Desde os anos 90’, quando a Coreia do Sul passava por uma grande crise econômica, fruto das diversas guerras, o governo do país começou a investir diretamente na cultura. Desde aí se iniciou o ‘boom’ da K-culture ou da Onda Hallyu. Hallyu vem de um termo chinês usado por jornalistas ao se espantarem com o avanço da cultura sul-coreana no país e quer dizer, em tradução literal, “fluxo da coreia”. A onda Hallyu se deu inicialmente com os ‘dramas’ (como são chamadas as séries coreanas) tendo um grande fluxo de consumo no leste, sul e sudeste da Ásia e se solidificou com o K-pop, que com o auxílio do YouTube, atravessou oceanos e entrou em milhões de casas pelo mundo. Apesar de vir desde os anos 90 essa crescente, apenas em 2012 viria o boom da visibilidade e do reconhecimento, quando estourou o hit “Gangnam Style” do Psy, música que era uma crítica à sociedade consumista e elitista sul coreana. Desde aí não parou mais e o K-pop se tornou o estilo mais escutado do mundo: BTS, BlackPink, Super Junior, SHINee, 2ne1, Big Bang, Girls Generation… E por aí vai.
Com a série Round 6, que atualmente é a série mais assistida da história, não foi só a música que conquistou o mundo. As narrativas utilizadas pelas obras Sul Coreanas não são nem de longe o que a gente está acostumado a consumir, e nos mostram formas diferentes de encarar o mundo de forma crítica. Prova disso foi a aclamação do filme Parasita de 2019. Não é à toa que o ator Park Seo Joon (Itaewon Class) foi escalado para o novo filme da Capitã Marvel, já que agora, o foco da Onda Hallyu é Hollywood. Na pandemia, o aumento das inscrições nas plataformas streamings (Netflix, Viki) e Fansubs (sites traduzidos de fãs para fãs), junto com a popularização da k-culture, tornou o Brasil o 3° maior consumidor de doramas, perdendo apenas para Malásia e Tailândia.
A Coreia Sul vai consolidando seu ‘soft power’ cada dia mais, tornando outros países como China e Japão, seus competidores, que correm para investir em programas de auditórios para encontrar novos ‘idols’ nacionais e produzirem suas próprias séries. Apenas em 2021, estima-se que o governo Sul Coreano investiu mais de 7 bilhões de reais em sua própria cultura. A disputa não é mais apenas no mercado econômico, agora é cultural. A Coreia do Sul vem se enriquecendo cada dia mais, dobrando seu PIB pela cultura, tendo o BTS como “face” , tornam-se assim líderes mundiais das novas gerações.
E o que a gente aqui no Brasil pode aprender com a Coreia do Sul? Que investir em cultura é investir em soberania. O que tirou eles da crise foi o investimento e a valorização dos seus talentos internos. Foi acreditar no que eles tinham de melhor. Essa mudança não foi brusca, foi gradual, foram necessárias décadas de aprimoramento e investimento interno, sem se deixar vencer pela hegemonia cultural imperialista.
E como parece que Bong Joon Ho, diretor de Parasita, estava certo, quando superamos as barreiras das legendas, vamos conhecer muitas produções incríveis. Gostou de Round 6 e tá querendo mais? Aqui vai umas dicas para começar a conhecer um pouco melhor a K-culture: Pousando no Amor (Netflix); The Devil Judge (Viki, Fansubs); Youth of May (Viki, Fansubs); A Caminho do Céu (Netflix); Goblin (Viki, Fansubs); Enfermeira Exorcista (Netflix).
Revisão: Lucila Bezerra