A UNE É PRA LUTAR!

Tese do Levante Popular da Juventude rumo ao 60° Congresso da UNE

QUEM SOMOS

Somos o Levante Popular da Juventude! Um movimento social de jovens organizado nas universidades, escolas, assentamentos, acampamentos, bairros e periferias de todo o Brasil. Existimos para lutar com o povo brasileiro por um país justo, democrático e popular. Somos a juventude que acredita que transformar o Brasil exige construir nas bases uma alternativa de futuro que enfrente as injustiças e desigualdades sociais, colocando a juventude como protagonista da sua própria história.

Nascemos em 2006, no Rio Grande do Sul, organizando a juventude nos bairros e periferias de Porto Alegre. Em 2012, nos nacionalizamos para todo o país, reunindo milhares de jovens em nosso 1º Acampamento Nacional. Nesse mesmo ano, realizamos os escrachos contra os torturadores da Ditadura Militar, cumprindo um papel de destaque na criação da Comissão Nacional da Verdade. Desde então, seguimos firmes na missão de levantar uma geração que não aceita a opressão como destino. Foi com essa convicção que, em fevereiro deste ano, dissemos novamente em alto e bom som ao torturador de Rubens Paiva: nós ainda estamos aqui na luta por memória, verdade e por justiça!

Ao longo da nossa trajetória, estivemos na linha de frente contra o golpe de 2016, contra o avanço do fascismo e em defesa de uma democracia popular e participativa. Ocupamos escolas, tomamos as ruas contra a reforma trabalhista, contra o novo ensino médio, e enfrentamos o governo neofascista de Bolsonaro com coragem e resistência. Durante a pandemia, somamos forças às iniciativas de cuidado e solidariedade ao povo, lutando por vacina no braço e comida no prato. Em 2022, fizemos campanha com ousadia e criatividade. Fomos parte da vitória que derrotou o fascismo nas urnas e reconduziu Lula à Presidência da República.

Mas a nossa luta vai além das eleições. Somos parte do campo popular e construímos o Projeto Popular para o Brasil. Defendemos com orgulho a Reforma Agrária Popular e juntas do MST e do MBP, fazemos da solidariedade uma prática política cotidiana, do chão das cozinhas populares às turmas de alfabetização. Somos a juventude negra, indígena, periférica, camponesa que constrói a rede Nacional de Cursinhos Podemos + como ferramenta de acesso e permanência às universidades.  Somos mulheres e LGBTI+ que lutam por justiça, dignidade e liberdade. Somos filhos da arte, da cultura popular, do tambor e do grafite, carregamos em cada canto do Brasil a ousadia de querer viver com felicidade, dignidade e com direitos.

Acreditamos que iniciativa política, trabalho de base, linhas de massas e a unidade da esquerda são fundamentais para derrotarmos a extrema-direita. Foi essa unidade que levou milhares às ruas nos tsunamis da educação e é ela que hoje nos impulsiona a construir uma nova ofensiva política.

Junto à Frente Brasil Popular e à Povo Sem Medo, estamos construindo o Plebiscito Popular por um Brasil mais justo, que tem como bandeiras a taxação dos super-ricos, a isenção do Imposto de Renda (IR) para os que ganham até R$5 mil, a redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6×1. Acreditamos que, com participação, organização e mobilização popular é possível incidir e decidir sobre os rumos do país. O futuro que queremos exige coragem para enfrentar os super-ricos e reorganizar o Brasil a partir de quem vive do trabalho.

Historicamente, o movimento estudantil esteve ao lado da classe trabalhadora, e agora isso não seria diferente! Acreditamos na organização estudantil desde as bases, com arte, cultura popular, formação política e muita luta. Defendemos a unidade e assumimos o desafio de enraizar a UNE em todas as universidades do país. Somos do estudo coletivo, somos da prática: somos da ação e da organização! SOMOS O LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE!

Estamos no 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes para te fazer um convite: vem com o Levante, por que a UNE é pra lutar!

TESE DE CONJUNTURA: UNIDADE PARA COMBATER O FASCISMO E CONSTRUIR UM BRASIL POPULAR

A ameaça de Trump aos povos e à humanidade

Vivemos em um mundo em transição. A eleição de Donald Trump evidencia uma profunda crise de hegemonia do imperialismo. O declínio econômico dos Estados Unidos, aliado à ascensão dos BRICS, coloca em cheque o multilateralismo e o modelo de globalização neoliberal. 

Internamente, os Estados Unidos enfrentam o agravamento das desigualdades sociais e o aprofundamento da crise do seu sistema político, marcada por mudanças constitucionais significativas, a restrição de liberdades democráticas, o aumento da violência política e o ataque sistemático contra imigrantes.

Diferente do “fascismo clássico” que emergiu entre as Guerras Mundiais, o neofascismo emerge no centro do capitalismo, intensificando guerras e conflitos militares ao redor do mundo, como o genocídio do povo palestino e os recentes conflitos com o Irã. Ao mesmo tempo, ampliam-se as sanções e o bloqueio econômico contra países que ousam construir um futuro diferente do capitalismo, como Cuba e a Venezuela. 

Na atual fase, o capital se une ao militarismo, ao protecionismo e à xenofobia, intensificando a exploração da classe trabalhadora e a destruição da natureza, com o único objetivo de retomar suas altas taxas de lucro. Como consequência, milhares de vítimas, do Brasil à Palestina, são atingidas por guerras, eventos climáticos extremos, fome e negação de direitos fundamentais. As mesmas armas que massacram o povo palestino são utilizadas para exterminar a juventude negra nas periferias brasileiras. 

Na periferia do capitalismo, o Brasil permanece na mira do imperialismo norte-americano, que, tendo sua hegemonia em crise, intensifica suas investidas para impedir que o povo brasileiro construa um projeto de soberania e desenvolvimento para nossa nação.

Entre os desdobramentos desse cenário, estão o aumento da pobreza e da desigualdade econômica, o aprofundamento da crise ambiental e o agravamento da violência. Além disso, diante das mudanças no mundo do trabalho, forma-se uma massa de jovens e trabalhadores/as que não encontram alternativas para resolver suas angústias e problemas estruturais dentro dos limites da democracia liberal.

