“Mais da metade dos lares em que vivem crianças e adolescentes são acometidos pela insegurança alimentar”
A condição de vida que a maioria dos jovens brasileiros encontram hoje é de completa precarização. O cenário de retirada de direitos caminha junto com esses corpos e mentes que são constantemente colocados como a esperança de construção do futuro, mas que precisam de condições reais para enfrentar o presente, porque é aqui que estamos.
Boa parte da juventude brasileira vive atualmente em condições que comprometem o seu pleno desenvolvimento e, portanto, a sua vida. A fome, o desmonte da educação, o desemprego, a criminalização dos espaços de cultura e lazer e a violência, sobretudo, contra corpos pretos. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola – Imaflora – mais da metade dos lares em que vivem crianças e adolescentes são acometidos pela insegurança alimentar. Esse número aumenta quando esses lares são presididos por jovens mulheres negras, o que escancara uma política estrutural de eliminação pela fome de um povo que tem cor, gênero e futuro. Revela também que o esvaziamento das políticas públicas de combate à fome atinge majoritariamente essas jovens que hoje são chefes de família e de seus lares e que não acessam uma alimentação adequada porque o Estado se ausenta do seu papel primeiro: alimentar o seu povo.
Com a condição de fome que as famílias brasileiras vêm enfrentando, o funcionamento adequado dos programas de alimentação escolar foram fundamentais para a garantia mínima da alimentação de crianças e adolescentes que, em muitos momentos, tiveram apenas a alimentação escolar como principal forma de nutrição. O sucateamento do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA – e o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAES – mostra que a ausência de políticas alimentares vinculada à educação contribui com a fome. Não à toa, o número de jovens em anos escolares em situação de insegurança alimentar aumentou drasticamente nos últimos 2 anos.
Para os jovens que conseguiram ingressar em uma instituição de ensino superior, quando os programas de incentivo à entrada e permanência na Universidade tinham um compromisso com os estudantes e com a classe trabalhadora, percebem hoje uma realidade distinta. Os cortes orçamentários interferem diretamente nos programas de assistência estudantil, que não são reajustados desde 2013. Assim, no Brasil real é impossível – ao menos – se alimentar com uma bolsa de R$400,00. Acessar o direito ao ensino superior mas não ter condições de permanecer, nos coloca de volta às Universidades do passado: para poucos.
Durante os anos de pandemia da COVID-19 em que as aulas presenciais estavam suspensas, o desmonte das políticas de assistência estudantil se intensificaram e o maior reflexo disso se dá pela suspensão de funcionamento dos Restaurantes e das Residências Universitárias. Essa situação colocou os estudantes na condição limitante de viver, já que para muitos, o RU era a principal fonte de alimentação.
É tão claro o descompromisso com a educação, que o atual escândalo nacional traz à tona a existência de um gabinete paralelo no MEC formado por pastores amigos de Milton Ribeiro – até a data do ocorrido, Ministro da Educação – e do Presidente Jair Bolsonaro que desviaram verbas da educação para bel prazeres individuais. Enquanto estudantes tentam sobreviver com R$400,00 e sem restaurante universitário num contexto de convergências de crises e aumento desastroso da fome, pastores fazem festinha com Milton Ribeiro, que dias após o vazamento do escândalo entregou o cargo.
Nesse cenário de agravamento da fome e retirada de direitos, somos atropelados pelas consequências de um Governo que esvazia políticas públicas de combate à fome e de incentivo agrícola. Consequências expressas no preço da cesta básica que acumula alta de quase 15% em relação ao mesmo período do ano anterior em cinco estados da região Nordeste do Brasil. A capital paraibana está entre as capitais nacionais que mais sofreram alteração de preços na cesta básica. Produtos de consumo cotidiano como café, açúcar e óleo de soja continuam em disparada no mercado. Isso porque não temos estoque e não incentivamos a produção. Quem consegue se virar come menos e mal e quem não consegue passa fome.
Com o retorno presencial das atividades nas Universidades, é necessária a continuação de muitas lutas. Nesse sentido, a organização coletiva, através de CA ‘s, DA’ s, DCE ‘s, é uma saída para a construção das Universidades que queremos: pública, gratuita, diversa, colorida e com os direitos de permanecer garantidos. Além disso, é necessário manter o funcionamento das políticas públicas que foram desenvolvidas a fim de assegurar o funcionamento pleno das instituições de ensino e que prezam pela qualidade de vida dos estudantes.
Temos pela frente um ano de muitos desafios, e o principal deles é derrotar Bolsonaro nas urnas. Nossa tarefa é votar por um projeto político que nos dê condições e direitos de ser jovem. Nós queremos escolas, Universidades, comida no prato, cultura e lazer. O caminho, é incentivar os jovens a tirarem o título de eleitor, votar em Lula e se organizar para que o Brasil volte a sorrir.
Juventude organizada para derrotar Bolsonaro!