Coluna da Jessy Dayane, via Brasil de Fato
A combinação da crise sanitária, com a crise econômica e a crise política seguem se aprofundando, e ainda sem sinais de resolução.
A quebra de braço entre os representantes da burguesia ganha intensidade nas últimas semanas com a saída de Moro e a acusação de que Bolsonaro vem tentando intervir na Política Federal (PF) para acobertar os crimes da família.
Enquanto isso o número de mortes por covid-19 cresce aceleradamente e a população tem dificuldades para acessar o auxílio emergencial. A sensação é de estarmos caminhando para o abismo, e na chuva. Mas afinal, o que de fato está acontecendo? E nós, esquerda brasileira, jogamos de que lado?
A saída de Moro aumenta a panela de pressão da crise política brasileira e o episódio da decisão do ministro Alexandre de Moraes suspender a nomeação de Alexandre Ramagem, indicado por Bolsonaro para direção da PF, demonstra como será a tensão sobre o governo por parte do setor lavajatista.
Por um lado, o que vimos nos últimos dias foi a intensificação do confronto entre Bolsonaro e parcela do judiciário junto com grande mídia e governadores, como Dória. Por outro, assistimos o rearranjo político de Bolsonaro com o centrão com o objetivo de consolidar uma base no congresso nacional e evitar a abertura do processo de impeachment.
Através desse movimento, Bolsonaro busca frear o isolamento institucional que crescia com as contradições geradas pela pandemia, assim como concentra mais poder na sua figura. Portanto, é importante observar que, com esse passo, Bolsonaro faz uma aposta de alto risco, pois parte da sua base se desloca por conta do seu acordo com o centrão e com a saída de Moro, a pesquisa realizada pela consultoria Atlas Político pela primeira vez aparece com maioria favorável ao impeachment (54%), e a aprovação de Moro cresce ao sair do governo (57%).
Mas, destaco que esse movimento ainda não desestabiliza a força bolsonarista na sociedade, o desgaste do governo diante de denúncias tão graves foi pequeno se considerarmos a gravidade do fato, a depender dos próximos capítulos essas leves mudanças podem se consolidar ou não.
Em contrapartida, caso se consolide o controle de Bolsonaro sobre a PF, teremos uma polícia política nas mãos da ala neofascista do governo. E nesse sentido, Bolsonaro avança em uma direção extremamente perigosa para nós, considerando que parte importante da sua base é armada, está enraizada nas polícias militares, têm incidência na base do exército, além da aliança com o alto comando das forças armadas que compõem o governo.
A pergunta que todo mundo se faz é “porque diante de tantas denúncias e conflitos o Bolsonaro não cai?”, a resposta que podemos dar no dia de hoje, é que mesmo diante de um inegável desgaste, Bolsonaro segue mantendo uma base estável na sociedade.
O que não temos elementos para responder ainda, é se esse conflito terá a capacidade de ampliar o desgaste a tal ponto que resulte numa perda considerável de base na sociedade, capaz de derrotar Bolsonaro enquanto liderança da ala neofascista.
Outro fator que deve ser considerado no desenrolar desta crise é o impacto do agravamento da crise sanitária, no momento em que o Brasil bate recorde de mortes por covid-19, com 474 óbitos registrados de segunda (27) para terça-feira (28). Nas últimas 24h foram registrados outros 449 novos casos.
Chegamos a 5.466 mortes, ultrapassando o número total de mortos por covid-19 na China. E, diante dessa notícia trágica, Bolsonaro respondeu com “e dai?”, como se o presidente do país não tivesse responsabilidade com a vida do povo ou como se não tivesse o que fazer. Nós sabemos que há sim o que fazer! Mas há uma decisão política por parte do governo de conduzir a epidemia de forma genocida.
Além disso, as medidas de proteção social aos trabalhadores para que a quarentena seja garantida são extremamente frágeis. O auxílio emergencial, que foi uma importante conquista, não tem chegado a todos que precisam devido à ineficiência do governo, e tem sido um foco de indignação da população.
Por ora, não é possível apontar o desfecho dessa crise, pois as contradições estão em desenvolvimento. Mas é possível afirmar que, para Bolsonaro consolidar uma base popular diante dessa crise, será necessário fazer gestos econômicos.
Ele não segura essa base exclusivamente com aberrações ideológicas, sem mudança na política econômica essa consolidação é improvável. E, caso a perda de base social se consolide, o caminho do autoritarismo está sendo construído a largos passos.
Também é possível afirmar que a quebra de braço entre os representantes da burguesia para conduzir a implementação do programa ultraliberal é o elemento dinamizador da luta de classes.
Nesse momento, são eles que protagonizam a iniciativa política. A esquerda segue na defensiva, porém não é correto afirmar que a esquerda está fora do jogo. Do ponto de vista da luta de massas estamos limitados e, por isso, nos restam as ações de agitação nas redes e janelas.
Mas, a atuação da esquerda no Congresso Nacional e nos governos do Nordeste, por exemplo, tem um papel importante na luta política. Na disputa do auxílio emergencial a esquerda foi fundamental para conseguir aumentar o valor de R$200 – que era a proposta do governo -, para de R$600 a R$1200; isso importa na vida do povo.
Assim como, os governos do Nordeste que suspenderam pagamentos de contas de água e luz e lançaram editais de cultura com programação nas plataformas digitais. Assim como, a ação do governador do Maranhão, Flávio Dino, que comprou respiradores diretamente da China, driblando o governo federal para proteger a saúde do povo que está sob sua responsabilidade.
Portanto, nós temos um papel nessa luta política, e devemos exercê-lo de forma a acumular força própria para a esquerda e, ao mesmo tempo desgastar, isolar e derrotar o neofascismo.
As ações de solidariedade vão consolidando nossos laços com o povo, enquanto a unidade da esquerda amplia a capacidade de apresentar nosso programa e obter algumas vitórias em torno dele, a exemplo da Plataforma Emergencial elaborada pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.
Além destas, também está em curso a Campanha Pela Taxação das Grandes Fortunas. Por fim, não podemos vacilar na posição de construir o máximo de amplitude para derrotar o neofascismo! Fora Bolsonaro!
Edição: Leandro Melito