As tentativas de cerco contra o governo Lula

No Brasil, a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022  representou uma interrupção temporária na ofensiva da extrema direita e de setores das classes dominantes. Isso ocorreu, em grande medida, devido à piora da situação econômica e aos mais de 700 mil brasileiros mortos durante a pandemia da covid-19, provocando uma divisão entre as classes dominantes. Outro fator decisivo foi a resistência popular às medidas ultraliberais e golpistas do governo Bolsonaro (PL).  

A vitória política e eleitoral de Lula produziu um novo cenário político, caracterizado por um governo de frente ampla, mas nos marcos de uma correlação de forças desfavorável no Congresso Nacional e na sociedade. Neste sentido, a aprovação do Novo Arcabouço Fiscal representou uma limitação da capacidade do Estado brasileiro de intervir na economia, intensificando o conflito distributivo na sociedade brasileira.  

O Congresso Nacional, fortalecido pela consolidação das emendas impositivas, tem buscado retirar do governo federal o controle de parte significativa do orçamento público. Neste contexto, o chamado “Centrão”, a extrema-direita e o mercado financeiro tentam impedir a implementação do programa eleito nas urnas em 2022, especialmente no que diz respeito à medidas que taxem os super-ricos e que beneficiem o conjunto do povo brasileiro. Como ficou evidente na recente crise em torno do IOF. 

Ainda assim, a retomada do Governo Federal tem possibilitado avanços importantes, como a retomada progressiva de um conjunto de políticas sociais e a responsabilização jurídica dos golpistas do 8 de janeiro, exemplificada na prisão do general Braga Netto e no julgamento em curso de Jair Bolsonaro.

Embora a retomada de políticas sociais seja fundamental, ela tem se demonstrado insuficiente para alterar  de forma significativa a correlação de forças na sociedade. Isso se deve, em grande parte, ao fato que as melhorias das condições de vida, como o aumento da renda média dos trabalhadores e a redução do desemprego, têm tido sua percepção diminuída pela população devido ao aumento do custo de vida e a política criminosa de juros do Banco Central (BC).

Neste sentido, o governo Lula encontra-se diante de uma tentativa de cerco. De um lado, o mercado financeiro busca impor a todo custo a retirada de direitos da classe trabalhadora, através de medidas como a desvinculação dos pisos constitucionais da saúde e da educação, além da desvinculação dos benefícios sociais e das aposentadorias ao salário mínimo. De outro, a extrema direita na Câmara dos Deputados busca sistematicamente sabotar o governo, tentando aprovar medidas contrárias aos interesses populares, sobretudo, a pauta da anistia aos golpistas do 8 de janeiro de 2023. 

Além disso, a extrema-direita promove a sabotagem do governo através da difusão em massa de fake news nas redes sociais, como o vídeo viral de Nikolas Ferreira (PL-MG). Nikolas difundiu inúmeras mentiras sobre o pix, em especial, a pretensão do governo em taxar as pequenas transações financeiras. O “episódio do pix”, demonstrou a força das ideias da extrema-direita na sociedade, conseguindo impor um recuo ao governo e a todo campo progressista.

Diante da tentativa de cerco articulada pelo mercado financeiro e pela extrema-direita, é necessário uma tática de acúmulo de forças, centrada no fortalecimento da organização popular e na disputa de ideias na sociedade. Essa tática é fundamental para conseguirmos implementar o programa vitorioso nas urnas em 2022 e derrotarmos a extrema-direita em 2026. 

Para isso, são fundamentais a iniciativa política, a construção de linhas de massas capazes de dialogar com amplos setores da população e a unidade das forças populares. Somente com iniciativa política, linhas de massas e unidade será possível disputar os setores da classe trabalhadora que estão sob influência do bolsonarismo e impôr derrotas à extrema-direita.

Uma demonstração prática disso, é o fato de que a campanha desenvolvida pelo governo federal em torno da taxação dos super-ricos . Ao “furar a bolha” da esquerda e pautar o debate público em torno da contradição entre ricos e pobres, a campanha não apenas recuperou parte da popularidade do governo Lula, como também impôs uma derrota política ao Centrão. 

Entretanto, a tarefa de alterar a correlação de forças na sociedade brasileira não é só do governo federal. Este é o momento de reforçarmos a unidade dos movimentos populares em torno de bandeiras que coloquem a extrema-direita e o Centrão na defensiva.

O Plebiscito Popular por um Brasil mais justo

Nesse sentido, a construção do Plebiscito Popular por um Brasil Mais Justo representa um grande acerto das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, com destaque para o papel protagonista da UNE em sua construção e articulação. A iniciativa já reúne dezenas de organizações e movimentos nacionais, somando forças em torno de pautas que dialogam diretamente com os interesses da maioria do povo.

Na primeira semana de votação, centenas de milhares de brasileiros e brasileiras participaram em todo o país. A unidade construída em torno das bandeiras da taxação dos super-ricos e do fim da escala 6×1 permitiu reativar experiências de trabalho de base e ações de agitação e propaganda, aproximando o debate político do cotidiano da classe trabalhadora,  dialogando em torno de medidas concretas que melhorem a sua vida. 

O Plebiscito Popular por um Brasil Mais Justo já é um sucesso! Agora, é hora de intensificar a mobilização e estimular a criatividade da juventude. Precisamos ampliar ainda mais o diálogo com a consciência da classe trabalhadora e do povo brasileiro. Para isso, é fundamental que cada escola e universidade do país tenha uma urna do plebiscito! Somente com trabalho de base, unidade política e uma linha de massas consequente seremos capazes de enfrentar e derrotar a extrema direita.

Além disso, é fundamental superarmos a concepção vanguardista de pequenos grupos sectários e incorporarmos a necessidade da disputa ideológica de massas na sociedade brasileira. A melhor forma de fazê-lo é por meio da construção de uma nova cultura, democrática e popular, capaz de questionar a hegemonia cultural das classes dominantes e de enfrentar, com profundidade, a influência das ideias fascistas na sociedade.

