Florestan Fernandes nasceu há exatos cem anos, em 22 de julho de 1920. Nasceu e morreu, 75 anos depois, na cidade de São Paulo. Filho de dona Maria, imigrante portuguesa que primeiro foi trabalhadora rural e depois empregada doméstica, fora batizado como Florestan mas ainda pequeno recebeu o apelido de “Vicente”, dado por sua madrinha de origem aristocrática, com quem conviveu durante parte da infância e para a qual o nome Florestan seria inadequado a um menino de origem tão pobre.
Florestan começou a trabalhar aos seis anos de idade. Desde novo muito viveu a rua, a dinâmica da cidade e suas contradições. Foi engraxate, aprendiz de barbeiro, balconista, alfaiate, garçom. Ainda criança aprendeu a ler e fez do ato da leitura um exercício para toda sua vida. O menino Florestan, assim como o velho Florestan, era curioso e inquieto. Há relatos de que seus amigos de infância costumeiramente diziam que ele iria “ficar de miolo mole” de tanto ler.
Remando contra a maré, em 1941 ele consegue ingressar na atual Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Ali formou-se sociólogo, mas a afirmação pode ser outra: ali formou-se um dos maiores intérpretes do Brasil. Tempos depois, o próprio Florestan chegou à conclusão de que a Sociologia chegou a ele primeiro por meio do trabalho e, depois, por meio dos livros.
Influenciado pelo que ocorria na vida política e cultural do Brasil nas décadas de 40 e 50 Florestan deu início à sua brilhante, criativa e original atividade intelectual. Tornou-se professor da USP, tendo desenvolvido até os anos 1990 estudos densos e científicos sobre as grandes questões do Brasil. Ele preocupou-se em analisar centralmente as classes sociais em nosso país, a questão étnico-racial, o capitalismo dependente, a educação e os fundamentos do pensamento sociológico, transformando o estilo investigativo, subvertendo formas de fazer pesquisa e contrariando os padrões convencionais de intervenção intelectual.
A origem de classe de Florestan muito diz sobre o enorme legado teórico por ele deixado. Seu compromisso com “os de baixo” é uma característica que atravessa sua vida e que se faz presente na perspectiva revolucionária por ele reivindicada. Foi militante do Partido dos Trabalhadores, tendo sido deputado federal com exemplar atuação. Defendeu “a ideia das forças contra a força das ideias”. Sonhou e lutou por um Brasil justo. Foi perseguido como intelectual e militante das causas populares.
O centenário de nascimento desse grande pensador é motivo de celebração. Temos a tarefa coletiva de manter vivo o pensamento de Florestan Fernandes. Ele é uma inspiração teórica e prática da maior inspiração para nós que construímos a Escola Nacional Paulo Freire.
Florestan Fernandes, presente!