PAPO RETO | 25 de Julho: Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

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Meu choro não é nada além de carnaval
É lágrima de samba na ponta dos pés
A multidão avança como vendaval
Me joga na avenida que não sei qualé
Pirata e super homem cantam o calor
Um peixe amarelo beija minha mão
As asas de um anjo soltas pelo chão
Na chuva de confetes deixo a minha dor
Na avenida, deixei lá
A pele preta e a minha voz
Na avenida, deixei lá
A minha fala, minha opinião
A minha casa, minha solidão
Joguei do alto do terceiro andar
Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida
Na avenida
Dura até o fim
Mulher do fim do mundo
Eu sou e vou até o fim cantar

(Trecho da música Mulher do Fim do Mundo, de Elza Soares)

No dia  25 de julho é comemorado o dia Internacional  da  Mulher  negra Latino americana Caribenha  essa  data  relembra  o  marco  internacional  de  luta  e  resistência  da  mulher  negra para  reafirmar  a  necessidade  de  enfrentar  o  racismo  e  o  sexismo  vivido  até  hoje  por  mulheres que  sofrem  com  a  discriminação  racial,  social  e  de  gênero.

A data no país foi regulamentada a partir da Lei nº 12.987/2014, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela foi uma líder quilombola que viveu durante o século 18. Com a morte do companheiro, Tereza se tornou a rainha do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças de Luiz Pinto de Souza Coutinho e a população (79 negros e 30 índios), morta ou aprisionada.

Mulheres negras no contexto da pandemia

A crise causada pelo coronavírus reforçou as desigualdades no país. Tudo isso sendo reforçado quando a primeira pessoa a morrer de covid-19 no Brasil foi Rosana Aparecida Urbano, mulher, negra, empregada doméstica. Que contraiu o vírus dos patrões após os mesmos voltarem de uma viagem ao exterior

Vale lembrar, que  o vírus não faz distinção de gênero ou raça, mas as desigualdades sim, e elas agravam a situação para algumas pessoas, em especial, mulheres negras.

A pesquisa Coronavírus – Mães das Favelas, realizada pelo Data Favela e pelo Instituto Locomotiva aponta que as favelas do Brasil têm 5,2 milhões de mães, em sua maioria, mulheres negras. 72% delas afirmam que a alimentação de sua família ficou prejudicada pela ausência de renda, durante o isolamento social.

Além disso, 73% dizem que não têm nenhuma poupança que permita manter os gastos sem trabalhar por um dia que seja e 92% dizem que terão dificuldade para comprar comida após um mês sem renda.

Por fim, oito a cada dez dizem que a renda já caiu por causa do coronavírus e 76% relatam que, com os filhos em casa sem ir para a escola, os gastos em casa aumentaram.

Dessa forma, como podemos falar em uma sociedade realmente democrática quando uma parcela tão significativa da população não tem garantidos seus direitos básicos à vida e a saúde?

Violência

Quase 30 anos se passaram, mas a situação não está diferente nem a nível mundial, nós ainda lutamos pelo reconhecimento dentro de condições mínimas de humanidade!

Dados que comprovam que somos o grupo mais vulnerável são os levantados pelo Atlas da Violência (2018), que mostra que no intervalo de 2008 a 2018, atos violentos contra mulheres negras no Brasil aumentaram 12,4%, enquanto o número em relação às brancas teve diminuição de 11,7%. No Atlas da Violência de 2020, outro dado é contrastante quando comparamos a realidade das mulheres negras com a das brancas no Brasil: para cada branca vítima de homicídio, o número para mulheres negras é de 1,8, quase o dobro.

Desafiar novos caminhos para estremecer e fazer a sociedade um pouco mais igualitária é uma luta constante, seguimos e na certeza dos ensinamentos e de mulheres negras que ousaram romper com as estruturas racistas.

Seguimos existindo e resistindo enquanto mulheres indígenas, negras, latino-americanas e caribenhas. Se a sociedade não nos abre caminhos, nós abriremos e criaremos futuros possíveis – e os que não são, tornaremos !

Viva Lélia Gonzalez, Tereza de Benguela, Marielle Franco, Paula Silva, Heralda Ferreira, Maíra cordeiro e tantas mulheres indígenas, negras, latino-americanas e caribenhas!

Que esse dia contemple os nossos feitos e não mais nos coloque em posição de subalternidade!