A experiência histórica demonstra que derrotar o fascismo exige a combinação da mobilização popular com uma luta ideológica de massas. Para isso, a esquerda precisa preservar sua capacidade de iniciativa política; qualificar seu trabalho de base e de educação popular; valorizar as formas de organização do povo e a cultura popular; fortalecer meios de comunicação e de produção cultural autônomos, e investir na formação de uma nova geração de militantes da revolução brasileira.

A necessidade de fortalecer uma Frente Popular no interior da Frente Ampla

A coalizão de forças que se uniu em 2022 para defender a democracia brasileira e impedir a reeleição de Jair Bolsonaro foi decisiva para a vitória de Lula. No entanto, a frente ampla já apresenta sinais de que dificilmente terá a mesma abrangência em 2026. 

Embora o enfrentamento ao fascismo exija uma ampla unidade democrática, também se torna evidente a necessidade de consolidar uma frente popular dentro dessa coalizão mais ampla. Essa frente deve, simultaneamente, disputar a liderança política no interior da aliança e acumular forças sociais para influenciar a sociedade de maneira mais profunda e consequente. 

Fortalecer a frente popular é igualmente estratégico para exercer pressão sobre o governo federal, no sentido de criar condições mais favoráveis à implementação do programa eleito nas urnas. Sustentar e pressionar o governo não são ações contraditórias, pelo contrário, são partes complementares de uma mesma tarefa histórica.

Articular uma frente popular que atue de forma organizada para pressionar o governo em uma direção mais à esquerda é indispensável para sua própria sustentação. Sem essa atuação, corre-se o risco de o governo tornar-se excessivamente dependente de setores neoliberais e conservadores, comprometendo a execução do programa eleito e, em última instância, cedendo a pressões por medidas antipopulares.

O atual momento político deve ser aproveitado para rearticular as forças populares e construir unidade em torno das pautas estratégicas. A luta contra a escala 6×1, a taxação dos super-ricos, a punição dos golpistas, a reforma das Forças Armadas e o enfrentamento à chamada “PEC do Estuprador” são temas centrais para a esquerda brasileira. Esses eixos representam uma oportunidade histórica de aprofundar a formação de uma frente popular capaz de enfrentar a extrema direita e impulsionar transformações estruturais no país.

O movimento estudantil que historicamente ocupou a vanguarda das lutas populares, precisa retomar seu papel protagonista no combate ao fascismo e na defesa da democracia. A UNE, em especial, tem a responsabilidade de intensificar a construção do Plebiscito Popular por um Brasil mais justo nas universidades e institutos federais de todo o país. Essa iniciativa pode ser parte do acúmulo de forças na construção de uma Frente Popular que impulsione o governo Lula à esquerda e seja catalisadora das mobilizações sociais, para junto ao povo brasileiro, construir um Projeto Popular para o Brasil.

A juventude quer trabalhar para viver bem, se divertir e estudar, e não viver para trabalhar!

A juventude da classe trabalhadora brasileira está cansada. Cansada de viver para pagar boleto, cansada de virar a noite no shopping ou no Oxxo, de tentar conciliar faculdade e estágio sem tempo pra si, sem tempo pra viver. A ideia de que jovens não querem trabalhar é uma mentira que invisibiliza a real contradição: a juventude não quer mais ser superexplorada desde cedo e morrer de tanto trabalhar. Estamos vendo, nas redes e nas ruas, o surgimento de um novo grito: é preciso viver além do trabalho. A luta contra a escala 6×1 não é só pauta sindical, é uma pauta histórica da classe trabalhadora e, portanto, dos estudantes brasileiros.

A juventude carrega nas costas o peso das crises do capitalismo: racismo, machismo, desemprego, desespero. É a juventude negra e periférica que mais sofre com os efeitos da informalidade e da precarização. Mas também é essa juventude que tem potência de revolta e coragem de propor outro caminho. Quando reivindica tempo livre, lazer, arte e descanso, está afirmando que quer existir com dignidade. A juventude quer tempo pra estudar, pra amar, pra criar e pra lutar.

Por isso, a UNE também é pra lutar por um trabalho digno e pela redução da jornada de trabalho, retomando uma bandeira histórica da classe trabalhadora, agora com cara e voz jovem. A luta pelo fim da jornada 6×1 é só o começo. Precisamos construir um novo modelo de mundo do trabalho, onde a juventude não precise abrir mão da escola, da universidade e da sua própria juventude para sobreviver. 

TESE DE EDUCAÇÃO: UMA UNIVERSIDADE DO TAMANHO DO BRASIL

“A reconstrução da universidade é possível e necessária. Mas ela não poderá ser alcançada sem que a própria sociedade se reconstrua, modificando-se completamente suas relações com a educação escolarizada, com a cultura e com a imaginação intelectual criadora” (Florestan Fernandes, Universidade Brasileira: Reforma ou Revolução?)

A educação é uma  ferramenta poderosa para a transformação social e para a construção de um projeto popular de desenvolvimento para o país. A universidade, embora tenha sido criada para formar uma elite intelectual, é também um espaço estratégico de produção de conhecimento, e deve ter o seu papel disputado pelas classes populares. Por isso, lutamos para que a universidade  seja transformada e possa refletir a diversidade e as necessidades do povo brasileiro. Uma universidade que seja do tamanho do Brasil é popular, democrática, inclusiva, comprometida com o bem viver e com o desenvolvimento soberano da nação.

Apesar dos avanços conquistados ao longo da nossa história, as contradições estruturais da educação brasileira permanecem. A universidade continua sendo um espaço em disputa, no qual ainda prevalece um projeto elitista e um currículo alinhado às demandas do mercado. As diretrizes que orientam a educação no Brasil seguem subordinadas à lógica das classes dominantes, reproduzindo, através de um modelo excludente, os interesses econômicos das elites, que nenhum compromisso têm com o desenvolvimento e soberania do Brasil.

