Mulheres do feminismo popular: é tempo de não ter medo!

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Ana Flor Fernandes Rodrigues, militante do Levante Popular da Juventude em Pernambuco.

Tornou-se possível perceber que estamos na linha de frente de toda nossa atual conjuntura política. São tempos difíceis para todas nós que ousamos sonhar com uma pátria livre das amarras do sistema capitalista e do machismo diário que nos violenta. Tudo piora quando caímos na reflexão de que bancadas religiosas e fundamentalistas tentam regular nossos espaços e corpos. Mesmo que isso não nos seja uma novidade. Onde nos empurram para o privado e nos privam do público.

Historicamente sempre estivemos nos primeiros pelotões das batalhas cotidianas da vida. Na favela, nas cozinhas dos patrões, na creche com os filhos, nas escolas de ensino precarizado. No trabalho compulsório e sem direitos trabalhistas. Nas jornadas duplas, triplas, de um cansaço mental e físico diante dos esforços constantes em busca de sobrevivência, descanso, do direito das mulheres.

O “não” sempre esteve ali, posto e imposto. Nas mulheres guerreiras, que em inúmeros momentos pensaram em desistir das suas próprias vidas, das guerrilhas sociais que não pareciam e nem parecem ter fim. Uma solidão fincada na nossa construção social. Onde pai abandona filho e mae, e o estado lamenta e ignora afirmando que dessa maneira não constitui família, afinal: mãe solteira. Onde mãe passa fome e tenta colocar leite e pão na boca do filho.

Os tempos nunca foram fáceis para nenhuma de nós. Que com bastante força nos tornamos mulheres. Algumas fortalezas, outras muralhas. Preparadas para derrubar qualquer projeto de lei que tente contrariar e destruir nossas identidades. Como nos disse Dilma: “eu não renuncio”. E não podemos negar que ela é uma dessas tantas mulheres que eu vos falo nesse texto. Que apesar de sustentar um debate que tem sido falho, e está sambando de um lado que não vem dialogando, de certa forma, com o povo, deve ser respeitada. Pois foi eleita de forma democrática, e precisa imediatamente reconhecer, reparar e acertar os erros.

Vivemos em um mundo onde o fato de ser feminista assusta. Onde uma mulher falando deixa deputado, senador, governador, prefeito e vereador de perna bamba. E que os partidos de uma direita silenciosa e tendenciosa, fazem barulho e vão  nas ruas tentando nos amedrontar. Até usam como pauta que mulher é coisa frágil.

Porém, o que  esqueceram é que não somos uma ou duas. Que além de mulher, somos mulheres. E que essas que eles tentam fazer recuar estão organizadas. Dentro de um projeto conhecido e intitulado pelas mesmas de Projeto Popular. E além de popular, feminista. Onde as pretas descem nas favelas e entram nas escolas, organizando outras e dizendo que juntas nós somos muitas. Onde lutadoras do povo espalhadas por todo Brasil semeiam um discurso que nos coloca enquanto sujeitas políticas que visam e buscam um sistema de transformação e emancipação das companheiras.

Finalizo esse texto afirmando que durante esses meses nebulosos e assustadores que estamos vivenciando, é preciso que digamos umas as outras que é tempo de sonhar. Tempo de irmos ás ruas, de mãos dadas, pela democracia. É tempo de ecoarmos nossas vozes. E mesmo que saibamos que não foi e nem será fácil, estaremos aqui, em luta. Porque somos muitas, organizadas, em marcha! Porque não estamos sozinhas, e não somos vozes solitárias. Porque existe um golpe em curso, e nós defendemos o estado democrático de direito. E porque falamos umas para as outras que é tempo de não ter medo!

Sigamos em luta e marcha, companheiras. Por um país democrático, feminista e popular. Onde todas sejamos donas das nossas próprias narrativas e livres das amarras de um sistema que sempre nos aprisionou. Pois, com uma pátria livre, venceremos!

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