por Filipe Rodrigues, Levante MG
O próximo encontro de negros e negras da UNE convoca com o tema: “Minha presença te incomoda? Conquistar direitos e afrontar o racismo”. Ironicamente a chamada é uma pergunta aos brancos, que dificilmente admitem o racismo. Cá entre nós, em um tema importante, cabe a nós compreender que o incômodo não é pela presença negra, e sim pelo racismo. Enxergar ou não enxergar conflitos raciais é uma questão de consciência. Mais, eles estão muito presentes, são fortes e incomodam negros e negras, não aos brancos e brancas.
Ao falar da universidade estamos falando de um espaço de poder. Um convívio recheado de transformações, conhecimentos e oportunidades de um emprego melhor. É um universo de qualificações que pode superar largamente a vertente técnica e profissional. O problema é que a hegemonia do poder é branca. Vivemos numa instituição construída por nós, mas que foi pensada por pouca gente (branca) para pouca gente (branca) com seus referenciais de mundo europeus (brancos) e da elite (branca) norte-americana.
Nossa presença (e nossa ausência em espaços de poder) materializa as desigualdades raciais e relativiza a meritocracia. Mérito não existe sem igualdade de condições. Desse jeito o que existe é privilégio. Por isso as ações afirmativas ainda precisam avançar muito nas universidades para fazer frente ao racismo institucional. Além das desigualdades materiais, veja suas referências de leitura: quantas pessoas negras? Quantos indígenas? Toca no assunto racial? O que fala dos negros, só que foram escravizados? Quantos são de fora da Europa e dos Estados Unidos? Quantos africanos? Sério, depois olhe lá e reflita.
Precisamos pensar além das grades e também o porquê delas… as grades de hoje não são a continuidade dos velhos cativeiros? Pela grade da instituição não acessamos a nossa história, lutas e lideranças. Nos deparamos com um incômodo silêncio sobre a nossa presença positiva na sociedade. Silêncio por vezes quebrado com pequenas aparições que nos inferiorizam. E assim se reproduz o racismo na universidade. Isso é que incomoda.
Cabe a nós tomar consciência, nos qualificar, nos associar e transformar essas práticas institucionais que conservam as hierarquias raciais naturalizadas. Precisamos atuar despertando a consciência sobre a problemática racial; elaborar soluções para os conflitos. Sair do silêncio. Nos formar e agir em conjunto. Oxalá esse ENUNE nos fortaleça pra isso! Afinal, a situação que já era dura antes, fica ainda mais dura agora que a elite organiza seus conhecidos golpes para retirar nossos direitos e manter seus privilégios. Precisamos de toda nossa força.