Durante os governos Lula (2003 – 2010) e Dilma Rousseff (2011 – 2016) houveram conquistas significativas no campo da educação. A política educacional dessas gestões  esteve ancorada em um projeto que buscava ampliar o acesso das massas historicamente excluídas do sistema de ensino, tanto na educação básica quanto no ensino superior. Ao mesmo tempo, a educação era entendida como um motor para o desenvolvimento, articulando o crescimento das diferentes regiões do país à produção de conhecimento e tecnologia nacionais, buscando fortalecer o reposicionamento do Brasil frente à divisão internacional do trabalho. Foi a partir dessa concepção mais ampla de uma “Pátria Educadora” e da luta estudantil, que surgiram políticas como o Prouni, o FIES, o Pronatec, a Lei de Cotas, a expansão dos Institutos Federais, a vinculação dos royalties do petróleo ao financiamento da educação, entre outras. Essas políticas, apesar de seus limites e contradições, foram fundamentais para a democratização do acesso à educação.

O golpe de 2016 e os governos que se seguiram promoveram cortes orçamentários, interferências autoritárias e um processo de sucateamento das universidades públicas, que se agravou com a pandemia e permanece até hoje. Ainda que o acesso tenha se democratizado, faltam recursos para garantir a qualidade do ensino, a assistência estudantil e a infraestrutura mínima para o funcionamento das instituições.

Paralelamente, assistimos a um crescimento acelerado das matrículas no ensino superior privado. Esse processo ganhou força principalmente a partir dos anos 1990, com políticas de expansão educacional que favoreceram esse setor, e que seguem até os dias de hoje. Atualmente, mais de 88% dos estudantes do ensino superior no Brasil estão matriculados em instituições privadas.

O setor é dominado por grandes conglomerados educacionais que funcionam como verdadeiros negócios, com foco na captação massiva de alunos, na venda de diplomas e inserção no mercado financeiro. As chamadas “megacorporações educacionais”, como a Kroton-Anhanguera,  Estácio e Ser Educacional, são exemplos desse processo de financeirização. Essas empresas possuem ações na Bolsa de Valores e operam com base em critérios de rentabilidade e retorno para os acionistas.

Nos últimos anos, o avanço do Ensino a Distância (EaD) aprofundou ainda mais essa lógica. Por ser um formato de baixo custo operacional, o EAD tornou-se uma das principais estratégias de expansão do setor privado, muitas vezes com qualidade pedagógica questionável e com pouca interação entre estudantes e professores. A UNE conquistou em 2025 um novo marco regulatório para o EaD. O marco impõe regras mais rígidas para a modalidade, a fim de que os conglomerados educacionais garantam o mínimo de qualidade e condições de trabalho ao corpo docente, 20% de atividades presenciais e proibindo que cursos de licenciatura e alguns da área da saúde sejam 100% EaD.

O ensino superior privado, em sua grande maioria, cumpre um papel funcional para o capital: absorver a demanda reprimida por formação superior, oferecendo um ensino precarizado, voltado para a empregabilidade e  sem aprofundamento crítico.

Além da lógica do lucro e da precarização do trabalho docente, o setor privado passa por um processo crescente de internacionalização, muitas vezes desconsiderando as especificidades sociais e culturais do Brasil e aprofundando a mercantilização da educação. Por isso, é fundamental avançar na regulamentação do ensino privado, garantindo qualidade, direitos e equidade no acesso ao ensino superior.

Esse avanço desenfreado do setor privado ocorre junto à estagnação do financiamento da educação pública. As universidades públicas brasileiras enfrentam um cenário de grave crise orçamentária, que compromete suas funções essenciais. A falta de recursos ameaça desde a manutenção das instalações até o funcionamento de programas de assistência estudantil, bolsas de pesquisa e extensão comunitária. 

O déficit no orçamento da educação no Brasil não é fruto da falta de dinheiro, mas resultado de um processo de uma série de opções políticas de subfinanciamento estrutural que se agravou a partir da aprovação da Emenda Constitucional 95, em 2016, conhecida como PEC do Teto de Gastos. Essa medida congelou os investimentos sociais por 20 anos, limitando o crescimento das despesas públicas à inflação. Desde então, o orçamento da educação tem sido alvo de cortes e contingenciamentos sucessivos. Embora o governo Lula 3 tenha instituído o Novo Arcabouço Fiscal, a lógica de limitação dos investimentos em áreas sociais se manteve.

A disputa pelo orçamento público no Brasil é uma expressão direta da luta de classes, porque revela quais interesses sociais o Estado prioriza na hora de alocar recursos. De um lado, as classes trabalhadoras, os movimentos sociais e os setores populares lutam por mais investimentos em áreas sociais como saúde, educação e moradia. Do outro lado, o capital financeiro, os grandes empresários e setores da elite econômica pressionam o Estado para garantir o aumento da taxa de juros, o pagamento da dívida pública, isenções fiscais, subsídios e outras formas de transferência de recursos para o topo da pirâmide social. Essa contradição fica evidente, por exemplo, quando o governo mantém gastos bilionários com o pagamento de juros da dívida ou com renúncias fiscais a grandes empresas, ao mesmo tempo em que contingencia recursos fundamentais para a educação e outras políticas públicas voltadas para a maioria da população. Portanto, o orçamento público é um campo de disputa onde se materializa a correlação de forças entre as classes sociais e os limites impostos pelo modelo econômico vigente.

É possível recompor o orçamento da educação, mas para isso é necessário que os setores populares se reposicionem na conjuntura. Nós estudantes temos um papel central na mobilização e organização popular. Para isso, precisamos de unidade e iniciativa em torno das bandeiras de luta necessárias para romper com a lógica de austeridade no orçamento.  

Com esse objetivo,  há 3 medidas fundamentais que pautamos para enfrentar a concentração de riqueza e a forma de financiamento do Estado brasileiro. A primeira é a retirada da educação, e outras áreas sociais do Novo Arcabouço Fiscal. Se a educação é uma prioridade, um direito básico e constitucional, nenhum governo pode, por princípio, impor um limite de investimento na área. Outra medida é a taxação dos super ricos, pois aumentaria a arrecadação de impostos de forma mais justa, trazendo mais recursos para o Estado. Por fim, pressionar fortemente pela redução da taxa de juros, abrindo mais espaço para o financiamento de políticas públicas. 

