Junho marca o mês do orgulho LGBTI, data que foi fruto de um movimento popular reativo à repressão dos direitos civis e políticos da população LGBTI em Stonewall, no final da década de 1960, e que consagrou uma inflexão na luta dos direitos LGBTI com mobilizações massivas em todo globo, sobretudo, na América Latina, pelo reconhecimento de cidadania e pelo enfrentamento e combate à LGBTIfobia.
Passados mais de cinquenta anos deste levante popular, os desafios relacionados à supressão das opressões ligadas à diversidade sexual e de gênero continuam latentes em nossa sociedade, sendo imperativo com que os movimentos populares, e as entidades estudantis, façam um balanço sobre a realidade das pessoas LGBTI e os direitos até então conquistados, como forma de apontar os gargalos e denunciar as violações de direitos frequentes nos ambientes de trabalho, educacionais e do poder e legislação públicos.
Vivenciamos um período de inclusão social, educacional e legal, com a criação de políticas públicas para a população LGBTI e do reconhecimento de dispositivos que garantiram o acesso à cidadania perante o Estado brasileiro, que em pese, em um dos últimos atos do governo deposto de Dilma Rousseff, consagrou através do Decreto n° 8727/16 a instituição do Nome Social e do reconhecimento da identidade de gênero de pessoas Travestis e Transexuais no âmbito da administração pública.
Resta compreender que tal ruptura que vivenciamos em nosso tecido social e institucional fruto de um Golpe de Estado também carrega em si a ojeriza e o ódio em relação às mulheres, aos pretos e à população LGBTI. A sucessão dos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro foi marcada não à toa pelo desmonte de políticas que garantiam direitos aos LGBTIs e ao fomento de um movimento radicalizado de extrema-direita contrário às nossas vidas. O crescente aumento da violência e da repressão em relação às pessoas LGBTI tornou-se uma das principais agendas de atuação do neofascismo no Brasil.
O legado deixado por estes amargos anos são profundos na vida de cada LGBTI em nosso país, a vulnerabilização e marginalidade social intensificaram em nossa realidade compelindo centenas de LGBTIs à fome, ao desemprego e à violência. Este cenário de calamidade terá de ser urgentemente superado, e deverá se dar pela intensificação dos movimentos populares reativos à LGBTIfobia e pela promoção do combate às opressões sexuais e de gênero e do neofascismo pelo Estado brasileiro.
O novo tempo que se instalou deve-se, sobretudo, ao papel destes sujeitos que mesmo à margem tomaram o curso do leito desse rio chamado Brasil. Há uma dívida histórica em que pese a estes cidadãos e cidadãs pela travessia de um dos piores períodos de nossa história. A união e reconstrução do país deverá passar pelas mãos das mulheres, das(os) pretas(os), das(os) trabalhadoras(es), das(os) estudantes e, principalmente, de nós LGBTIs. A educação deverá ser um dos palcos onde nossa luta precisará ser travada com a ampliação da Lei de Cotas para pessoas T, com a produção de políticas de acolhimento e de permanência estudantis para LGBTIs e com o ensino da diversidade e tolerância nas escolas e universidades em cada canto deste país. Só hasteando nossa bandeira colorida e nossas vozes é que haverá democracia e orgulho!