Colorindo as ruas com alegria e rebeldia!
Dia 28 de junho de 1969, em Manhattan, Nova Iorque, grupos LGBTs se rebelaram contra a violência policial ocorrida no bar Stonewall Inn, lugar conhecido por ser um dos poucos espaços LGBTs de sociabilidade nas periferias da cidade. Os episódios de repressão geraram motins e movimentações políticas por dias, resultando em organização popular para conquista de espaços em que gays, lésbicas, travestis e drag queens pudessem frequentar sem o risco de irem presos. Esse é conhecido como o início do movimento LGBT contemporâneo, momento que influenciou outros grupos a se organizarem, tanto em solo estadunidense, como em outros países.
Mas, ao contrário do cenário democrático para reivindicações de direitos – como é o caso do movimento contracultura e do movimento pelos direitos civis dos negros e negras – vivenciado pelos Estados Unidos na década de 60; o Brasil enfrentava uma ditadura militar que durou até final da década de 80. Apesar de a primeira organização nesse sentido ser o Grupo Somos, que surgiu em São Paulo em 1978, em nosso país os movimentos LGBT ganham força apenas com o processo de luta pela Anistia, pelas Diretas Já e pela construção da Democracia.
Durante esse período lutamos incessantemente para construção de direitos e na defesa da liberdade de sermos quem somos. Conquistamos a retirada da homossexualidade do Código Internacional de Doenças; casais do mesmo gênero passaram a poder adotar crianças e estabelecer o direito do casamento; pessoas trans podem alterar no registro civil o seu prenome e sexo, sem necessidade de cirurgia ou laudos médicos; houve uma crescente entrada de LGBTs na Educação Superior.
Entretanto, segundo os dados do Grupo Gay da Bahia, em 2017 foram registradas 445 mortes de LGBTs – 30% a mais do que o último ano. Além disso, setores conservadores construíram nos últimos tempos uma sólida aliança para conter conquistas da comunidade LGBT, bem como para retirar os direitos já conquistados. Nas últimas eleições elegemos o Congresso Nacional mais conservador desde a ditadura de 64, cenário de retrocessos que se aprofunda ainda mais após o golpe de Estado que levou ao impeachment de Dilma em 2016, orquestrado por setores do judiciário e do empresariado transacional, juntamente à grande mídia e pelo campo golpista dentro do Congresso, liderado pelo PMDB.
Se o golpe trouxe retrocessos para a comunidade LGBT, para a sociedade como um todo isso não ocorre de forma diferente. É preciso compreender antes de qualquer coisa que a luta pelos direitos LGBTs está dentro da luta pela construção de um Brasil soberano e popular, capaz de corresponder as reais necessidades do nosso povo. O que vivemos hoje é um cenário em que diariamente o campo golpista nos ataca através da tentativa de retirada de direitos e do esvaziamento do papel Estado. Para garantir a manutenção de seus privilégios e do acúmulo de riquezas, a elite brasileira está disposta a tudo, inclusive retirar a dignidade do povo brasileiro.
Nesse contexto, é fundamental lutar para não retroceder diante das nossas conquistas históricas, sobretudo as que ocorreram nos governos do Partido dos Trabalhadores (PT), que nas últimas décadas se dedicou à construção de políticas públicas e direitos. Devemos estar permanentemente nas ruas para defender uma Educação Pública e de qualidade, denunciando e enfrentando as iniciativas conservadoras de projeto de lei sobre “ideologia de gênero”; para fortalecer o SUS e as políticas de saúde voltadas às especificidades da comunidade LGBT. É fundamental a denúncia contínua da tentativa de avanço do conservadorismo que estamos vivenciado na sociedade brasileira.
Como resposta ao golpe e às contradições impostas pelo capitalismo, que se utiliza do racismo, do machismo e a LGBTfobia como forma de oprimir o povo e se manter do poder, precisamos dar centralidade à luta em defesa da democracia, que vem sendo cada vez mais ameaçada desde o processo que resultou no impeachment e segue com a prisão política de Lula. É através da garantia de um país democrático que construiremos maiores possibilidades de conquistas concretas para a dignidade do povo brasileiro.
O dia 28 de junho traz consigo a lição de rebeldia pra defender radicalmente e com orgulho aquilo que somos. Devemos permanecer firmes na luta pela justiça social, pelo pleno desenvolvimento das potências dos indivíduos e pela dignidade da vida. Continuemos com alegria colorindo as ruas na defesa da democracia e de um Projeto Popular para o país, colorido, antirracista, feminista. E que nunca nos esqueçamos: A história são os povos que a fazem! Portanto, nosso lugar é nas ruas e em luta.