


Dia Internacional da Juventude: Um chamado para transformar a realidade.
Neste Dia Internacional da Juventude (12), é necessário refletir com profundidade sobre o papel que a juventude ocupa nas disputas políticas e sociais do presente. No Brasil e no mundo temos uma sociedade marcada por desigualdades estruturais, exploração econômica e múltiplas formas de opressão que atingem diretamente trabalhadores, mulheres, negros e negras, pessoas LGBT, etc. Em momentos de crise como o que estamos vivendo, a juventude é um dos grupos sociais mais impactados. Nesse sentido, a juventude não é apenas uma fase da vida: ela é uma categoria política e histórica em permanente tensão com a ordem vigente, uma luta constante pelo direito de ser jovem.
Ao articular o pensamento crítico com a prática política, compreendemos que a juventude, especialmente quando organizada, possui um papel estratégico na construção de alternativas à barbárie do capitalismo. É o que vimos com a Revolução Cubana, a resistência da juventude palestina, os sandinistas na Nicarágua, os estudantes argentinos com a Reforma Universitária de Córdoba, os jovens sahelianos na luta por erradicar as mazelas do neocolonialismo, a juventude brasileira e de outros países latino-americanos contra as ditaduras cívico-militares. Em todos os cantos do mundo, a juventude tem o potencial de impulsionar a transformação de sua realidade, assumindo o papel de protagonista da experiência de questionar a ordem vigente.
Sob a ótica da teoria crítica, a juventude é concebida não apenas como uma etapa biológica, mas como um grupo social com potencial disruptivo diante da ordem capitalista, patriarcal e racista. Para Marcuse, os sujeitos juvenis que ainda não estão completamente absorvidos pelas engrenagens da reprodução social do capital, podem expressar formas de consciência e ação que tensionam o conformismo dominante. A juventude, nesse sentido, aparece como portadora de uma sensibilidade à injustiça, uma recusa ao mundo tal como ele é.
Contudo, essa potência não é dada — ela é forjada. O potencial crítico da juventude está em permanente disputa entre a captura ideológica promovida pelas indústrias culturais e o consumo, e o engajamento político em projetos emancipatórios. É por isso que organizar a juventude em torno de um projeto coletivo, com horizonte socialista e popular, deve ser uma tarefa estratégica e a ordem do dia das organizações políticas de esquerda.
A juventude não é um grupo social desprendido dos outros, mas tem a potencialidade de criar, propor e experimentar formas de resistência e de engajamento por novas formas de luta. A história da luta de classes revela o papel ativo e protagônico da juventude nos momentos de ruptura e mobilização social, seja na luta contra o neofascismo e a extrema-direita, ou conduzindo e construindo as trincheiras das revoluções socialistas, as universidades e escolas ocupadas e as periferias em resistência. No Brasil, os exemplos são numerosos: desde os estudantes que enfrentaram a ditadura militar, até os jovens negros e periféricos que constroem cotidianamente ações de Solidariedade em seus territórios através de Cozinhas Populares e Solidárias, cursinhos populares e Pré-Enem, batalhas de MC, turmas de Alfabetização e tantas outras ferramentas que fortalecem nosso povo.
Esse protagonismo histórico não é acidental, mas sim uma conquista em constante disputa. Ainda assim, a juventude, por sua inserção nas contradições do presente e sua relativa autonomia em relação aos mecanismos de conformação social, é capaz de articular pautas imediatas a projetos históricos mais amplos. É nessa articulação entre as lutas por direitos concretos e a transformação radical da sociedade que a juventude se torna um sujeito estratégico para um Projeto Popular para o Brasil e o mundo.
A luta da juventude também se conecta de forma inseparável à defesa da soberania nacional. Um país sem controle sobre suas riquezas naturais, sem capacidade de decidir seu próprio destino e submisso aos interesses do imperialismo, jamais garantirá dignidade para seu povo. Entre as expressões mais cruéis da exploração capitalista está a escala de trabalho 6×1, que retira dos trabalhadores — especialmente os mais jovens e precarizados — o direito fundamental ao descanso e à vida plena. A juventude que trabalha em shoppings, call centers, supermercados e tantos outros setores conhece na pele o que significa viver para trabalhar, e não trabalhar para viver. Defender o fim da escala 6×1 é lutar pelo direito ao tempo livre, à convivência comunitária, ao estudo, à cultura e à participação política. É afirmar que não aceitaremos uma economia sustentada pelo esgotamento físico e mental da classe trabalhadora. A juventude que se organiza por um novo projeto de sociedade sabe que a luta pelo fim da escala 6×1 é também a luta por uma vida digna e por um Brasil soberano e democrático.
É preciso reforçar: a juventude não é homogênea. É importante lembrar que os filhos e filhas classe trabalhadora trabalhadora, negros e negras, indígenas, quilombolas, LGBTs, das periferias urbanas e do campo são os que mais sofrem com os efeitos das violências do sistema. Sistema esse que tenta insistentemente tornar esses corpos descartáveis, mas são esses corpos que têm resistido e criado redes de apoio, cultura de base e luta popular.
Diante desta crise permanente do capitalismo — agravada pela precarização do trabalho, pela destruição ambiental, pelo avanço do autoritarismo e pelas múltiplas formas de exclusão —, organizar a juventude é tarefa central para a construção de um novo projeto de sociedade. É necessário criar condições para que o potencial rebelde da juventude seja canalizado em direção a uma prática política consequente, renovada, alegre, verdadeiramente democrática e participativa, sobretudo enraizada nas lutas populares e orientada por um horizonte revolucionário.
A juventude que se organiza, que estuda criticamente a realidade, que atua nos territórios, nas escolas, nas universidades, nos movimentos, é aquela que transforma a indignação em ação, a rebeldia em consciência, e a esperança em projeto. E por isso, surgiu há mais de uma década o Levante Popular da Juventude, porque esse movimento social construído e dirigido por jovens aposta na força da juventude, principalmente na capacidade de nossa geração de enfrentar a lógica da morte e do lucro, e de construir, com as mãos e com os sonhos, uma nova forma de vida — anticapitalista, antirracista, antipatriarcal e profundamente democrática.
Celebrar o Dia Internacional da Juventude não é apenas reconhecer sua importância social. É, sobretudo, afirmar seu papel como sujeito político estratégico na luta de classes. A juventude não é apêndice, não é promessa futura: é presente em movimento, é luta concreta, é motor de transformações, é o dedo na ferida de um sistema que insiste em nos apagar desse mundo. Somos mais que uma fase de transição entre a infância e a vida adulta, e mais do que o futuro da sociedade. A juventude é presente, tem demandas e lutas para hoje. Somos parte do agora: a luta pelo presente e por um futuro de libertação dos nossos povos. Somos como a argila moldável de uma nova sociedade que expõe a contradição dos valores do império, em que o lucro vale mais do que as nossas vidas, e a partir disso maturamos a semente de um novo mundo. Por isso, neste 12 de agosto, reafirmamos o compromisso com a juventude dos povos, especialmente do Sul Global, que resistem ao imperialismo e que constroem a nova alvorada. Porque, como nos ensina a história, quando a juventude se levanta, o sistema treme. E é exatamente isso que queremos: fazê-lo ruir e despertar um novo horizonte.
Allanis Dimitria Pedrosa, Joyce Pedroso Protasio e Lucas Gertz Monteiro.
Coordenação Nacional do Levante Popular da Juventude