O Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN) concedeu a Medalha Jorge Careli de Direitos Humanos ao movimento social Levante Popular da Juventude nesta terça-feira (25) pela iniciativa da campanha “Nós por Nós contra o CoronaVírus”. A campanha acontece em mais de 63 territórios em 18 estados em todas as regiões do País, e só na cidade do Rio de Janeiro, onde aconteceu a premiação, já foram arrecadadas 1.569 cestas básicas, fruto de um trabalho coletivo e movido pela solidariedade.
A medalha é uma homenagem àqueles que se destacam na luta contra a violência e na defesa dos direitos humanos, criada em homenagem ao servidor público Jorge Careli, desaparecido em 10 de agosto de 1993 e vítima de violência policial. A edição deste ano foi realizada virtualmente e houve uma homenagem especial aos 120 anos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de dedicação à Saúde, Ciência e Tecnologia.
A Nós por Nós existe desde 2015 na frente territorial do movimento com a vontade de construir junto com os moradores das periferias atividades que pudessem mudar a realidade daquelas pessoas de forma permanente. Com a pandemia, foram geradas crises social, econômica e sanitária que fizeram com que a ação de solidariedade se intensifique. Segundo Carlos Alberto, coordenador nacional do Levante, a ação surge para “cumprir esse nosso papel social de ser a ponte entre quem quer e pode doar e quem precisa das doações, visto que, a desigualdade social é estrutural e histórica no brasil, sendo aprofundada pela pandemia”.
“Esse reconhecimento vindo da Fiocruz, para nós, é gratificante. O Levante constrói o processo de solidariedade por entender que tem um compromisso da luta social envolvido nesse momento, que é o compromisso da gente ajudar aqueles que estão sob vulnerabilidade”, conta Carlos sobre a importância da homenagem para a organização.
Na Escola Nacional Paulo Freire, um espaço de formação política, técnica e cultural para a juventude e para classe trabalhadora em São Paulo, as ações de solidariedade começaram em março e desde então a escola distribui cestas básicas para 200 famílias cadastradas de forma permanente. “De quinze em quinze dias a gente entrega as cestas e no intervalo a gente mantém o contato com as famílias através de ligações, em que a gente recolhia um pouco como estava a situação família e quais seriam as demandas em saúde ou jurídicas para que profissionais voluntários pudessem fazer um atendimento direcionado na perspectiva de oferecer uma assistência integral a essa famílias para além da demanda da comida”, afirmou Thays Carvalho, coordenadora político-pedagógica da Escola Nacional Paulo Freire. Além da entrega dos alimentos, a campanha também realiza acompanhamento jurídico e de saúde com apoio de voluntários e voluntárias, e, em agosto, começou a produzir o jornal comunitário Periferia Viva.
No Cerro Corá, morro do Rio de Janeiro, existe um trabalho de integração da juventude da comunidade e mobilização dos moradores. Durante a campanha aconteceu a criação de uma Feira Popular, “reunimos cerca de 40 pessoas no morro, em uma distância segura e fizemos uma conversa apresentando a campanha e os movimentos que ajudam no processo. Depois, a cada três pessoas, foram pegando seus alimentos conforme as suas necessidades”, conta Janderson Dias, militante do Levante, “aqui funcionamos também como brigada, então temos a galera que pensa as feiras junto com os moradores, dividindo a tarefa com eles”.
Em Pernambuco, o que começou com a distribuição de alimentos nos territórios onde já havia atuação do Levante, se transformou na formação e no trabalho de Agentes Populares de Saúde dentro da campanha Mãos Solidárias. “A gente identificou duas problemáticas muito grandes com a população: a primeira era a fome e a outra era a questão da informação. As pessoas não tinham informações corretas sobre o que estava acontecendo ou orientações básicas de saúde. Então, além da entrega das cestas, a gente começou um processo de levar informações a essas pessoas”, disse Andreia Lopes, enfermeira e militante do Levante. “Além de fortalecer a nossa identidade nos territórios, a gente consegue crescer e fortalecer esse vínculo não só com as pessoas da comunidade, mas com os equipamentos sociais daquele território, como as igrejas, as escolas, tentando manter um vínculo para se ajudar nessa rede de apoio e solidariedade no território”, conclui.
A campanha acredita que a existe uma diferença entre solidariedade, caridade e assistencialismo. Dentro dessa ótica, na solidariedade existe uma preocupação com o indivíduo de uma forma que o observa de forma integral, analisando também o território onde ele vive e suas necessidades materiais e imateriais, como direito e saúde, por exemplo.
“No início da pandemia, estava na boca do povo essa solidariedade, mas essa solidariedade das empresas, essa solidariedade mais comercial, reforça essa condição de passividade, ‘eu sou o que tem e estou dando para aquele que não tem’. Então reforça aquele lugar de ver o povo, ver a classe trabalhadora como agente passivo, o que vai contra o tipo de solidariedade que a gente vem propondo desde o princípio”, afirmou Thays Carvalho, coordenadora político-pedagógica da Escola Nacional Paulo Freire “A nossa solidariedade é aquela que envolve as pessoas no processo, que elas se sentem parte da resolução do problema. É uma solidariedade ativa que convoca as pessoas para a ação, que dialoga com as suas necessidades, mobiliza formas de resolver essas necessidades, mas contando com a participação dessas pessoas”.
A campanha “Nós por Nós contra o Coronavírus” acontece em parceria com a campanha nacional Periferia Viva e a Campanha Mãos Solidárias, em Pernambuco. Em todo o país, as campanhas de solidariedade têm sido construídas conjuntamente à outras organizações, como o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Consulta Popular, Rede de Cursinhos Podemos Mais, Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) e diversas outras.