[Papo Reto] Ser de esquerda hoje é lutar contra o golpismo

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Os acontecimentos que se sucederam nas últimas semanas colocaram a público o que os movimentos populares vêm denunciando desde o ano passado: está em curso um golpe em nosso país. As forças neoliberais incapazes de eleger seu programa nas urnas em quatro eleições seguidas resolveram virar a mesa. Desta vez, contudo, a elite ao que parece não lançará mão das forças armadas. Estão utilizando de uma estratégica mais sofisticada, a ruptura institucional está sendo operada principalmente nos espaços de poder sob os quais não há nenhum controle democrático: o Judiciário e a Mídia.
Os setores médios, em parte dominados pelo ódio e conservadorismo, em parte iludidos pela narrativa da corrupção que a mídia lhes conta, tornaram-se a força social do golpismo. A burguesia que até agora parecia estar dividida quanto ao golpe como atalho para o poder, tem dado sinais de unificação em torno desse caminho. O cerco sobre o governo e o PT está se fechando. Contudo, é preciso perceber que o que está em jogo nessa ofensiva não é apenas Dilma e Lula. O que está em jogo nessa ofensiva são todas as representações políticas e ideológicas de esquerda.
É evidente que o governo e o PT tem sido os alvos preferencias da mídia e do Judiciário, contudo, esse é apenas o começo. Consumado o golpe, o esforço de criminalização e desmoralização se direcionará sobre tudo que cheire a organização popular. Sindicatos, cooperativas, movimentos populares e até mesmo organizações estudantis estarão sob fogo cerrado. Não é sem razão que hoje usar uma simples camiseta vermelha pode se tornar um grande risco de agressões, pois são os símbolos da esquerda que estão sendo combatidos.
Na medida que o golpe se efetive, a imposição de uma profunda derrota política e ideológica das forças progressistas é necessária, para que o neoliberalismo possa implementar o seu programa. Seja através de Temer, Cunha ou Serra estará por vir uma agenda ultra conservadora do ponto de vista dos Direitos civis e sociais, e ultra ortodoxa do ponto de vista econômico. A resposta para a crise que o neoliberalismo apresentará causará um impacto profundo na vida das pessoas, e para que isso se viabilize é preciso eliminar todas as formas de resistência.
Portanto, lutar contra a ofensiva golpista e em defesa da democracia é um imperativo para todos que se consideram de esquerda. São as nossas garantias constitucionais de existência que estão sob risco. Deste modo, torna-se incompreensível o posicionamento de alguns setores da esquerda que não identificam que há um golpe em curso, e que veem legalidade em um impeachment sem base jurídica, conduzido por Eduardo Cunha. Ou ainda, que neste momento de polarização adotam a saída pirlim pim pim: “Fora Todos”, a solução mágica que além de absurda, joga água no moinho da Direita. Neste momento decisivo a História cobrará caro pelas posturas vacilantes diante desse golpe iminente que repercutirá sobre todos.
O dia 18 de Março apontou que não é preciso ser petista para defender a democracia, que não é preciso se comprometer com os erros desse governo para enfrentar a Direita golpista. Milhares de pessoas foram às ruas para dizer que não haverá golpe, demonstrando que nesse país há resistência. Essa é a hora de jogarmos nossas energias para convocar todos os segmentos do povo brasileiro a se organizarem contra o golpe, em nossas escolas, universidades e comunidades. Esse é a hora de usar as nossas ferramentas de comunicação e de agitação para desmascarar a farsa da Globo. Essa é a hora de mobilizarmos a juventude para a jornada de lutas que teremos até o dia da votação, em especial no grande ato do dia 31 de Março.
Para a elite desse país a democracia não é um princípio, mas uma conveniência. Enquanto for funcional aos seus interesses a democracia é um valor absoluto, no entanto, quando eles forem atingidos ainda que minimamente, o que impera é a vontade da minoria. Em nome daqueles que morreram combatendo a ditadura e lutando pela democracia que temos hoje, só o que nos cabe é honrar suas vidas de luta, dedicando as nossas para barrar a ofensiva golpista.

bsb