Juventude constrói Plano Nacional e em documento denuncia as opressões com os LGBTs

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Juventude constrói Plano Nacional e em documento denuncia as opressões com os LGBTs

Por Luiz Filho e Wesley Lima

A juventude da Pastoral da Juventude Rural (PJR), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de outros movimentos sociais populares, ligados a Via Campesina Brasil, estiveram em Brasília, entre os dias 23 e 25/02, construindo o Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural.

Na ocasião, foi realizada a “Oficina de Diálogo sobre o Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural”, organizada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) com o objetivo de discutir e priorizar propostas que integrarão o documento final.

Terra e Território, Trabalho e Renda, Educação do campo, Qualidade de vida e Participação e Democracia, foram os cinco eixos prioritários apontados pelo Plano que dialogarão com uma grande parte dos ministérios e secretarias.

Reafirmando o lançamento do Plano Nacional de Juventude como ponto estratégico, junto com o Plano Safra da Agricultura Familiar (2016/2017), Luiza Dulci, da assessoria de Juventude do MDA, disse que “quando a presidenta anuncia algo é porque ela está assumindo um compromisso”.

Encontro LGBT do MST Foto: MST
Encontro LGBT do MST realizado em agosto.
Foto: MST

“Não só o Brasil, mas outros países têm o desafio da sucessão rural. A gente espera que as pautas fiquem bem definidas, para que possamos caminhar de acordo com que os jovens estão propondo”, afirmou Dulci.

Durante a oficina de diálogo do plano, a juventude construiu duas cartas. Uma delas tem o objetivo de dar visibilidade a Juventude Camponesa LGBT e denunciar as opressões e exclusões ligadas a estrutura patriarcal, machista e LGBTfóbica do sistema capitalista.

“Várias são as formas de invisibilidade da juventude LGBT no campo, e nós, os sujeitos e sujeitas se encontram sem direitos e condições de continuidade da vida que desejamos seguir, sem condições de produzir na terra que crescemos e queremos permanecer”, explicou a juventude na carta.

Afirmando o compromisso de continuar pautando e denunciando toda forma de opressão, os jovens finalizaram o documento garantindo que continuaram pautando a luta pela terra e território, trabalho e renda, educação do campo, participação e qualidade de vida, “porém não abriremos mão de trazer o recorte de afirmação LGBT nessas pautas”.

Para a secretária executiva do MDA, Maria Coelho, os documentos construídos trazem um aprofundamento das demandas por debater valores da sociedade. Ela caracterizou a criação do Plano como um momento histórico.

 

Leia a CARTA DA JUVENTUDE CAMPONESA LGBT À OFICINA DE DIÁLOGO NACIONAL DE JUVENTUDE E SUCESSÃO RURAL

A construção do Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural é uma demanda histórica para os Movimentos Sociais Populares do Campo, das Águas e das Florestas, por compreendermos que ele nos desafia a sintetizar e articular as Políticas Públicas já existentes, pautando a elaboração de novas Políticas que promovam o acesso à terra, o fortalecimento dos territórios, trabalho, a renda, educação do campo, qualidade de vida, participação, comunicação e democracia.

A problematização da sucessão aponta que temos um rural diverso e que precisamos reconhecer e respeitar a identidade dos/as jovens do campo, das Águas e das Florestas, como: étnico/racial, regional, cultural, religiosa, identidades de gênero, orientação sexual e a condição social e econômica.

Como forma de potencializar a formulação do plano, apontamos a inserção das temáticas: étnica/racial, acessibilidade (pessoas com deficiência), de orientação sexual e de identidades de gênero como transversal a todos os eixos temáticos. Por isso, nós, JUVENTUDE CAMPONESA LGBT, presentes na Oficina de Diálogos do Plano de Juventude e Sucessão Rural, diante das históricas opressões e exclusões ligadas a estrutura patriarcal, machista e LGBTfóbica, que atingi diretamente a juventude Lésbica, Gay, Bissexual, Transexual e Travesti no campo brasileiro, colocados e colocadas as margens dos limites da terra, propomos a incorporação dessa discussão e implementação desse tema nas políticas públicas voltadas ao rural.

Várias são as formas de invisibilidade da juventude LGBT no rural, e nós, os sujeitos e sujeitas se encontram sem direitos e condições de continuidade da vida que desejamos seguir, sem condições de produzir na terra que crescemos e queremos permanecer.

Muitos temas se agravam quando este é discutido, pois debater a permanência no campo, se torna mais complexa quando o sujeito e a sujeita LGBT é colocado em pauta. Uma liderança LGBT no meio rural é marcada por várias retaliações que terminam na sua invisibilidade dentro dos seus espaços de articulações, já que piadas machistas e LGBTfóbicas são escutadas a todos os momentos e o respeito muitas vezes se restringem as discussões de classe e lutas, que quando chegam na realidade do dia a dia e dentro das nossas áreas rurais só reina o preconceito e a discriminação.

Nossa pauta deve contemplar todas as conquistas e desafios colocados pelos vários Movimentos Sociais Populares do campo, sendo nossa articulação mais um espaço de fortalecimento das lutas e construção do Projeto Popular para o campo brasileiro.

Continuaremos pautando a luta pela terra e território, trabalho e renda, educação do campo, participação e qualidade de vida, porém não abriremos mão de trazer o recorte de afirmação LGBT nessas pautas. Queremos a quebra dos estereótipos criados sobre o ser homem e o ser mulher, com o respeito à autonomia e ao direito de construir o que queremos.

A nossa luta é todo dia, contra o racismo, machismo e LGBTfobia!

Brasília, 25 de fevereiro de 2016.