A violência histórica que acompanha a mulher, fruto de uma sociedade moldada em valores machistas e opressores interferem na liberdade, no existir, no seu processo de construção enquanto mulher e enquanto ser social. Mulheres são violentadas todos os dias, a lei Maria da Penha ainda está longe de protegê-las e os profissionais despreparados para lidar com as situações que chegam diariamente às delegacias, o que diversas vezes resulta na falta de incentivo à denuncia. Hoje, na cozinha do Restaurante Universitário (Resun) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), entre as inúmeras mulheres que sofreram e irão sofrer com a opressão do machismo, Daniele Bispo dos Santos foi assassinada a facadas.
O homicídio ocorreu nesta manhã (19) nas dependências da UFS, São Cristóvão, o autor do crime, Cleiton Soares de Souza, 33, era ex companheiro da vítima, segundo a polícia. Daniele, 28, auxiliar de cozinha do Resun foi golpeada com diversas facadas e, sem resistir, morreu no local; pessoas que estavam por ali afirmam que após cometer o crime o rapaz tentou suicídio, mas foi impedido e preso em flagrante. Não é um momento de questionar a segurança dentro da Universidade como muitos estão fazendo, o crime que aconteceu nessa manhã poderia ter ocorrido em diversos outros lugares, pesquisas apontam que ano passado, 2012, a cada hora 10 mulheres eram vitima da violência no Brasil e que, entre as denuncias, 70% dos agressores eram o companheiro ou o cônjuge da vítima. Cleiton Soares Souza, 33A Agência Brasil aponta que de janeiro a dezembro de 2012 a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) contabilizou 732.468 registros, sendo 88.685 relatos de violência, 56% deles tratavam-se de violência física seguida de psicológica. Quanto mais claras as situações de violência ficam a sensação é que o único tratamento é a impunidade, o Brasil está entre o país em que mais se matam mulheres. Mês passado, na mesma Universidade, um estudante bateu na ex-parceira, servidora da UFS, uma das representantes da comissão que avaliou o caso afirma que ao rapaz restou apenas uma advertência.
A violência contra mulher estampa manchetes diariamente, a Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgou esse ano que um terço das mulheres já foram agredidas fisicamente ou sexualmente por um ex ou atual parceiro e que apesar da maioria saber sobre a Lei Maria da Penha, a minoria sabe o seu conteúdo e o que ela garante. É preciso conscientização, é preciso fazer valer o serviço de proteção à mulher, é preciso quebrar o machismo para que não seja preciso prevenção. Enquanto o direito de ir e vir da mulher não for garantido, é preciso mulher na rua para lutar; quando garantido, é preciso mulher na rua para não retroceder.
Por: Emilly Firmino
Sergipana, 18 anos, estudante de jornalismo, militante do Levante Popular da Juventude.