A campanha para que a juventude brasileira tenha título de eleitor está lançada. Desde que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicou em seu site o dado estarrecedor de que o número de pessoas entre 16 a 18 anos que se cadastraram para votar caiu 82% em uma década, as organizações populares e diversos artistas com influência direta nesse público, como Anitta, Juliette, Bruna Marquezine, Gil do Vigor e Luiza Sonza, por exemplo, utilizaram as redes sociais para debater o tema.
O recado é claro: para tirar Bolsonaro do poder, o Brasil necessita do voto da juventude. Essa campanha já está sendo bem sucedida. Segundo os dados do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), no último mês houve um aumento de 31,3% de jovens com até 17 anos no alistamento eleitoral paulista. O TSE também constata que somente entre os dias 14 e 18 de Março foram emitidos aproximadamente 100 mil novos títulos de eleitor.
Essa campanha tem como pano de fundo uma conjuntura muito particular do momento político que estamos vivendo. Quando Bolsonaro ganhou as eleições em 2018, uma série de análises políticas foram realizadas para explicar o fenômeno de ascensão da extrema direita no Brasil e no mundo. Fazendo uma rápida síntese, é possível pontuar alguns fatores que foram preponderantes para a escalada da extrema direita. A crise do capital que se estende desde 2008; os algoritmos das redes sociais sendo usados como ferramenta de disseminação de ideais fascistas; o machismo; o discurso anti-imigrante, pró-armas e LGTQIA+fóbico. Cada um desses pontos, aliados à prisão e à inelegibilidade do presidente Lula, foi determinante para a vitória de Bolsonaro
Quatro anos depois, em meio à pandemia e ao agravamento da crise que já atingia o povo brasileiro desde o golpe de 2016, o cenário das pesquisas apontam o favoritismo de Lula. A população parece querer dar um basta ao processo fascista que vem tirando direitos e comida do prato de quem mais precisa. O cenário é de esperança, entretanto, não podemos deixar de admitir a força política do bolsonarismo, inclusive sua capilaridade.
A máquina de ódio, de mentiras e difamação utilizada na campanha de 2018 nas redes sociais não foi desligada com a vitória eleitoral. Pelo contrário, tornou-se constante durante todo o governo de Bolsonaro, inclusive, sendo utilizada na pandemia para espalhar boatos contra as medidas de isolamento, contra as vacinas e a favor do famoso e ineficaz kit covid.
A partir dessa estratégia de comunicação, o bolsonarismo se tornou uma bolha política que consegue atrair, segundo dados da última pesquisa Datafolha, 26% do atual eleitorado brasileiro. Com a desistência de Sérgio Moro às eleições presidenciais, esse número tende a aumentar. Isso é suficiente para vencer as eleições? Sim. Inclusive, em qualquer cenário sem o presidente Lula, Bolsonaro é o líder disparado nas pesquisas. E, mesmo com a candidatura de Lula, caso haja um grande movimento de abstenção de votos, de votos nulos e brancos, a possibilidade de vitória de Bolsonaro aumenta.
A descredibilização da política e do processo eleitoral como desestímulo à participação no processo democrático de voto pode ser, de fato, uma forte estratégia bolsonarista para 2022. No segundo turno de 2018, segundo dados do TSE, a abstenção chegou à casa dos 31,3 milhões, o que corresponde a 21,30% do total de votantes. Isso, somado a quase 11 milhões de votos brancos e nulos, corresponde a uma parte importante e significativa do eleitorado.
Apesar das diferenças entre os dois sistemas eleitorais, se fizermos um comparativo com as eleições dos EUA, em que o republicano Donald Trump utilizou uma estratégia muito semelhante de campanha permanente em seu governo, os esforços feitos pelo Partido Democrata contra a abstenção foram fundamentais para derrotá-lo. Trump, inclusive, conseguiu nas eleições de 2020, ter mais votos do que teve quatro anos antes, saltando para 73.886.400 votantes, contra 62.984.825 na eleição anterior. Ou seja, mesmo com o crescimento de sua bolha de apoiadores, Trump foi derrotado eleitoralmente.
No Brasil, a obrigatoriedade do voto não tem sido mais um empecilho para a abstenção. Por isso, entendemos que devemos ter o convencimento ao voto como estratégia fundamental para derrotar Bolsonaro. E não apenas o convencimento, mas a conscientização política, que é parte essencial na construção de nosso trabalho de base.
Todo esse cenário nos dá uma tarefa importante até o dia 4 de maio, data limite para as atividades de documentação junto aos tribunais eleitorais: convencer a juventude a tirar o título de eleitor. Além, claro, do incentivo à regularização da situação eleitoral para quem já tem mais de 18 anos.
É necessário ampliarmos essa campanha, nas ruas, nas escolas e nas universidades para que possamos reverter esses números. O destino de nosso país depende disso e estou muito confiante na força dos nossos jovens, dessa juventude que eu faço parte e que tanto luta, para derrotar Bolsonaro e enterrarmos de vez essa página triste de nossa história.
Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.
Edição: Vanessa Gonzaga
Via Brasil de Fato