Se não fosse o governo de Jair Bolsonaro, com seu negacionismo, o Brasil poderia sediar uma linda festa
O Brasil tem todas as condições para sediar a Copa América. O Brasil tem um povo que é apaixonado por futebol, que ama uma boa discussão sobre os campeonatos, sobre estratégia e tática de time. O brasileiro adora uma polêmica sobre arbitragem, seus erros e também suas tecnologias.
O Brasil tem um povo que adora uma provocação, como podemos ver nas redes sociais em dia de clássico, elas são sempre movimentadas e, se não fosse a pandemia, seria as ruas o palco dessas festas.
Os brasileiros amam futebol de uma forma que se pode ver em poucos outros países. Os brasileiros têm orgulho de ser o maior campeão de Copas do Mundo até agora, de produzir artilheiros, craques; o país é um dos maiores celeiros de profissionais no mundo. E, ainda contamos com lindos estádios e torcidas apaixonadas pelos seus clubes.
Por isso, repito que o Brasil tem tudo para sediar a Copa América. Se não fosse o governo de Jair Bolsonaro, o Brasil poderia sediar uma linda festa.
Mas, infelizmente, considerando o momento que vivemos, não devemos sediar a Copa América. Digo infelizmente, porque, como amante do futebol, eu gostaria de ver e vivenciá-la. Gostaria de ver a efervescência nas ruas e nas casas, com suas calçadas e fachadas pintadas e decoradas, uma das marcas de expressão do povo brasileiro em eventos esportivos.
Ainda, devido a irresponsabilidade do governo Bolsonaro, que lidou com a pandemia com negligência e negacionismo científico desde o início, que negou as 100 milhões de doses da Vacina da Pfizer, que tem gerado aglomerações com irresponsabilidade: sem uso de máscaras e sem qualquer tipo de proteção. Não devemos e não podemos sediar a Copa América.
Não podemos sediar a Copa América, entre outros motivos, porque a irresponsabilidade do governo Bolsonaro é tamanha que, para responder a Pfizer demorou 9 meses, mas foi preciso apenas 30 minutos para responder à Conmebol. Contradições que apontam por si só qual a prioridade desse governo, e essa prioridade passa longe de ser a qualidade de vida do povo brasileiro.
Hoje vivemos um luto, foram mais de 463 mil mortes pela covid-19 até agora. São vidas de amigos, familiares, profissionais de futebol, e com toda a certeza, muitos deles também estariam felizes com a festa da Copa América. É em memória e respeito a essas vidas que não devemos defender a Copa América neste momento.
Bolsonaro quer fazer da Copa América a sua Copa da década de 1970, onde o governo Médici se utilizou da paixão do brasileiro pelo futebol para poder desviar a atenção do povo das tragédias políticas que o Brasil vivia naquele período. Mas, há de se destacar que os tempos não são os mesmos do período da ditadura de 1964 e, ainda que Bolsonaro tente resgatar a linha utilitarista de Médici, aprendemos com o nosso passado a não silenciar diante de nenhum ditador.
A cada dia que a CPI da Covid avança, demonstra-se quão profunda foi a omissão do governo no combate ao coronavírus, além disso, demonstra também como a condução genocida do governo Bolsonaro é responsável pelo aprofundamento das consequências da pandemia. O que se torna o impeditivo para a realização da Copa América.
Agora resta saber se os governadores que vinham se contrapondo à irresponsabilidade do governo federal na luta contra a covid-19 irão ou não embarcar na aventura irresponsável da construção da Copa América. Para esses governadores precisa estar bem nítido: lutar contra a pandemia é também não autorizar que a Copa aconteça em seus estados. Não é o momento de recebermos um evento desse tamanho e, caso sua realização de fato seja aprovada, seria lindo e uma grande demonstração de amor e patriotismo que os jogadores da Seleção Brasileira não se apresentem à CBF e se recusem a participar dos jogos.
Pra finalizar, pra você que leu até aqui e, imagino, assim como eu também é apaixonado por futebol, gostaria de deixar duas reflexões. Primeiro que, se a Argentina, que vive a mesma crise sanitária e social que nós vivemos, não pode sediar Copa América, por que nós deveríamos? Segundo, se não podemos realizar a Copa América por tudo isso que foi exposto acima, e o Brasil vivendo na iminência da 3° onda, não seria hora de pararmos também a libertadores e o campeonato brasileiro?
O esporte, antes de tudo, tem como base o cuidado com a saúde e com a vida, é contraditório amar um e não pensar no outro.