Combater o fascismo, construindo um Brasil popular

Você está visualizando atualmente Combater o fascismo, construindo um Brasil popular
Ato em Copacabana. 4º Acampamento Nacional do Levante | Foto: Matheus Alves @imatheusalves

Carta-compromisso do IV Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude

Das periferias, escolas e universidades, 4 mil jovens de todos os cantos do Brasil, reunidos no IV Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude, no Rio de Janeiro, entre os dias 14 e 17 de novembro de 2024, assumiram, mais uma vez, o compromisso com a construção de um Projeto Popular para o país. Somos jovens da classe trabalhadora, mulheres, LGBTI+, negras e negros, indígenas, quilombolas, do campo e da cidade, em luta contra o sistema capitalista, racista e patriarcal, que nos explora e oprime.

Foto: Guilherme Gandolfi @guifrodu

Vivemos em um mundo em transição, marcado pelas crises econômica, social, política e ambiental, em que o capitalismo, para se manter de pé, intensifica as guerras contra os povos, a exploração da classe trabalhadora e a destruição do meio ambiente.

Em sua fase neoliberal,  o capital se une ao militarismo e à xenofobia, provocando guerras e conflitos ao redor do mundo, com objetivo de retomar suas altas taxas de lucro. Como consequência, do Brasil à Palestina, são milhares de vítimas de balas, da fome e da ausência de direitos fundamentais. As mesma armas que matam o povo palestino são as que exterminam a juventude negra nas favelas brasileiras.

Foto: Guilherme Gandolfi @guifrodu

Na periferia do capitalismo, nosso país está na mira do imperialismo norte-americano, que, tendo sua hegemonia em declínio, intensifica suas investidas para impedir que o povo brasileiro construa um projeto de soberania e desenvolvimento para nossa nação. Aos Estados Unidos e a seus aliados estratégicos interessa que o Brasil siga em uma posição subordinada, mas a juventude brasileira diz não. Faremos nossa história com as nossas próprias mãos.

É diante desse contexto de crise que se dá o crescimento da extrema direita ao redor do mundo. No Brasil, derrotamos esse segmento nas urnas em 2022, com a eleição Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda assim, o enfrentamento ao neofascismo e ao neoliberalismo segue sendo a principal tarefa de nossa geração.

Os governos de Michel Temer (MDB) e de Jair Bolsonaro (PL) deixaram como legado a volta da fome, o aumento da violência, a redução dos investimentos em educação e saúde, a privatização dos serviços públicos, a precarização do mundo do trabalho e, consequentemente, a perda de perspectiva de futuro para a juventude brasileira. Mas nós nos desafiamos a não deixar de sonhar.

Nossos inimigos tem como uma de suas armas a disputa de valores na sociedade, investindo politicamente e financeiramente na batalha das ideias. Por isso, sabemos que a luta ideológica é uma das principais tarefas para avançarmos no enfrentamento à extrema direita no Brasil. Porém, a defesa da democracia não é abstrata. Disputamos as mentes e corações por meio das ações concretas e da solidariedade. E cobramos do Estado que priorize as necessidades populares.

Com apenas 12 anos de existência, o Levante Popular da Juventude teve um papel destacado nas principais lutas do último período. A mesma organização que escrachou os torturadores da ditadura militar 2012, ano de nossa nacionalização, denunciou os golpistas do 8 de janeiro de 2023. Denunciamos os inimigos do Brasil, de Eduardo Cunha a Jair Bolsonaro. Brotamos em cada periferia do país, organizando a juventude por meio da cultura,  construímos as cozinhas populares contra a fome, impulsionamos a construção da rede Podemos + de cursinhos populares, lutamos em defesa da educação pública e pela democratização do ensino superior.

Diante do atual contexto, não basta administrar a crise. Precisamos ter iniciativa e retomar o debate sobre o projeto de país que queremos e necessitamos. Esse projeto é socialista, feminista, antirracista e popular.

Para conquistarmos vitórias para a juventude brasileira, precisamos apostar na organização, na formação e na luta. Em cada escola, universidade e periferia, queremos um Levante em luta. Por isso, no próximo período, apontamos a centralidade de crescer, enraizar e lutar. A organização coletiva é a saída concreta para a superação do capitalismo.

Para avançarmos na formação de uma nova geração de lutadores do povo, precisamos retomar a pedagogia da educação popular, combinando teoria e prática, e convocando a juventude a elaborar, refletir e ser protagonista na transformação da realidade.

Para construir a revolução brasileira, precisamos de milhões de jovens conscientes e organizados, por isso, apostamos na agitação e propaganda e na comunicação popular, aliando a criatividade, a arte e a cultura,  para denunciar as contradições da sociedade capitalista e anunciar o nosso projeto.

