NOSSA HISTÓRIA
Em 2005 a Consulta Popular, instrumento político de referência para grande parte dos quadros da Via campesina define em Assembleia Nacional a resolução “organizar a juventude da classe trabalhadora e, em especial, os jovens da periferia urbana”. A leitura da Consulta era de que seria indispensável para a construção de um projeto contra hegemônico no Brasil a inserção na juventude trabalhadora, principalmente nas massas das grandes periferias. Era portanto, necessário deslocar quadros de um contexto onde havia um razoável processo de organização, para constituir força social nos centros urbanos, onde este campo político, bem como as demais organizações de esquerda, tinham uma força muito residual.
Este núcleo inicial era composto por 2 quadros da Pastoral da Juventude Rural, um do MTD, um do MST, e um jovem universitário. Este grupo começa a desenvolver os primeiros laboratórios de organização de jovens, principalmente nas periferias de Porto Alegre, a partir da realização de encontros, debatendo os “problemas” da juventude. No decorrer dessas atividades incorpora-se a primeira liderança de origem popular a este núcleo. Em um desses encontros na comunidade do Morro da Cruz, se batiza esta incipiente organização de Levante Popular da Juventude. Ainda em 2005, se traça a primeira meta-síntese organizativa do Levante: a construção de um acampamento de fundação do movimento.
No dia 7 de fevereiro de 2006 completavam-se 250 anos da morte do líder Guarani Sepé Tiaraju, símbolo da resistência indígena ao processo colonização europeia no Rio Grande do Sul. Rendendo homenagens a esta data a Via Campesina organiza um grande encontro na cidade de São Gabriel, onde Sepé havia morrido em combate. Neste evento estariam reunidos centenas de indígenas de diferentes etnias, quilombolas e camponeses dos Movimentos da Via Campesina. Aproveitando esta oportunidade, este núcleo propulsor do Levante desafiou-se a construir um grande acampamento de jovens, paralelo as demais atividades.
O acampamento conseguiu reunir em torno de 700 jovens de todo estado. A maior parte dos participantes eram os jovens ligados aos movimentos da Via Campesina. Havia também uma parcela considerável dos jovens da base do Movimento de Trabalhadores Desempregados, além de algumas dezenas fruto do processo de mobilização deste grupo de trabalho nas periferias, e ainda em pequeno número nas universidades.
O encontro em si teve muitos problemas organizativos e metodológicos, mas ele contribuiu decisivamente para a conformação do Levante. As três frentes de atuação, territorial, camponesa e estudantil, que caracterizam o movimento, já estavam presentes desde o marco inicial da organização. O próprio núcleo propulsor do Levante era composto por camponeses, jovens de periferia e universitários. Além disso, a construção do Acampamento deu a este núcleo maior densidade política e capacidade organizativa fundamentais para que o movimento deslanchasse. Como resolução do Acampamento define-se como bandeiras de lutas prioritárias: Educação, Trabalho, Cultura e Lazer.
Após o Encontro estabelece-se como segunda meta-síntese a realização de uma luta e como reivindicação prioritária elegeu-se a democratização do acesso à universidade. Havia uma compreensão de que esta luta, embora sendo pela educação superior, não deveria reproduzir a dinâmica do Movimento estudantil. A síntese política desse processo foi de que a luta pela construção de uma Universidade Pública e Popular passaria necessariamente por alterar a composição social do ambiente universitário a partir das cotas sociais e raciais. Deste modo, o Levante inaugura a luta por cotas nas universidades no Rio Grande do Sul, ocupando a reitoria da UFRGS, durante um dia, com centenas de jovens de escolas públicas, camponeses e universitários.
Os trabalhos com as Executivas de curso e com os Estágios Interdisciplinares de Vivência (EIVs) forjaram uma militância referenciada nos movimentos camponeses e no Projeto Popular. Estes jovens embora se somassem nas iniciativas amplas propulsionadas pela Via, acabavam não consolidando um processo organizativo, mas chegou muito perto disso com a realização do Programa de Formação Política da Juventude do Campo e da Cidade em mais de 15 capitais do Brasil entre os anos de 2006 e 2008, realizado em etapas numa parceria entre a juventude da Via Campesina e os coletivos urbanos locais que atuavam a partir do teatro, da dança, do hip hop, do funk, da litareratura, do maracatu, da cultura e dos mais diversos temas que envolvem a juventude.
