25 de novembro: Dia da não violência contra a mulher
Já pensou o que é viver constantemente com medo? Moldar a sua vida pelo medo de sofrer algum tipo de violência, sobretudo sexual? Qual roupa usar? Qual horário sair, qual voltar? Será que se ele souber disso vai ficar bravo e vai me bater? Essas são algumas questões que nós, mulheres, nos deparamos constantemente e a partir delas nós vamos aprendendo as contradições da sociedade e construindo nossas resistências.
O dia 25 de novembro desde 1999 foi instituído pela ONU como Dia Internacional de Luta contra a Violência sobre a Mulher. Essa data foi escolhida porque 39 anos antes, em 1960, três irmãs: Pátria, Minerva e Maria Teresa Mirabal foram brutalmente assassinadas a mando do ditador Leônidas Trujillo, na República Dominicana. Podemos ver essa história no livro ou no filme “No Tempo das Borboletas”.
Hoje, quase 20 anos depois da institucionalização desse dia, percebemos que, mais do que nunca é necessário tirar a violência contra as mulheres da vala comum. Não basta só reconhecer que a violência existe e buscar alternativas para combatê-la é necessário questionarmos: por que ela existe?
Para acabarmos com um problema é necessário combate-lo pela raiz. E a raiz da violência contra as mulheres se encontra numa sociedade capitalista-patriarcal-racista que depende, sistematicamente, de mulheres alienadas que exerçam trabalhados reprodutivos e de cuidados gratuitamente, ou seja, de mulheres que não se questionem sobre seu lugar para que o Estado se exima da responsabilidade com as crianças, os idosos e até mesmo com os homens, que “economize” em hospitais, escolas, creches e restaurantes populares e que se preocupe apenas com a segurança pública, punindo jovens e naturalizando a presença da polícia em todos os espaços da nossa vida.
Reconhecer que a nossa sociedade é patriarcal é reconhecer que o poder é centrado nas mãos dos homens que são eles que tomam todas as decisões que afetam o conjunto da sociedade. A violência contra as mulheres não acontece só dentro das nossas casas, mas também no espaço público, com um claro objetivo de fazê-lo um ambiente hostil pra nós. E não por acaso. A política, o poder, é exercido, dentro de casa ou nas ruas?
Reconhecer que nossa sociedade além de patriarcal é capitalista-racista é desnaturalizar o dado do último Mapa da Violência de 2018 que aponta: em 10 anos caiu em 8% o índice de feminicídio contra mulheres brancas e aumentou 15% o de mulheres negras. Por que as mulheres negras são as mais violentadas? Será porque estas são a base e qualquer mudança profunda no seu lugar mexe na hierarquia de toda a sociedade?
As irmãs Mirabal morreram por questionarem a ordem e quererem o seu país livre de uma ditadura, quantas mulheres não tiveram o mesmo fim durante os anos de chumbo na América Latina? E agora que o poder executivo da nossa sociedade brasileira estará nas mãos não só de um homem, mas de generais, empresários, líderes religiosos que já declararam sua misoginia, não só através de palavras, mas das políticas que defendem e vão colocar em prática?
O recado que damos é que a única forma de combater um problema estrutural é transformando radicalmente sua estrutura. Se hoje temos políticas de combate à violência que estão sendo ameaças pelo futuro governo é porque mulheres se organizaram e lutaram para instituir Delegacias Especializadas de Atendimento a Mulheres, Secretarias de Políticas Públicas e mais um conjunto de políticas que visavam garantir uma igualdade no acesso a direitos. Toda uma história de lutas e conquistas não pode ser apaga da noite pro dia. Sabemos que serão tempos difíceis e que tentarão naturalizar essa violência ao máximo, através da religião, dos meios de comunicação e de uma educação cada vez mais “partidária” do conservadorismo.
Mas em nenhum momento podemos nos esquecer de que “mulheres são como água e crescem quando estão juntas”. O aprofundamento da violência é uma resposta ao avanço que construímos na sociedade coletivamente. A auto-organização das mulheres permite que tomemos consciência da nossa realidade e que construamos estratégias para transformá-la. Dia 29 de setembro foi mais um exemplo de que estamos atentas, sabemos quem são nossos inimigos e não podem nos apagar da luta dos oprimidos pelo poder. Vamos aproveitar esses 16 dias de ativismo e os próximos dias que se sucederão para construir atividades e tarefas cada vez mais enraizadas em nossos territórios, mexendo na estrutura e na vida de mulheres jovens construtoras de um feminismo cada vez mais popular e emancipador.