Diante da pandemia do novo coronavírus, vivemos um momento histórico que exige ainda mais força e solidariedade entre o povo.
No último período, o governo Bolsonaro anunciou um corte de 50% do auxílio emergencial, além de maiores restrições para acesso ao benefício. A manutenção do valor de R$ 600 para o auxílio emergencial é uma questão de justiça social. A pandemia e a relativa paralisia das atividades produtivas significam a ausência de renda para milhões de brasileiros.
Não se trata de um problema inflacionário, mas um problema político, da falta de políticas públicas
Em um país que ruma de volta ao fatídico mapa da fome, políticas de transferência de renda marcam uma linha tênue entre morrer de vírus ou de fome. Essa situação, que já era dramática, foi agravada com aumento dos preços dos alimentos.
Não se trata de um problema inflacionário, mas um problema político, da falta de políticas públicas para garantir a segurança alimentar e frear a especulação financeira e sanha de lucro do setor.
O arroz, símbolo desse processo, aumentou mais de 100% de seu valor, passando de R$15,00 para R$40,00 o pacote de 5kg, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), mas esse aumento vem acompanhado de outros itens como o óleo, limão e o leite.
Os fatos recentes só reforçam que a permanência do governo Bolsonaro é uma ameaça a vida do povo brasileiro. Então temos que acumular força desgastando-o, isolando-o para sermos capazes de derrotá-lo.
Aumento do preço dos alimentos no Brasil
Em pleno século XXI e o povo brasileiro passando fome novamente. São mais de 10 MILHÕES de brasileiras e brasileiros comendo hoje menos do que precisam para sobreviver!
São vários motivos que explicam por que voltamos, desde 2018, para o Mapa da Fome: o despejo de várias famílias que dependiam das terras para o sustento, a falta de emprego, a redução do auxílio emergencial para R$300 e, mais recente, o aumento no preço dos alimentos.
Mas por que o preço dos alimentos no Brasil aumentou tanto? Mais que os vaivéns da inflação, a política – ou a falta de política – ajuda a explicar algumas situações. Algumas altas podem ser atribuídas, também, a fatores como a ênfase dada ao agronegócio e o descaso com a segurança alimentar.
O que se viu desde o início do atual governo: um dos primeiros atos foi extinguir o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). Outro fator é a área de plantio. De acordo com o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 10 anos, até julho, a área plantada de arroz no Brasil encolheu 39,5%, de 2,8 milhões para 1,7 milhão de hectares. No mesmo período, a área da soja cresceu 58,3%, para 36,9 milhões de hectares.
Um dos produtos mais básicos na mesa do brasileiro, o arroz parece estar mais presente na pauta dos exportadores do que na produção local. Enquanto o vice-presidente Hamilton Mourão oferece como “explicação” um aumento da demanda causado pelo auxílio emergencial, a realidade mostra que tem sido mais negócio vender para outros países.
Apenas em agosto, as vendas ao exterior cresceram 93% sobre igual período do ano passado. E já se fala em recorde neste 2020, segundo a Cogo, consultoria especializada em agronegócio.
Não é uma crise, é um projeto
O agronegócio se tornou a aliança entre os grandes latifundiários, o capital financeiro internacional e as transnacionais. O capital financeiro internacional e as transnacionais são a face econômica do imperialismo atuando nos países. Essa é uma política que prioriza os interesses do capital internacional na agricultura brasileira.
Também há uma desvalorização da moeda do real frente ao dólar. E o que isso tem a ver com o nosso acesso aos alimentos? Com o dólar mais alto, as empresas ganham mais vendendo em dólar, ou seja, vendendo para o mercado externo.
O agronegócio não tem nenhum interesse em produzir alimentos – seu interesse é gerar lucro–, então faz tudo o que gera mais lucro. Ao exportar mais, consequentemente vai haver menos oferta de alimentos para o mercado interno. Com isso, as empresas passam a especular mais sobre os preços, o que significa um aumento no preço dos alimentos para o povo brasileiro.
Uma agricultura camponesa forte significa maior soberania alimentar, com um país menos dependente do mercado externo. O governo Bolsonaro coloca em risco a soberania alimentar brasileira para privilegiar os interesses das empresas estrangeiras, por isso voltamos para o mapa da fome.
A política do Bolsonaro ressalta a prioridade dada ao agronegócio e a redução da área plantada de vários produtos, o que também leva ao atual aumento do preço dos alimentos. São mais de dez milhões de brasileiros que hoje vivem em situação de insegurança alimentar.
