O NOVEMBRO NEGRO E AS ELEIÇÕES ACABAM, MAS A LUTA É TODO DIA!

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“Nada a temer senão o correr da lutaNada a fazer senão esquecer o medo, medoAbrir o peito a força, numa procura”

– Milton Nascimento

Novembro de 2020 trouxe acontecimentos de grande relevância para o povo brasileiro. O mês no qual tradicionalmente se rende homenagem a Zumbi, Dandara e o Quilombo dos Palmares, dando maior visibilidade à pauta antirracista, presenciou mais um assassinato cruel e racista e a onda de protesto que se seguiu a ele. A morte de Beto Freitas, na véspera do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, novamente escancarou as profundas estruturas racistas do País, e o projeto de genocídio do povo negro. Em reação a este episódio brutal, as redes e as ruas de diversas cidades foram ocupadas, num sentimento de revolta e repúdio ao racismo estrutural presente na sociedade brasileira, defendendo um projeto que coloque o combate ao racismo e a todas as formas de opressão e desigualdade no centro da construção de nossa sociedade.

Também ocorreram nesse mês as eleições municipais em todo o Brasil. As primeiras após a eleição de Bolsonaro para a Presidência da República e realizadas em meio à pandemia de Covid-19, elas demonstraram que a derrota profunda das forças de esquerda que vem se desenhando desde o golpe de 2016 se mantém. Apesar de candidaturas expressivas e importantes que chegaram ao segundo turno em algumas das maiores capitais do Brasil, as forças progressistas ainda se mostram em grande medida frágeis. Por outro lado, mostraram-se como maiores vencedores da disputa eleitoral a direita neoliberal (como PSDB e DEM) e o chamado centrão – que hoje é a principal força de sustentação do governo Bolsonaro – além de um crescimento considerável da força política do campo neofascista e bolsonarista. O cenário desafiador enfrentado, com ataques pesados de fake news e grande dificuldade em dialogar com amplos setores do povo, revelam a urgência de um processo de reestruturação da esquerda que retome a centralidade do trabalho de base e a organização popular.

Tanto o Novembro Negro com as mobilizações antirracistas quanto as eleições municipais nos trazem lições importantes. Apesar de poderem ser encarados apenas como eventos ou fatos pontuais, são reflexos de processos muito mais amplos. Ambos também necessariamente demandam uma solução que não seja uma atuação pontual daquelas e daqueles que lutam contra as opressões e desigualdades. O Novembro Negro e o resultado dessas eleições apontam a necessidade da construção cotidiana de um projeto popular, antirracista e antipatriarcal.

Este projeto alternativo de sociedade só se viabilizará a partir do vínculo permanente entre esquerda e povo, o que necessariamente significa uma revisão da estratégia hoje predominante de foco quase exclusivo na disputa eleitoral e institucional. Reverter esse cenário de derrota das forças progressistas só será possível através de um trabalho perene, paciente e ousado de organização popular.Esse projeto alternativo também necessariamente deve resgatar as origens do povo brasileiro e relembrar seus lutadores. Foi nesse espírito de memória e inspiração que o Levante Popular da Juventude desenvolveu o projeto Negros e Negras Palosos da História, no qual militantes do nosso movimento fazem reinterpretações de importantes lutadoras e lutadores negras/os que contribuíram para pensar e transformar a realidade brasileira. Todas as fotos do projeto podem ser encontradas neste link: https://bit.ly/36sH2M9

No fim deste Novembro Negro e após estas difíceis eleições, relembramos a memória e a luta de Marighella, Helenira Rezende, Luiz Gama e tantas outras e outros que enfrentaram o racismo, o patriarcado e o sistema capitalista. Seguimos apesar das derrotas, com a certeza de que uma nova sociedade só se constrói no trabalho cotidiano junto ao povo. Convidamos todas e todos a conhecerem o Levante, se organizarem e a construírem conosco a luta popular, dentro e fora das redes e pr’além das eleições!

A NOSSA REBELDIA É O POVO NO PODER!

Setor Estadual de Negras e Negros de São Paulo