O dia 8 de março é símbolo do encontro entre feminismo e luta popular em que as mulheres trabalhadoras, enquanto sujeitas históricas se colocaram – e se colocam – em movimento protagonizando ações políticas por direitos, por igualdade e pelo fim da exploração. A história nos mostra como a organização das mulheres é força fundamental para provocar a transformação na sociedade e é nesse sentido que o dia internacional das mulheres é um marco celebrado com muita luta e mobilização popular em diversas regiões do planeta.
No Brasil atual, com um programa de governo autoritário que retira cotidianamente os nossos direitos, as mulheres protagonizam a resistência. Inclusive, fomos nós que ainda em 2018 enchemos as ruas do Brasil com a campanha Ele Não, para denunciar o programa misógino, racista e homofóbico que Bolsonaro representava.
É inegável que o governo Bolsonaro ataca a vida das mulheres e que para as mulheres negras, mães, LBTs, esse cenário é ainda pior. Mas importa voltar um pouquinho no tempo para compreender que o contexto que vivenciamos hoje é um projeto político. Desde 2015, às políticas de austeridade já afetavam a vida das mulheres, com a consolidação do golpe em 2016 se aprofundam os cortes na saúde, educação, cultura e programas sociais, como o Bolsa Família que afetam milhares de mulheres desde a disponibilidade de emprego até às demandas reprodutivas como as tarefas domésticas, de cuidado e o acesso a alimentação.
Com a eleição de Bolsonaro em 2018 e a ascensão do conservadorismo e da extrema direita há um aprofundamento acelerado no desmonte das políticas públicas voltadas para as mulheres, a começar pelo Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos que, extinto no governo Temer, é transformado em Ministério das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos e dirigido pela pastora evangélica Damares Alves que sustenta e reproduz o discurso conservador do bolsonarismo ações que nada têm a ver com uma política de vida digna para as mulheres brasileiras.
A convergência dessa crise social e política com a crise sanitária causada pela pandemia é letal para a vida das mulheres. Primeiro pela urgência do isolamento social que aprofundou a jornada de trabalho, o adoecimento físico e mental e a violência doméstica. Segundo, pela precarização das condições de vida com o aumento da taxa de desemprego, dos trabalhos precarizados e da informalidade e um retorno, aterrorizador, do Brasil para o mapa da fome. Nesse contexto, a construção do 8 de março é uma luta importantíssima para o feminismo e para a reconstrução do Brasil, sobretudo ao abrir a agenda de mobilizações do ano de 2022 que será decisivo para a construção de um futuro mais digno para as mulheres.
Nesse contexto, são inúmeros os motivos para as mulheres tomarem as ruas e marcarem a história como aquelas que derrubaram o governo Bolsonaro. Nós temos a força, a criatividade e a ousadia necessária para transformar o Brasil em um país em que todas e todos possamos viver e não apenas sobreviver. Nossa luta é ditada pela realidade que os nossos pés pisam e para transformar a realidade brasileira é urgente organizar a sociedade em torno da construção de um governo popular e democrático. É pela vida das mulheres que dizemos “Bolsonaro nunca mais!”
Lutamos pelo direito de votar e ser votadas, pelo direito de estudar e de trabalhar. Lutamos e continuaremos lutando até que o sistema de opressões que nos violenta cotidianamente seja um passado distante. Por isso é fundamental que cada chão que a gente pisa seja um território de luta, desde as escolas, universidades, cozinhas comunitárias, até as praças e as ruas. Nada nunca nos foi dado e o fim do machismo e do patriarcado só será possível com muita organização coletiva.
Neste 8 de março vamos mostrar a força e ousadia das mulheres que constroem o Brasil e abrir caminho para a longa jornada de lutas que esse ano vai eleger Lula presidente. Assim como fizemos em 2018, é nossa tarefa prioritária organizar a luta feminista e popular em torno das eleições.
Daiane Araújo, militante do Levante Popular da Juventude e Diretora de Mulheres da UNE