Pela valorização das universidades estaduais

A grande maioria das universidades estaduais (UEs) pelo país sofrem historicamente com a desvalorização dos governos, impactando na qualidade do ensino, da pesquisa e extensão. O orçamento precário sufoca as UEs deixando-as em uma situação de extrema precariedade, afetando diretamente a permanência dos estudantes. 

Os principais problemas que enfrentam em sua maioria são: ausência de uma política de permanência, de infraestrutura adequada, planos de carreira defasados para docentes e técnicos, bem como falta de concursos públicos. 

Defendemos que o fortalecimento da educação pública perpassa também por uma política de valorização das universidades estaduais. Propomos que em cada estado sejam feitos grandes processos de luta, organizados pela União Estadual de Estudantes e com o apoio da UNE, reivindicando 10% do PIB do estado para a educação. Também propomos Reformas Universitárias estaduais. Para que essas universidades sejam reformuladas e ampliadas, com estruturação de planos de carreiras para os docentes e técnicos, construção e reformas de campi para que saiam do sucateamento em que se encontram. A prioridade deve ser a implementação de Programas Estaduais de Assistência Estudantil, com o objetivo de ampliar e reajustar o valor das bolsas e construir equipamentos, tais como moradias e restaurantes universitários.

A universidade necessária 

A universidade pública deve ser o coração do desenvolvimento do Brasil, não apenas formando profissionais, mas contribuindo para a construção de um projeto de país soberano, justo e inclusivo. As universidades são pilares da inovação, da pesquisa científica e tecnológica, e têm papel decisivo no enfrentamento de problemas sociais e ambientais. Além disso, devem ser espaços onde o conhecimento seja socializado e colocado a serviço da população, especialmente dos grupos mais vulnerabilizados.

Queremos uma educação pública que garanta o acesso e a permanência de todas as pessoas, especialmente de grupos historicamente excluídos: trabalhadores, população negra, periférica, camponeses, indígenas, quilombolas, mulheres e pessoas LGBTQIA+. Lutamos por políticas afirmativas amplas, que cheguem até a pós-graduação, para que a universidade brasileira deixe de ser um espaço restrito e elitista e se torne um verdadeiro espaço de igualdade de oportunidades. Além disso, a universidade deve estar comprometida com a produção de conhecimento a serviço do povo, articulando ensino, pesquisa e extensão para enfrentar os grandes desafios nacionais, como a fome, a desigualdade e a crise climática.

Para que a universidade atenda verdadeiramente aos interesses do povo, é necessário uma Reforma Universitária Popular. Essa reforma deve ampliar o financiamento público, assegurar a autonomia democrática das instituições, fortalecer a assistência estudantil bem como as políticas afirmativas, e garantir uma gestão participativa que envolva estudantes, professores e funcionários. É preciso romper com o modelo excludente, privatista e elitista, construindo uma universidade que reflita a diversidade do Brasil e que seja um espaço de construção social e política. Propostas para serem desenvolvidas no bojo de lutas da Reforma Universitária Popular:

  • Recomposição e ampliação do orçamento para a educação pública, revogando medidas que limitam os investimentos, como o teto de gastos.
  • Taxação dos super ricos, para garantir recursos para a educação e demais políticas sociais.
  • Expansão da rede pública de ensino, para garantir que toda juventude tenha acesso a universidade pública e de qualidade.
  • Regulamentação rigorosa do ensino superior privado, combatendo a mercantilização e garantindo qualidade e direitos.
  • Garantia de recursos para o PNAES e fortalecimento das políticas afirmativas para garantir permanência e sucesso dos estudantes.
  • Fortalecimento do vestibular indígena, pronera e cotas trans: essas políticas afirmativas são essenciais para reparar desigualdades históricas e garantir o acesso à educação pública de qualidade, promovendo justiça social. 
  • Defesa da autonomia universitária e da gestão democrática nas instituições públicas. Para isso é necessário o fim da lista tríplice nas eleições de reitores e que os votos dos estudantes sejam paritários em eleições da universidade e nos conselhos universitários.
  • Ampliação da pesquisa e extensão vinculadas às necessidades da população e ao desenvolvimento sustentável do país.

Construir uma universidade do tamanho do Brasil é construir uma universidade que promova a justiça social e o desenvolvimento soberano, superando as desigualdades. É um desafio urgente e coletivo, que exige mobilização, organização e luta permanente contra as forças que querem privatizar, sucatear e limitar a educação pública. Uma universidade democrática, socialmente comprometida, científica e politicamente ativa,  só existirá como parte de um projeto social mais amplo de emancipação popular.

Educação Não é Mercadoria!

  • Regulamentação do ensino superior privado, queremos a revisão do conselho administrativo de defesa econômica de todas as fusões e aquisições entre as universidades estrangeiras e nacionais
  • Regulamentação do valor das mensalidades
  • Lutamos pela criação do INSAES, Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação da Educação Superior. Este instituto visa aprimorar a fiscalização e avaliação das instituições de ensino superior no Brasil, garantindo maior rigor e eficiência nesse processo. 

O papel da UNE na defesa da Arte e da cultura brasileira

Que olho não brilha ao pensar no Brasil? A cultura brasileira é uma das expressões mais autênticas da nossa identidade coletiva. Fruto da diversidade de povos, territórios e histórias que formam nosso país, ela resiste, cria e se reinventa a cada dia, mesmo diante dos inúmeros desafios que enfrenta. É nesse cenário que a União Nacional dos Estudantes (UNE) tem papel histórico e fundamental na defesa e promoção da cultura como ferramenta de transformação social.

Desde a fundação do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, na década de 1960, a entidade tem atuado na articulação entre cultura, política e povo. O CPC foi um marco revolucionário: levou teatro, cinema, literatura e música para as periferias e para os espaços populares, com uma proposta de arte crítica e engajada, comprometida com a formação de consciência social. Essa trajetória permanece viva hoje nos esforços de resistência e construção cultural dentro do movimento estudantil.

