir processos de luta que enfrentem o sistema em âmbito mundial.
Após compartilharmos nossas análises da realidade, experiências de luta e resistência, apontamos para as seguintes definições comuns:
Eixos de Luta:
- Contra degradação ambiental e da apropriação privada da natureza, em defesa dos territórios e dos bens comuns.
- Contra as guerras imperialistas e a exploração das empresas transnacionais, em defesa da soberania dos povos.
- Contra o extermínio da juventude (juvenicídio) e a militarização dos territórios, em defesa da vida.
- Contra a opressão à negros e negras, mulheres, LGBT ́s, indígenas, em defesa da igualdade e da equidade.
- Contra as politicas neoliberais, em defesa dos direitos sociais (educação, cultura, saúde, transporte, moradia, etc) e por um projeto politico construído pelo povo.
- Contra a precarização e a super-exploração da força de trabalho da juventude, em defesa do trabalho digno, e pela construção de alternativas econômicas.
- Contra o monopólio das comunicações e da difusão cultural, em defesa da democratização das comunicações e valorização das culturas locais.
Desafios Políticos:
- Devemos retomar o método do trabalho de base, para politizar, mobilizar e organizar o povo e a juventude. Devemos organizar a juventude da classe trabalhadora, que é o polo mais afetado pela ofensiva imperialista, e ao mesmo tempo o polo mais dinâmico da luta de classes;
- Em tempos de crise é urgente construirmos ferramentas para denunciar o projeto do inimigo e, ao mesmo tempo, anunciar o nosso, através da agitação e propaganda. Construindo novas formas de comunicação com o povo, a partir de nossa força criativa. Pois não basta apenas negar o projeto do inimigo, é preciso anunciar um novo projeto de sociedade;
- Avançar na formação política e ideológica da juventude, compreendendo que somente através da formação politica e ideológica asseguraremos maior firmeza no horizonte estratégico;
- É preciso impulsionar lutas de massas. São as mobilizações massivas que podem alterar a correlação de forças. Nossa força esta na quantidade de pessoas que organizamos e colocamos nas ruas. Se o inimigo se fortalece na concentração do capital, no oligopólio da mídia e no aparato militar, nós nos fortalecemos com o povo nas ruas.
- Construir unidade entre as forças populares, tanto nos nossos países como em âmbito internacional. Precisamos nos desafiar a construções unitárias. Não podemos alimentar nossas pequenas diferenças em detrimento da unidade. É preciso organizar os espaços unitários para que se fortaleça a luta contra o inimigo comum;
- Aproveitar a força criativa da juventude, para construir ferramentas inovadoras de organização deste segmento social, através de meios de comunicação popular, de métodos de organização e luta que dialoguem com a juventude.
Desafios organizativos:
Conformamos um coletivo de coordenação provisória para este processo de articulação, que contempla a diversidade das nossas organizações, com representação regional/continental.
Construção de uma dinâmica de organização que envolve três tarefas:
- a) Construir Encontros nacionais até o final de 2016, buscando ampliar a participação de
- b) Construir reuniões regionais para organizar um Encontro regional até o final de 2017;
- c) Identificar um país e suas organizações que se disponham a receber o próximo Encontro Internacional da Juventude em Luta, e que tenha possibilidades de realizá-lo.
Luta:
No dia 8 de outubro, data em que foi morto Che Guevara – lutador internacionalista que inspira a nossa geração -, convocaremos uma “Jornada Internacional da Juventude em Luta, contra a violência do capital”.
Viva a Juventude em Luta!
Maricá-RJ-Brasil, 24 de Junho de 2016
Veja aqui o álbum com as fotos do Encontro.