De um lado o agronegócio, com suas enormes extensões de terra baseadas na monocultura e que exigem a utilização de enormes quantidades de agrotóxicos para a sua produção, o que levou o Brasil a se tornar o maior consumidor de venenos agrícolas do mundo. Do outro, a agroecologia com a diversidade da produção de alimentos saudáveis em harmonia com a natureza, e que inclui a totalidade de um sistema de produção, como as relações humanas, de trabalho, saúde, cultura, lazer e educação.
Porém, tudo isso só será possível de se realizar por meio do que chamamos de Reforma Agrária Popular.
Cada vez mais a luta pela reforma agrária implica no enfrentamento ao capital, que se manifesta na luta contra as grandes empresas transnacionais, como as do agronegócio, responsáveis pela produção dos agrotóxicos, sementes transgênicas, esgotamento dos recursos naturais e o preço abusivo dos alimentos que nos coloca de novo na situação de FOME no país.
A construção de uma Jornada Nacional: Periferia Viva Contra a Fome
“Temos pressa de trabalhar
Em prol do nosso bem estar
Com nosso direito de comer
Aquilo que precisar
Aquilo que nós gostamos
Temos pressa companheiro
De ver seus pensamentos
Se coincide com todos
Em matéria de alimentos
Se cada um de nós
Descobre seus sofrimentos
Temos pressa de ver
Livre todos brasileiros
Alimentados e sadios
Sem ser nenhum cativeiro
Que haja abundância de alimento
Que o trabalhador tem valor verdadeiro
Temos pressa senhor governador,
Senhor presidente da nação
Que atende nossos pedidos
E acha uma solução
Porque do jeito que está
É difícil ganhar o pão
Estamos todos doentes e fracos
É prejuízo pra nação
Temos pressa que saibas
Pra que serve o movimento do custo de vida
Não é subversão
É um direito de comida
E que todos temos pressa
De viver nossas vidas”
(Movimento Custo de Vida 1983)
Frente à indignante situação do povo brasileiro de não conseguir colocar nem mais o arroz e feijão sobre a mesa, a campanha Periferia Viva convocou uma grande Jornada Nacional de luta contra a FOME.
Entre os dias 01 e 17 de outubro serão realizadas ações em todos os territórios que estamos atuando para denunciar a situação da população brasileira, mas também apontar que existe uma saída a partir da solidariedade e da organização popular.
Estas ações têm um caráter agitativo e formativo e se relacionam com as atividades do Dia Mundial da Alimentação no dia 16 de outubro. A partir do mote “O preço da comida só sobe e o auxílio só desce” serão realizadas ações com as panelas vazias, resgatando os movimentos históricos contra a fome no país como o Movimento Custo de Vida.
Esse jornada de luta se integrará a um processo internacional de construção de uma Semana de Ação Anti-imperialista, que acontecerá de 5 a 10 de outubro de 2020, que vem sendo organizada pelas diversas redes e articulações, resgatando a simbologia de Che Guevara pelo profundo exemplo de solidariedade e luta contra o imperialismo.
A luta anti-imperialista
O conceito de imperialismo surge para designar a estratégia geopolítica de dominação da passagem do século XIX para o século XX. Segundo Lenin [revolucionário russo, principal líder da Revolução Russa de 1917 e primeiro presidente da Rússia socialista] o imperialismo não é apenas uma política ou comportamento dos estados. É uma fase avançada do desenvolvimento capitalista, que articula as necessidades do capitalismo para se desenvolver e as políticas de estado, que garantam essas necessidades. Ou seja, é uma política de estado sustentada em relações econômicas.
A Jornada Internacional de Luta Anti-imperialista – que se realizará de 5 a 10 de outubro – é uma iniciativa dos movimentos e organizações populares que reconhecem que os povos do mundo necessitam se unir para enfrentar nossos inimigos comuns.
Neste ano, nos marcos da Jornada Anti-imperialista, se trará a simbologia da figura de Che Guevara. Che representa a síntese de um período histórico revolucionário de nosso continente.
Suas ideias e sua prática formaram a simbologia do movimento revolucionário em Cuba e em toda América Latina. É diante do legado de Che Guevara e das diferentes lutas travadas em Nuestra América contra o imperialismo há séculos que será realizada a Semana de Ação Anti-imperialista.
O objetivo desta semana de ações é o de promover denúncias e mobilizações unitárias, nas ruas e nas redes, em nível internacional. Uma ampla articulação de partidos e movimentos populares e progressistas está em movimento, coordenando uma série de ações que sintetizam nossas lutas em cada canto do mundo.
Edição: Leandro Melito
Via Brasil de Fato