Nos últimos anos, o Circuito de Cultura e Arte da UNE (CUCA da UNE) tem sido uma ferramenta fundamental para dar continuidade concreta a essa tradição, valorizando a produção artística universitária em suas mais diversas formas e linguagens. No entanto, é necessário aprofundar essa atuação e enfrentar os desafios que se colocam para a cultura no Brasil contemporâneo.

Vivemos um momento de desmonte de políticas culturais e desvalorização da arte. Neste contexto, a UNE deve intensificar sua presença nos fóruns de cultura e nas disputas institucionais, reafirmando a urgência de retomar o diálogo com o Ministério da Cultura e garantindo a construção de políticas públicas específicas para artistas e estudantes. É fundamental que existam editais voltados à produção universitária de forma ampla para todo e qualquer estudante, compreendendo as particularidades e potencialidades desse segmento.

Por isso, defendemos o fortalecimento e enraizamento dos CUCAs da UNE por todo o Brasil. A cultura precisa chegar nos mais diversos cantos do país, ultrapassando os limites dos grandes centros e das universidades mais tradicionais. Nesse sentido, entendemos que a UNE Volante cumpriu, cumpre e deverá cumprir um papel estratégico ao circular, dialogar e mobilizar as bases estudantis e culturais em diferentes regiões, que possam estimular os estudantes à produção cultural a partir de suas realidades.

As universidades devem ser reconhecidas como territórios culturais vivos e pulsantes. No entanto, o que reconhecemos agora não são espaços plenamente acolhedores para a cultura. Atividades como calouradas, saraus, intervenções artísticas e festivais enfrentam cada vez mais burocracias, censuras e falta de apoio. É urgente retomar esse debate: a UNE deve se posicionar de forma firme em defesa da cultura como parte estruturante da vida universitária – para dentro e fora dos muros dela.

A Bienal da UNE é um dos eventos culturais mais importantes do movimento estudantil brasileiro e deve ser defendida, valorizada e construída coletivamente. Muito além de um festival, ela é um espaço de resistência, formação e afirmação política, onde a diversidade da produção artística universitária se encontra com as lutas sociais. A Bienal fortalece a defesa da democracia, da liberdade de expressão e do acesso à cultura, sendo um marco para a valorização da arte como ferramenta de transformação nas universidades e na sociedade.

A UNE deve inserir a arte em todo o seu calendário político e construir políticas públicas com cultura, ouvindo diretamente quem vive e produz arte nas universidades. Descentralizar o debate cultural é fundamental para enratizar a cultura como eixo estruturante do movimento estudantil. Nesse processo, é urgente retomar o diálogo com o programa Cultura Viva e fortalecer os Pontos de Cultura como espaços de criação, autonomia e protagonismo popular, conectando a universidade com os territórios culturais do país.

A cultura deve ser reconhecida como mais do que entretenimento: é resistência, é política, é através dela que conquistamos mentes e corações comprometidos com a construção de um novo país. E o movimento estudantil tem a missão de garantir que essa construção seja coletiva, democrática, popular e enraizada em todos os cantos do Brasil – para que esse tenha a cara do nosso povo e de nossos sonhos!

Educação do campo direito de todos, dever do estado!

Somos parte da luta histórica pela existência de escolas públicas no campo e do campo, construídas como direito do povo e ferramenta de soberania. Ao lado do MST e de tantos outros movimentos, defendemos uma educação enraizada no território, voltada para a realidade da agricultura familiar, das comunidades indígenas, quilombolas e dos trabalhadores e trabalhadoras do campo. Seguimos denunciando o fechamento de escolas rurais como um crime contra o povo brasileiro e reafirmamos a urgência de reabri-las, fortalecê-las e garantir o direito de estudar, permanecer e transformar o campo com dignidade.

Em abril de 2025, o PRONERA completou 27 anos como política pública fundamental para a Reforma Agrária Popular. Uma construção coletiva entre movimentos sociais, universidades e o INCRA, o programa resiste como símbolo de educação libertadora. Após anos de abandono nos governos Temer e Bolsonaro, voltamos a construir novos projetos e cursos, mas seguimos enfrentando desafios orçamentários e burocráticos que ameaçam sua continuidade. Os R$ 48,5 milhões previstos para 2025 são insuficientes frente às demandas acumuladas, e há risco de que projetos novos nem sequer saiam do papel. A luta agora é por suplementação imediata de R$ 50 milhões e pela defesa incondicional da autonomia do programa.

Reivindicamos também o reconhecimento dos diplomas dos cursos de Licenciatura em Educação do Campo nos concursos públicos, pois formar educadores/as sem garantir seu exercício profissional é negar o direito à educação no campo. Sem Reforma Agrária não há PRONERA e sem educação, não há Reforma Agrária Popular! A juventude do campo quer permanecer na terra, quer estudar, produzir, criar e viver com dignidade. Defender o PRONERA é plantar futuro com as próprias mãos.

Universidade com a cara do Brasil: por cotas trans e vestibular indígena!

É uma vitória do povo o fato de hoje pelo menos metade dos estudantes das universidades públicas virem da escola pública. Esse feito carrega décadas de luta do movimento negro, indígena, estudantil e da classe trabalhadora por acesso ao ensino superior. As cotas foram fundamentais para que os filhos e filhas das periferias, das comunidades tradicionais e do campo pudessem ocupar esse espaço. Como diz BK, somos a continuação dos sonhos das nossas mães, pais e de todos que vieram antes de nós.

Queremos avançar, popularizando cada vez mais a universidade. Garantir a presença das pessoas trans e travestis no ensino superior é parte da luta contra a exclusão e a violência. As cotas trans são uma ferramenta para garantir acesso à educação e ao mercado de trabalho, rompendo com a marginalização. O vestibular indígena é também uma pauta urgente. Ele rompe com as barreiras históricas que impediram os povos originários de acessar a educação superior e afirma a centralidade de suas histórias, línguas e culturas na construção do Brasil.

Além de entrar, queremos permanecer e transformar a universidade. Sabemos que a universidade pode e deve contribuir com a construção de um projeto popular para o país. Com o novo perfil de estudantes, a assistência estudantil precisa ser fortalecida, com orçamento definido em lei e a regulamentação do PNAES. Não dá para pensar em justiça social sem garantir comida no prato, moradia, passe livre, saúde mental e acesso à cultura. A universidade que queremos é aquela onde ninguém precise abandonar o sonho de se formar por falta de dinheiro ou pela necessidade de trabalhar. Esse é o dever do Estado com a juventude que resiste no presente para construir um futuro melhor.

