Por Leonardo Nogueira, militante do Levante Popular da Juventude
(via Brasil de Fato)
2017 é um ano simbólico para o povo da Palestina. São 50 anos de ocupação e colonização de Israel nas terras palestinas. De 1967 aos dias de hoje, Israel não reconhece a legitimidade do Estado Palestino e promove uma verdadeira política de segregação entre árabes e judeus. Um conflito histórico e muito complexo. A região da Palestina já foi alvo de inúmeras guerras e disputas entre grandes impérios. Na primeira metade do século XX, atendendo aos anseios do sionismo – movimento judaico que reivindicava a criação de um Estado judeu – a Inglaterra se responsabilizou pela “doação de terras” sob o seu domínio no território Palestino. Em 1948, o Estado de Israel foi criado e atraiu judeus de todo o mundo em busca da chamada “terra prometida”. Desde então, os conflitos pela demarcação das fronteiras seguem até os dias atuais, pois Israel avança sobre as terras que fazem parte do território palestino e promove, com isso, um verdadeiro processo de colonização.
É, no mínimo, intrigante que Israel, apesar de ser um Estado tão recente, tenha construído (ou consolidado) um enorme aparato militar voltado em larga medida ao cerceamento do povo palestino no seu próprio território. Israel tornou-se uma referência em assuntos militares ao ponto de prestar assessoria a setores da segurança pública e a comercializar armas a outros países, como é o caso do Brasil. Mas, diante desse quadro, acredito que um elemento em particular motiva-nos, jovens brasileiros/as, a refletir e solidarizar com o povo palestino: a violência desferida pelo Estado israelense contra a juventude em território palestino, assumindo formas tão semelhantes à violência cometida a esse segmento no Brasil.
Estima-se que 400 crianças foram assassinadas durante os ataques de Israel em 2014 na Faixa de Gaza, após 21 dias de bombardeios ininterruptos. Organizações dos direitos humanos têm denunciado que a expectativa de vida em Gaza é de apenas 17 anos, sendo que 54% da população dessa região têm menos de 18 anos. São mais de 300 jovens palestinos com menos de 18 anos presos em Israel. A população palestina que vive na Cisjordânia tem sua mobilidade restringida. Em cidades como Hebron, não se pode sequer circular por toda a cidade que passou a ser ocupada por forças israelenses. Pequenas bases militares também foram instaladas nas áreas de entrada e saída dos municípios da Cisjordânia, controlando a circulação dos palestinos em suas próprias terras.
O mesmo Estado que pratica uma política violenta de segregação no território palestino atuou, nos últimos anos, formando militares no Rio de Janeiro e forneceu os chamados “caveirões” disponibilizados ao Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar carioca. A polícia militar no Rio de Janeiro (e em todo o Brasil) vem sendo fortemente denunciada pelo seu caráter violento, especialmente com jovens negros das periferias de nosso país. Os dados do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) “assassinatos de jovens” do Senado afirma que das mais de 50 mil pessoas assassinadas anualmente, quase metade das mortes são de jovens, majoritariamente negros. De acordo com este mesmo relatório, dos homicídios cometidos por policiais no Rio de Janeiro durante confrontos, 99% dos casos são arquivados sem investigação, e em 21% dos casos as vítimas tinham menos de 15 anos.
A violência cometida por Israel na Palestina e a violência cometida pelo Estado brasileiro contra a população pobre possuem um aspecto em comum: impactam diretamente a vida juventude. A luta pela desocupação israelense do território palestino também é uma luta do povo brasileiro e da juventude que se solidariza com as incontáveis formas de violação dos direitos humanos na Palestina. É preciso construir um projeto de vida pra juventude no Brasil e na Palestina. Daí a importância fundamental da criação do Estado Palestino. A juventude quer viver para construir uma Palestina livre e um Brasil sem violência!