Vivemos em um tempo de crise estrutural do capitalismo, que abrange dimensões econômica, social, política e ambiental, tendo como consequência o aprofundamento das desigualdades sociais, a crescente precarização da vida, a intensificação da corrida armamentista, o aprofundamento do cenário de emergência climática e a ascensão da extrema direita ao redor do mundo.
Diante desse contexto de crise, o capital busca formas de ampliar a exploração da classe trabalhadora e dos recursos naturais, em especial nos países periféricos, para manter a sua capacidade de dominação e acumulação de lucro, em detrimento da vida das pessoas e do planeta.
O atual cenário global também é marcado por um processo de perda relativa de hegemonia do imperialismo estadunidense, com a ascensão de novas potências, em especial a China e a Rússia, apontando para uma transição para a multipolaridade.
Como consequência, vivemos em um contexto geopolítico em que os EUA buscam ampliar a exploração das nações do Sul Global. Além das tentativas de desestabilização democrática em diversos países, o capital aposta na intensificação da militarização, por meio dos aparatos repressivos do Estado ou da segurança privada, no fomento de conflitos armados, com guerras civis e genocídios, a exemplo do que acontece na Palestina e no Congo.
Além da força militar e política, há também uma intensificação na busca pela dominação a partir da disputa de ideias, com o crescimento do neofascismo e do neoliberalismo enquanto ideologia. O papel cumprido pelas big techs e o financiamento de bilionários à política da extrema direita, por exemplo, indicam o fortalecimento da aliança entre a burguesia e setores reacionários, que combinam violência e manipulação ideológica para exercer poder sobre a classe trabalhadora.
Ou seja, diante dessa conjuntura, a luta ideológica ganha um papel central e, alinhada à mobilização, formação e organização popular, é essencial para provocar alterações na correlação de forças na sociedade.
Em 2022, conseguimos derrotar o projeto de Jair Bolsonaro (PL) e da extrema direita nas urnas, com a eleição de Lula (PT). Essa vitória foi fundamental para abrirmos uma janela histórica de oportunidade para acumularmos força. Mas o governo, composto por uma frente ampla, está em disputa e sofre com a tentativa de cerco promovida pelos setores neoliberais, que o tensionam e disputam a sua posição.
Diante desse cenário, os movimentos populares têm um papel importante e precisam incidir para fazer com que se concretize o programa que foi eleito em 2022. Para isso, é preciso retomarmos nossa capacidade de iniciativa política; construir a unidade da esquerda, conformando uma frente popular que, no interior da frente ampla, pressione pelo seu programa; e qualificar nosso trabalho de base nos territórios. Novamente, a disputa ideológica é parte estratégica da realização dessas tarefas, contribuindo para a construção de uma ofensiva contra a extrema direita e retomando o debate sobre um projeto de país soberano e a serviço dos interesses populares.
Como parte desse processo de reposicionamento do campo democrático e popular na conjuntura brasileira, apostamos na construção do Plebiscito Popular por um Brasil Mais Justo, que irá consultar e mobilizar a população pela redução da jornada de trabalho, o fim da escala 6×1, a taxação das grandes fortunas e a isenção do imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês.
Como a juventude é impactada por esse contexto?
A juventude é uma categoria histórica e social extremamente associada à emergência de políticas sociais que possibilitam, em especial, a formação escolar e a inserção no mundo do trabalho. Além disso, a juventude do povo brasileiro possui classe social, raça, gênero e orientação sexual.
A última década no Brasil, marcada pelo avanço do neoliberalismo e pelo contexto de defensiva da esquerda, deixou marcas profundas nas vidas dos jovens brasileiros, em especial os que vivem nas periferias.
A juventude ocupa hoje majoritariamente os postos informais e precarizados de trabalho, como em empresas de telemarketing, redes de supermercados e shoppings, nos quais a escala é de seis dias trabalhados por um de folga.
A juventude é também alvo das políticas de genocídio do Estado, sofrendo principalmente com a chamada “guerra às drogas”, sendo mortos e presos massivamente. Também são os jovens negros/as e periféricos/as os mais atingidos pelas consequências da crise climática associada ao racismo ambiental.
Ainda assim, cabe destacar que também são esses sujeitos, e é esse território, o das periferias brasileiras, onde se produzem expoentes da cultura brasileira, se encontram os terreiros, as rodas de capoeira, as rodas de rima e diversas outras formas de resistência popular, por meio da cultura comunitária e de rua.
É também a juventude brasileira que faz a luta em defesa da educação e que, como sujeito histórico, protagoniza lutas e conquistas para toda a classe trabalhadora. Por isso, entendemos que a juventude tem um papel estratégico na luta popular, sendo linha de frente, com rebeldia, criatividade e ousadia na luta pela dignidade.
Os desafios de nosso tempo para comunicação popular, a agitação e a propaganda
A comunicação, a agitação e a propaganda e a cultura são estratégicas, na medida em que são essenciais para a disputa de hegemonia na sociedade. Ou seja, são instrumentos fundamentais para a disputa moral e cultural da sociedade, como ensina Gramsci.
Todos os processos revolucionários que aconteceram ao redor do mundo dedicaram esforços à construção de ferramentas de disputa de hegemonia. Uma vez que a hegemonia dominante é a da classe dominante, cabe à classe trabalhadora disputar para que as suas ideias se tornem hegemônicas.
Essa compreensão é ainda mais urgente, diante do aprofundamento da batalha engendrada pelo neoliberalismo e pela extrema direita, marcada pela disseminação de fake news, pela cultura do ódio e da violência e pela ideia de que o individualismo é o caminho para a superação de problemas que atingem coletivamente a classe trabalhadora.
Dessa forma, precisamos avançar e aprofundar nossas ferramentas de disputa ideológica e de hegemonia na sociedade. Só com a combinação da luta ideológica com a luta institucional e a luta de massas conseguiremos superar o quadro atual.
Da capoeira ao samba, temos na cultura brasileira o nosso maior exemplo de resistência.
Essa cultura é comunitária e popular, e foi partindo dessa afirmação que homenageamos Zé do Caroço em nosso 1º Seminário de Comunicação Popular e Agitação e Propaganda do Levante Popular da Juventude, realizado entre os dias 5 e 7 de maio de 2025, em São Paulo.
No campo da comunicação, precisamos combinar nossa atuação nas ruas e nas redes, disputando o imaginário da população nos territórios e da sociedade em geral. Também é preciso desenvolver um método de agitação e propaganda enraizado nos territórios, que contribua com a disputa de ideias e com o trabalho de base.
Entendemos que a comunicação popular, a agitação e propaganda e a cultura são dimensões que se relacionam e se complementam, essenciais para a construção de hegemonia e para enfrentar o principal desafio da nossa geração: derrotar a extrema direita.
Essas dimensões são estratégicas e estão diretamente ligadas ao nosso projeto político e forma de fazer luta. Por isso, reafirmamos a centralidade da construção da batalha ideológica, que dispute novas formas de ver o mundo, pautadas na solidariedade, na cultura popular, na coletividade e no respeito à diversidade.
Essas ferramentas são instrumentos indispensáveis na construção de uma nova sociedade. São armas nas mãos de uma juventude que constrói, com muita luta, nas universidades, escolas e periferias, um Brasil popular.
Coletivo Nacional de Comunicação Popular e Agitação e Propaganda do Levante Popular da Juventude.