Foi esse rico processo que consagrou um importante momento que foi o Acampamento Nacional de 2008, envolvendo mais de mil jovens animados ao som de uma embrionária. Foi nesse momento que tivemos a certeza de que seria necessário uma ferramenta pra dar unidade e coesão pra aquela juventude tão disposta a luta que se encontravam os grandes centros urbanos.
Dois meses após a sua fundação, o Levante constitui uma de suas ações de maior projeção na sociedade. Em abril de 2012, simultaneamente em 7 estados brasileiros o Levante promove uma onda de escrachos aos torturadores da Ditadura, denunciando a impunidade e recolocando na ordem do dia a luta por Memória, Verdade e Justiça, dando materialidade a orientação de uma de nossas grandes referência de luta Carlos Marighella “A ação faz a organização” – um mês após esse intenso momento de luta, a então ameaçada Comissão Nacional da Verdade é instalada, e inicia seus trabalhos.
Em termos de método de trabalho e forma orgânica, o Levante se aproxima muito também das experiências das Pastorais da Juventude. Excetuando o elemento religioso, a compreensão de que o trabalho de formação política da juventude não deve estar dissociado da construção de laços de amizade, da vivência, do compartilhamento de vida é um legado das PJs, bem como a ênfase no acompanhamento pessoal.
Por fim, a terceira fonte que contribuiu decisivamente na construção da identidade do movimento foi a relação de intercâmbio com os movimentos populares da América Latina. Tanto o Coletivo de Juventude da Via, quanto do Levante do Rio Grande do Sul estiveram presentes em várias edições dos Acampamentos Latinos. Essa participação nos possibilitou incorporar vários elementos indenitários dessa cultura política, como as batucadas, as músicas, as performances nos atos, o que levou as demais organizações a classificarem o Levante como a “esquerda festiva”.
A ênfase nas técnicas de agitação possibilitou a construção de uma estética que fugia da tradição política brasileira, como mostraram os próprios Escrachos. Essa identidade foi imediatamente percebida como uma linguagem que dialogava com a Juventude. Uma organização que se pretende representar a juventude do povo brasileiro, deveria se expressar como tal. A animação como veículo de transmissão de uma mensagem política se transformou em uma marca do Levante.
Em 4 anos de existência o Levante se constituiu como uma das principais referências de organização da juventude no Brasil, apesar de todos os limites estruturais para a construção desta organização. Apesar de estarmos longe do que queremos ser, temos a convicção que esta curta existência já deixou o seu legado.
À construção de força social em torno das reformas estruturais que a burguesia não pode realizar chamamos de Projeto Popular para o Brasil, esse processo busca alterar a correlação de forças e abre espaço para a construção do Brasil que queremos. Dizemos que as organizações que constroem esse projeto se situam no nosso campo político, no campo do projeto popular.
Acreditamos que lutando por estas reformas combatemos a nossa dominação política, econômica, militar e ideológica pelo Imperialismo Norte Americano e também a política do Estado mínimo que privatiza as empresas estatais e reduz os direitos sociais aplicando as demandas do Neoliberalismo.
Somos muito mais que a nossa bandeira, somos o nosso projeto de transformação da sociedade!
Nossa inspiração tem vínculo profundo com a Esquerda Revolucionária que por meio da construção de um marxismo vivo deu origem à luta armada contra a ditadura no Brasil, à Teologia da Libertação, à revolução cubana, à revolução nicaraguense e outras experiências de libertação nacional na Ásia e África.
Esse leito ao qual nos filiamos rompe com uma forma de olhar para a realidade, rompe com um olhar centrado na história europeia e nas demandas das suas revoluções, propõe e experimenta de forma vitoriosa análises e revoluções sem transposições mecânicas das experiências europeias cuidando de compreendermos profundamente a nossa realidade.
São algumas características desse setor da esquerda mundial o forte vinculo com o seu povo, a organização popular com foco na tomada do poder, a luta central pelas reformas estruturais do seu Estado e a plena compreensão do Imperialismo como maior inimigo da humanidade.