O QUE A LUTA ANTIMANICOMIAL TEM A VER COM O PROJETO POPULAR DO LEVANTE?

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Por Evelyn Sayeg (Coletivo de Saúde do Levante Popular da Juventude São Paulo)

A Luta Antimanicomial traz em si a discussão sobre uma sociedade mais justa e igualitária, a partir da construção de uma democracia antimanicomial. Em que os usuários possam encontrar sua responsabilização em seu próprio cuidado, participando ativamente, construindo seu projeto terapêutico e de vida. É uma luta que reflete a discussão da Reforma Sanitária em sua radicalidade, carregando consigo os princípios que originaram o SUS e apontando para a diretriz da equidade com intensidade.
O respeito às diferenças traz essa marca da equidade, pois reconhece a dificuldade e os maiores desafios dos sujeitos e permite fornecer o apoio necessário para que ele participe de fato da construção da sociedade. Isso se aproxima em muito do projeto popular o qual o Levante Popular da Juventude defende, em outras palavras e com outros métodos, mas quanto mais se aproximam mais esses dois projetos de sociedade se fortalecem e se qualificam.
As lutas pela ressignificação de estigmas, pela superação de estereótipos conservadores e ultrapassados, que refletem uma sociedade capitalista que mercantiliza todos os fenômenos e situações também faz parte da luta antimanicomial. Esta sociedade em que vivemos e que hoje se mostra em um tensionamento massivo, que polariza as situações e as pessoas. Nossa sociedade está repleta de lógicas manicomiais. Então quando discutimos o racismo e combatemos o preconceito à população preta estamos falando sobre combater e superar uma lógica manicomial. O mesmo acontece com a população LGBTT, as mulheres, os pobres, enfim, essas minorias na produção de discursos hegemônicos que são a maioria da população. A desigualdade social é fruto da lógica manicomial que circula no mundo capitalista de forma invisível. Precisamos fazer ser visto este método de exclusão e de violência.
A lógica manicomial é justamente esse movimento continuo e que se perpetua década atrás de década excluindo pessoas porque elas são diferentes, porque elas tem sentimentos, pensamentos e ações que não se encaixam na ordenação da lógica de produção capitalista. A lógica manicomial está presente em todas as situações de violação de direitos humanos, está presente em qualquer situação em que há uma hierarquia autoritarista. Se há alguém sendo excluído, maltratado ou obrigado a se encaixar em alguma caixinha para servir à alguém ou à um grupo há uma lógica manicomial incidindo na situação. Não precisa ser louco para ser atingido por isso.
Foi criado um discurso e uma subjetividade que toma as pessoas na nossa sociedade, no geral, acreditando que a loucura é contagiosa e assustadora. Mas na verdade a Luta Antimanicomial e o dia-a-dia nos serviços de saúde mental nos ensina que a loucura é a maior resistência que essa sociedade capitalista já viu. A loucura é tão sincera e verdadeira que se recusa a participar dessa máquina de moer que é o sistema capitalista. Ela reinventa todos os dias uma nova forma de resistir e de questionar a hierarquia, a desigualdade, o sofrimento.
Ao estar próximo disso tudo você é contagiado sim. O que nós lutadoras e lutadores precisamos escolher é se queremos ser contagiado pelo sofrimento da violência social, da violência dos

manicômios, da violência da prisão ou pelo sofrimento que lhe é comum, seja a quem for, todos sofremos, todos nós precisamos ler e conversar com o nosso sofrimento. O reflexo do sofrimento do outro não deve nos assustar e nós não devemos oprimir e violar o outro pelo seu sofrimento ou pela sua loucura. Devemos lutar para que seu sofrimento não cresça, devemos lutar para que sua dor desapareça, devemos lutar para que a sociedade não seja manicomial e para que respeite as diferentes formas de pensar, sentir, agir e sofrer!

Manicômios Nunca Mais!
Por Uma Democracia Antimanicomial!
Juventude que ousa lutar, constrói o poder popular!

Dia Nacional da Luta Antimanicomial: 18 de maio de 2016 às 13h no Vão do Masp!