É urgente, ainda, transformar os currículos universitários. Uma universidade com a cara do Brasil precisa ser também uma universidade com o pensamento do Brasil. Currículos socialmente referenciados são os que dialogam com as realidades do nosso povo, que valorizam os saberes populares, a ciência crítica e diversa. Não se trata apenas de ocupar cadeiras, mas de disputar os sentidos do que se ensina e se aprende. Construir uma universidade do tamanho e com a cara do Brasil exige muita luta e um movimento estudantil cada vez mais vinculado com o povo.

Queremos entrar, permanecer, nos formar e transformar as universidades!

A política de assistência e permanência estudantil é fundamental para mudar a cara das universidades. Em 2007 demos um salto importante, com a instituição de uma política nacional de assistência e permanência estudantil: o PNAES. De lá para cá, muita coisa mudou e, é certo, o PNAES contribuiu para alterar a realidade das universidades. Com a consolidação de restaurantes e moradias estudantis, bolsas permanência, apoio didático, etc. E tudo isso tem a mão das e dos estudantes brasileiros, que além de conquistarem a política, transformaram o PNAES em lei com muita luta e mobilização da atual gestão da UNE. 

Agora, queremos mais! A Lei do PNAES é fundamental para a continuidade do Programa e deve ser encarada como um instrumento de pressão para o fortalecimento da política. Vamos lutar pela ampliação do orçamento do PNAES, o qual deve ser definido em lei, e pela regulamentação da execução dos recursos nas universidades, assim como a vinculação da Política de Cotas com a Política de Assistência e Permanência Estudantil. 

Queremos conquistar e fortalecer as políticas de permanência em todas as universidades brasileiras. O PNAES precisa abranger a realidade de todos os estudantes universitários que possuem CADÚNICO, contemplando também as e os estudantes das universidades estaduais e privadas.  É necessário conectar as redes de assistência social ao Programa, bem como destinar orçamento para a construção de restaurantes universitários e moradias estudantis por todo país. Por um Brasil em que ninguém tenha que escolher entre trabalhar ou se formar!

TESE DE MOVIMENTO ESTUDANTIL: EM CADA UNIVERSIDADE, UM LEVANTE EM LUTA!

“O movimento estudantil tem desempenhado um papel de vanguarda na denúncia do caráter de classe do Estado e das reformas impostas pelo imperialismo. Seu mérito maior tem sido manter viva a chama da rebelião.” (Ruy Mauro Marini, O reformismo e a contrarrevolução, 1968).

O movimento estudantil é a rebeldia organizada dos estudantes brasileiros. É a capacidade que temos, enquanto estudantes, de nos reunir, nos indignar e agir coletivamente para transformar a realidade que vivemos, dentro e fora das universidades. Com horizonte político claro e ações intencionalizadas, construímos uma ferramenta de luta a partir da nossa condição comum de estudantes da classe trabalhadora.

Historicamente, o movimento estudantil foi parte ativa das grandes transformações sociais do país, da América Latina e do mundo. Teve papel decisivo na Nicarágua, com a Frente Sandinista de Libertação Nacional, em Cuba com o Diretório Revolucionário e a campanha de alfabetização “Yo, sí puedo”, na África do Sul, com o Levante de Soweto, e no Brasil através da UNE, na luta contra o nazifascismo, contra a Ditadura, na campanha pelas Diretas Já, na Reforma Sanitária pela construção do SUS, na ampliação das universidades públicas, na Campanha Periferia Viva durante a pandemia da Covid-19 e no combate à extrema direita nos últimos anos. Sempre fomos uma trincheira fundamental das lutas populares. Por isso afirmamos: o movimento estudantil organizado é a nossa ferramenta de enfrentamento e de proposição do nosso projeto de sociedade socialista, ou seja, é um instrumento de acúmulo de forças e construção de poder popular.

Se organizar politicamente é um direito, mas também um dever nosso enquanto juventude, como já dizia Che Guevara, “ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética”. Entendemos que não há saídas individuais para os problemas que atravessam a vida dos/as estudantes, tão pouco não há nada tão longe que o braço da coletividade e da organização estudantil não alcance!

Nesses últimos dois anos, a UNE se jogou na luta em defesa da democracia, enfrentando o bolsonarismo e denunciando a extrema-direita, gritando por todo o  Brasil que os/as estudantes brasileiros/as querem a prisão de Bolsonaro e de todos os golpistas. A UNE ocupou as ruas em defesa do orçamento da educação, denunciando as altas taxas de juros praticadas pelo Banco Central e exigindo a saída de Campos Neto, além de cobrar a insuficiência do orçamento com o novo Arcabouço Fiscal, de Fernando Haddad.

Dentro e fora das universidades, a UNE é feita para lutar. Por isso, nós colorimos as universidades com a Campanha As Cotas Abrem Portas e conquistamos a renovação e a reformulação da Lei de Cotas. Pela mão dos/as estudantes, nós transformamos o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) em lei, uma conquista histórica na nossa luta por assistência e permanência estudantil. 

Além disso, a UNE promoveu agendas essenciais, como a Caravana da Reforma Universitária, que devemos seguir construindo no próximo período; o Encontro de Mulheres Estudantes (EME); o encontro de estudantes LGBTs; os Conselhos Nacional de Entidades Gerais da UNE (CONEG). E iniciamos  2025 com a realização de um enorme Conselho Nacional de Entidades de Bases (CONEB) que junto a Bienal de Arte e Cultura teve um papel fundamental na reorganização e fortalecimento das entidades estudantis (CAs, DAs, DCEs, UEEs), bem como no reposicionamento da UNE diante da conjuntura, la aprovamos uma jornada de luta por mais orçamento para a educação e convocamos o Plebiscito Popular pela taxação dos super ricos e a redução da jornada de trabalho. 