Foto: Matheus Alves @imatheusalves

Como nos ensinou Carlos Marighella, a ação faz a organização! Para derrotar o fascismo e a extrema direita no país, nos comprometemos com as seguintes bandeiras:

  1. Que os ricos paguem a conta!

No Brasil, 1% da população concentra 63% da riqueza. Taxar os super-ricos é uma necessidade no enfrentamento ao neoliberalismo e é uma medida fundamental para combater as desigualdades no país. Se são os ricos que financiam a miséria e as catástrofes climáticas, são eles que devem pagar essa conta.

  1. Por uma educação popular e libertadora!

Paulo Freire nos ensinou que a educação sozinha não muda o mundo, mas, sem ela, tampouco o mundo muda. Lutamos contra o Novo Ensino Médio, contra as escolas cívico-militares e a privatização do ensino básico nos estados. Também denunciamos os cortes na educação e o desmonte das universidades públicas. Queremos uma reforma universitária que amplie o acesso e a permanência da juventude no ensino superior e aponte para instituições socialmente referenciadas.

  1. Por um SUS do tamanho do povo brasileiro!

O SUS foi fruto da organização do povo brasileiro e é nossa tarefa dar continuidade a esse legado.  Devemos defender e fortalecer o SUS contra os interesses das grandes empresas, que tratam nossas vidas como mercadoria. A participação popular e o controle social no SUS são fundamentais. Por isso, defendemos a formação de milhares de agentes de educação popular em saúde e a construção de estágios de vivência no SUS.

  1. Por trabalho digno para a juventude!

Com a crise do sistema capitalista, a juventude é cada vez mais superexplorada no mundo do trabalho.  Lutamos pelo fim da escala 6×1, por direitos aos trabalhadores e trabalhadoras e pela regulamentação do mundo do trabalho. Defendemos uma vida digna para a juventude brasileira e que ela trabalhe com direitos.

  1. Combater a crise climática e construir uma transição justa e popular!

O capital em crise segue avançando, predatoriamente, sobre os recursos da natureza, destruindo a terra, as águas e o ar. No Brasil, o enfrentamento à crise climática passa pela luta contra o modelo agroexportador e por uma transição energética justa e popular.

  1. Demarcação já!

A violência e o genocídio contra os povos originários é uma marca estrutural da formação do país. Reafirmamos nosso compromisso com a demarcação de terras indígenas e quilombolas, marchando contra o Marco Temporal e a violência do agronegócio, em especial contra os povos originários.

  1. Contra a fome e em defesa da reforma agrária!

Nas periferias de nosso país, a luta contra a fome é uma prioridade. A produção de alimentos saudáveis é central para a garantia da soberania alimentar. Queremos reforma agrária popular e defendemos a manutenção e a ampliação das cozinhas populares, como forma de combate à fome e de geração de renda.

  1. Contra o machismo, o racismo e lgbtfobia!

O racismo, o machismo e a lgbtfobia são estruturais do capitalismo brasileiro. O combate a todas essas violências é cotidiano, ao passo que construímos uma agenda propositiva de reparação e ações afirmativas que nos aproximem de uma sociedade livre de opressão e exploração.

  1. Contra o extermínio da juventude e por um outro modelo de segurança pública!

Defendemos um modelo de segurança pública que preserve a vida e os direitos. Por isso, somos contra a violência policial nas periferias, que tem como alvo principal a juventude negra.

  1. Por uma comunicação popular de massas!

A disputa das ideias na sociedade exige a luta por uma comunicação popular e de massas para o povo brasileiro. Devemos ocupar as ruas e  as redes, contribuindo para a disputa de hegemonia, a partir do uso de diversas linguagens que estão no cotidiano da juventude.

  1. Sem anistia aos golpistas!

Os que atacam a democracia brasileira e impedem a juventude de sonhar não podem ser perdoados. A impunidade dos arquitetos do golpe militar ajudou a permitir que, ainda nos dias de hoje, setores conservadores defendam de forma aberta o autoritarismo violento. Não podemos repetir esse erro. Por isso, lutamos contra a anistia aos golpistas do 8 de janeiro de 2023.

  1. Solidariedade aos povos do mundo!

O capitalismo é um sistema global e a sua superação só será possível a partir da cooperação entre os povos. Por isso, nos somamos às lutas de nossos irmãos e irmãs que, em cada parte do mundo, travam corajosas batalhas pela transformação radical de nossa sociedade. Reafirmamos nosso compromisso com a soberania e o direito de autodeterminação dos povos e com a luta dos palestinos, cubanos e venezuelanos.

Juventude quer viver, a nossa luta é pelo povo no poder!

4º Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude,
17 de novembro de 2018, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.