Nosso tempo impõe desafios imensos. Depois de mais de uma década de ataques aos nossos direitos, de tentativa de destruição das formas coletivas de organização, das novas relações de trabalho que nos fragmentam no contexto da crise do capitalismo e da pandemia que aprofundou o isolamento e o adoecimento da juventude, estamos reconstruindo os laços, os espaços e uma nova cultura política estudantil. A eleição de Lula foi uma vitória importante, mas insuficiente. A extrema-direita segue ativa e com base social organizada, e a classe trabalhadora ainda sente os efeitos do desemprego, da fome e da precarização. Portanto, é nossa tarefa construir uma UNE de luta para alterar a correlação de forças na sociedade.

Assim, o desafio do agora é entrar em ofensiva. Por isso, lançamos a construção do Plebiscito Popular pela Taxação dos Super-Ricos e pela Redução da Jornada de Trabalho, convocando um conjunto de entidades, sindicatos, partidos e movimentos sociais a disputar corações e mentes e apresentar um novo projeto de país cujo horizonte seja de trabalho digno e sem desigualdades, opressão e exploração. 

Quando dizemos que a UNE é pra lutar, é porque assumimos, com coragem, o papel de vanguarda dessa esperança, fazendo das universidades territórios de mobilização, e das ruas, espaço de encontro com o povo.

Queremos que a UNE seja protagonista nas lutas em defesa da educação e do povo brasileiro, assumindo para si a tarefa de conduzir o conjunto do Movimento Estudantil, contribuindo com a organização de base e com o fortalecimento das entidades estudantis. Portanto, defendemos que a UNE:

  • Intensifique a construção do Plebiscito Popular por um Brasil mais justo, construindo comitês e abrindo urnas em todas as universidades do país;
  • Estimule a realização de aulas públicas sobre a taxação dos super-ricos e o fim da escala 6×1 nas universidades;
  • Realize uma Caravana Nacional pela aprovação dos 10% do PIB para a educação no novo PNE, pela recomposição orçamentária das universidades, pela educação fora do arcabouço fiscal  e pela aprovação das cotas trans em todas as universidades do país;
  • Realize um novo Conselho Nacional de Entidades de Base (CONEB), com o objetivo de enraizar ainda mais a UNE nas universidades brasileiras;
  • Realize um novo Seminário Nacional sobre Reforma Universitária, com o objetivo de debater e apresentar uma proposta de Reforma Universitária da UNE nas eleições de 2026;
  • Promova o engajamento estudantil nas lutas contra a fome, o racismo e o analfabetismo;
  • Estimule a realização de Estágios de Vivência em assentamentos de reforma agrária e no Sistema Único de Saúde (SUS);
  • Estimule a realização de festivais culturais nas universidades, debatendo temas em diálogo com a juventude periférica, com os movimentos populares e o povo brasileiro.

O Movimento Estudantil precisa ser pulsante, dar cor e forma às universidades e assumir o compromisso de transformar o Brasil. Acreditamos na capacidade dos estudantes de mobilizar e organizar a sociedade, lutando por conquistas concretas que beneficiem a classe trabalhadora e avancem no projeto de um Brasil justo e soberano, sem exploração e opressão de classe, gênero e raça. Para isso, é necessário que cada sala de aula, um levante em luta!

Rede de Cursinhos Populares Podemos +

Em 2013, o Levante Popular da Juventude iniciou experiências de Cursinhos Populares no Brasil para democratizar o acesso ao ensino superior. Em 2017, nasceu a Rede de Cursinhos Populares Podemos Mais, unindo cursinhos pré-vestibulares, pré-ETEC, CAPES e bibliotecas populares, visando incluir a juventude trabalhadora nas universidades e transformar sua estrutura elitista.

Atualmente, a rede conta com 35 iniciativas em 15 estados e defende a educação pública como direito social essencial. Denunciamos retrocessos, como o aumento da evasão escolar, a queda de inscrições no ENEM e as condições precárias de trabalho que dificultam o acesso educacional. A demanda por vagas no ensino superior público supera a oferta, reforçando a importância da luta por inclusão, permanência e conscientização da juventude como agente de transformação social no Brasil.

Afirmamos a necessidade da luta coletiva e a construção de novas relações de ensino-aprendizagem, nas quais, educando/as e educadoras/es são sujeitos  ativos e críticos da construção do conhecimento. O Cursinho Popular Podemos nos faz ler o mundo para transformá-lo!  Procure a rede em sua cidade e venha se somar  conosco.

Juventude com atitude para defender a saúde

O Sistema Único de Saúde (SUS), o maior sistema público de saúde do mundo, nasceu da mobilização popular para garantir saúde universal, gratuita e equitativa no Brasil. Resultado da Reforma Sanitária, o SUS é essencial na luta por uma vida digna e enfrenta constantes ameaças daqueles que enxergam a saúde como mercadoria.

A defesa do SUS deve ser prioridade, incluindo a formação acadêmica que prepare estudantes para atuar de forma qualificada e comprometida com seus princípios. É fundamental promover educação permanente em saúde, gestão participativa e currículos que integrem práticas pedagógicas conectadas à realidade brasileira, fortalecendo a ligação entre saúde, educação e a transformação social. A formação em saúde deve ser socialmente referenciada, onde os estudantes sejam formados para atuação qualificada e defesa do SUS.

Para isso, defendemos a implementação do “Viver-SUS: vivências e suporte a redes de atenção da juventude no Sistema Único de Saúde”, que construímos em parceria com a Fiocruz. O projeto, que foi implementado como uma política pública de saúde, tem como público-alvo estudantes da área da saúde com o objetivo de realizar formações e vivências na realidade do SUS, visando à ampliação da compreensão das potencialidades, bem como dos desafios, e o envolvimento, desde a formação dos futuros profissionais na dinâmica do Sistema Único de Saúde, contribuindo com a formação de jovens estudantes para atuação no Sistema Único de Saúde e na identificação do perfil de adoecimento de jovens trabalhadores.

Investir em saúde pública e na formação de jovens profissionais de saúde é afirmar o compromisso com o desenvolvimento do Brasil, enquanto patrimônio do povo e a saúde enquanto direito.